DA ESTREBARIA
PARA O DIA DE HOJE
Autor: Pastor
Egon Drewlo e uma jovem da juventude de
Ajuricaba
Um repórter entrevista várias pessoas na rua,
questionando-as sobre o sentido de Natal. O repórter pode ser o narrador de
todo o teatro. Se fosse possível, essa pessoa deveria expressar-se
naturalmente, não dependendo nem detendo-se em manuscritos.
Cenário: Primeiro,
o palco poderia ser dividido em duas cenas paralelas. Numa metade do palco, o
repórter estaria fazendo as entrevistas, enquanto que na outra m
possível montar cada cenário separadamente, inventando algo
criativo para o tempo em que as cortinas necessitem permanecer fechadas. O quarto
cenário também pode ser montado durante uma cena, com a cortina metade fechada
ou separadamente.
Personagens:
Repórter
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Um senhor idoso
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Uma dona-de-casa
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Uma criança
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Um comerciante
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Jovens cristãos (3)
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Um jovem
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Um policial
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Uma família com pai, mãe, filha e
filho
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Sr. Raimundo – sem-terra
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Marli
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Carlos
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Ricardo
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Paula
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Repórter (R):
Estamos mais uma vez escutando a voz do povo a respeito de um assunto que todos
conhecem. Estou falando da época que estamos vivendo. Todos estão em plenos
preparativos para o Natal. Anos vão se passando e algumas pessoas questionam: o
que é REALMENTE o Natal, o que isso SIGNIFICA? Por esse motivo resolvemos
escutar a opinião de muitas pessoas e ver o que elas acham que é o Natal.
Bem, vejamos as opiniões. Vamos conversar com aquele Sr. que
vem vindo. (Aponta para o Sr. idoso que vem se aproximando. No encontro com
cada personagem deve se improvisar alguma saudação que explique o motivo da
entrevista. Enquanto ocorre a entrevista, outras pessoas devem ficar passando
por perto. Talvez um ou outro querendo aparecer na televisão, outros passando e
mostrando interesse)
Repórter: Poderia
me dar um pouquinho da sua atenção?
Idoso: Pois não,
do que se trata?
Repórter: Para o
Sr., o que é realmente o Natal? O que o Sr. pensa a respeito do assunto?
Idoso: Ah! Meu jovem! Natal de verdade era aquele de
antigamente. Agora nem se quer parece
mais ser Natal. Antigamente, todos se reuniam, tinham tempo para conversar...
Lembro que na noite de Natal acontecia aquela festa...(nostálgico). Geralmente havia um pinheiro todo enfeitado... também
se ia para a igreja, ver a apresentação das crianças... É, a gente ia, toda a
família, era tão lindo... Hoje, nem sei onde estarão os meus filhos, estou
só... sem ninguém (pegando lenço,
enxugado as lágrimas que começam a brotar, sai caminhando cabisbaixo. O
repórter ainda lhe acena).
Repórter: Feliz
Natal! (em seguida procura outra pessoa
para entrevistar) Boa-noite, Sra. Posso perguntar-lhe o que é o Natal?
Dona de casa: (Cheia de compras de supermercado e
presentes)Nem me fale... é aquela correria... comprar presentes para todo
mundo, providenciar na ceia de Natal, arrumar a casa, enfeitar o pinheiro, sabe
de uma coisa? Eu dou graças a Deus quando isso acaba e podemos voltar a velha
rotina. Veja, que por mais que eu procure me antecipar nos preparativos, sempre
os últimos dias são tumultuados... é uma verdadeira loucura! Por falar nisso,
vou andando, pois tenho muito a fazer e estes pacotes estão cada vez mais
pesados.
Repórter: Obrigada,
senhora e Feliz Natal! ( Em seguida faz
um comentário para a camera, que realmente os dias parecem ser mais tumultuados,
pois as lojas estão lotadas de pessoas que escolhem presentes. Em seguida aborda
uma criança). Vamos ver o que este
garoto (ou garota) tem a nos dizer
sobre o Natal! E prá você amiguinho/a, o que é o Natal?
Criança: Sabe, eu
esperei o ano todo por isso, nestes dias tudo é maravilhoso, o melhor de tudo é
passear pela cidade, ver as lojas enfeitadas com pinheirinhos, presépios e
algumas tem até Papai Noel que distribui balas. Em casa a gente ganha
presentes, eu adoro isso.
Repórter: Está
bem, meu/minha garoto/a, obrigada...tchau! (Aproxima-se
de um comerciante) E para o Sr., o
que é o Natal? O que o Sr. faz?
Comerciante: Bem,
eu sou comerciante...
Repórter: Ah,
então o Sr. deve estar feliz nesta época de muitas vendas! Mas, o que é o Natal
para o Sr.?
Comerciante: Olha,
nunca parei para pensar no assunto, só sei dizer uma coisa: é uma época em que
a publicidade explode. As vendas aumentam bastante, apesar da crise... e tudo
isso fortalece a economia. No meu ramos é isso que realmente precisa acontecer.
Assim, sou um homem realizado. Eu procuro oferecer produtos que agradem a todos
e aumentar assim meu faturamento. Não sei profundamente o que é o Natal, mas
sei que com os lucros desta época até durmo melhor...
Repórter: Ok!
Obrigado! (E agora vira-se e fala para a
câmera) Senhores telespectadores, estamos nas ruas de nossa cidade para
ouvir do povo acerca do Natal e não esqueças os melhores presentes estão na
casa Serrana... E fique aqui para ficar melhor informado... Vamos falar agora
com esse/a jovem que se aproxima... Ei, cara, prá você, o que é Natal?
Jovem: Sabe,
bicho, eu só sei de uma coisa: são dias que a gente pode curtir à beça. Fazer
aquela festa e se divertir prá valer, sem essa de ficar em casa, só amassando o
sofá... o jeito é agitar a sair a mil por aí. Depois que a gente tá meio “alto
do chão” é tudo muito legal, parece que a gente tá no céu. Tô com todo programa montado com minha turma,
nós vamos agitar essa cidade nestes dias, mesmo se o coroa quer que a gente
fique em casa... com esse papo careta de reunião de família... Valeu cara, tchau!
Repórter: Tchau! (para a câmera) Olhem só, estão todos
mesmo se preparando para o feriadão e queremos avisar aqueles que viajarão
deixando a cidade: comunicado da rodoviária nos alerta que estão sendo
colocados ônibus extras para a praia, mas não perca tempo vá logo comprar sua
passagem para evitar desgostos de última hora... (Vendo um policial que ali caminha diz:) Vamos ouvir agora, este
representante da lei e da ordem. Seu guarda,
op que é Natal para o Sr.? São
dias como outros em sua profissão?
Policial: São
dias que as pessoas esquecem que devem ser prudentes e cuidadosas, são dias
que, segundo dados estatísticos, ocorre o maior número de acidentes nas
estradas. Todos querem ser donos das estradas e não respeitam pedestres e
sinalizações, assim, dias que deveriam ser de festa, acabam sendo dias de dor e
sofrimento para muitos. Eu gostaria de deixar meu apelo, aos senhores
telespectadores para que tomem cuidado e tenham realmente boas festas!
Repórter: Bem,
depois dessas opiniões os senhores podem ver que cada um tem a sua idéia a
respeito do Natal. Poderíamos reunir centenas de pessoas e cada uma teria uma
idéia diferente. Continuem conosco, voltamos após os comerciais. (Fecha-se metade da cortina. Neste tempo,
com a cortina metade fechada, prepara-se
o cenário para a terceira cena, no mesmo
espaço que o repórter ocupava)
Filha: (Família, assistindo televisão, numa sala de
estar) Puxa, mãe, lembrei-me que ainda não comprei um presente para minha
amiga. Que mancada... já pensou se esqueço?
Mãe: Mas minha
filha, nessa época de crise não se pode dar presente a todo mundo. Temos que
nos deter em presentear os amigos mais achegados e parentes. Mande um cartão
que além de ser muito mais comunicativo é também mais barato...
Filha: Eu pensei
nisso mãe, mas é que eu economizei bastante nos últimos tempos. Não vai ser
preciso pedir dinheiro pro papai, eu me arranjo.
Mãe: Manuel, não
se esqueça do pinheiro.,
Pai: Não te
preocupes, eu sei o que isso significa. Antigamente era a maior festa enfeitar
o pinheiro, era divertido, eu adorava. Quero proporcionar essa alegria para
meus filhos, nem que tenha que procurar um pinheiro lá nos confins da colônia.
Mãe: Você tem
razão. Sem pinheiro, Natal não é Natal. Por falar nisso, vou arrumar também o
presépio, para que minhas amigas possam vê-lo. Quero deixá-las babando de
inveja com a decoração do presépio e da própria casa... Tenho algumas idéias
que vão ficar uma beleza.
Filho: E por
falar em Natal, o que vou ganhar de presente? Será que já esqueceram que me
prometeram uma moto se eu passasse de não? Eu cumpri minha parte, espero que
cumpram a promessa de vocês.
Mãe: Eu sei meu
filho, mas tu também sabes que ninguém anda em condições financeiras boas, mas
eu nunca deixei de cumprir meus acordos. O consórcio está quase todo paga e
pode ser que até o Natal, a moto saia para nós.
Filha: Sabe de
uma coisa! Vamos dormir que está ficando tarde, amanhã temos que levantar cedo.
Além de tudo, esse programa está chato. Imagine só, ficar ouvindo esse papo
furado , tem cada opinião... só vendo prá acreditar.
Filho: Eu vou
ficar assistindo. Vou trocar de canal prá ver se encontro algum filme para
assistir. (Fecham-se as cortinas. Abre-se
a cortina, com o cenário da realidade dos sem-terra. Seu Raimundo com crianças
maltrapilhas agarradas em suas pernas e
uma mulher).
Repórter: Senhores
telespectadores, neste meio tempo nos deslocamos com nossa unidade móvel aqui
para o interior de nossa cidade onde encontramos seu Raimundo e sua família.
Sr. Raimundo, para o Sr. e sua família o que é o Natal?
Raimundo: Buenas,
Natal sempre foi uma alegria no tempo em que nós tinha nossa terrinha. Nós se
alegrava de festejar o aniversário de Jesus mesmo que modestamente. Hoje temos
somente as mãos calejadas e trabalhar para os outros.
Repórter: O que
vem a ser essa construção? (apontando
para um telhadinho)
Raimundo: Ali a
gente se reúne quando vem o pastor ou o padre. Nos reunimos e lemos a
Bíblia, aí a gente fica sabendo que Deus
caminhou com seu povo para a terra prometida... e terra prá nós é vida.
Repórter: Mas,
Sr. Raimundo, o governo já está cuidando
da situação de vocês...
Raimundo: É, mas
todos se vendem e nós não temos dinheiro prá comprar alguém para defender
nossas idéias. Estamos no deserto, é o
que lembro do último estudo bíblico. Mas temos que passar por esse deserto,
Jesus está bem perto de nós, ele também nasceu pobre e em dificuldades. Por
isso nós não podemos desanimar. O pastor disse que o Advento é a chegada de
Jesus ao mundo... que ele veio e virá... Para nós aqui no acampamento, Advento
e Natal é esperança de vida, vida que para nós é terra. (num ato de desprezo, o
repórter o interrompe
Fazendo um gesto rápido e pedindo os comerciais. (Fecham-se as cortinas pela metade e abre-se
o lado que estava sendo preparado. Um barzinho de gente jovem, com som e
bebidas)
Marli: (Chegando no bar enquanto que os outros três
já estão numa mesa) Que bom encontrar vocês, desde que terminou a aula na
faculdade nunca mais encontrei a turma... Os fins de semana estão uma chatice,
nem parece que estamos de férias.
Paula: Ora, pare
de reclamar, é só passar estas festas que o pessoal volta. Nestes feriados de
Natal todo mundo vai ver os familiares, por isso quase não encontramos
ninguém...
Carlos: Parece
que foi ontem a última festa de Natal... Uma festa que todos saíram do chão...
Ricardo: Vocês
assistiram aquelas entrevistas na televisão?
O repórter perguntava o que significa Natal prá cada um...
Carlos: Mas sabe,
eu nunca tinha parado prá pensar. Este programa até chamou minha atenção. Lá em
casa, por exemplo, tá a maior bagunça. É empregada prá todo lado, lavando,
pintando, arrumando os móveis, redecorando a casa... Eu nem consigo me sentir
bem no meu quarto... A mãe tem mania de revirar a casa todos os ano nessa
época. Só prá dar aquele tradicional jantar de família... Os parentes próximos
vêm... e nos obrigamos a fingir que está tudo bem... Eu fico imaginando de onde
eles tiram aquela cara-de-pau...
Marli: Qual é,
cara, deu uma de moralista agora? Desde quando tu ficas encucado com problemas
familiares?
Ricardo: É todo
mundo acaba, um dia, caindo na real, mas acaba mesmo é na fossa... Pois quando
se tenta mudar alguma coisa, acaba-se esbarrando num monte de gente. E na
maioria da vezes, ficamos cá com nossos botões... Somos forçados a deixar o
mundo rolar... O coroa lá de casa tá em
cima de mim: “Quando você vai virar gente? Crescer e ser alguém?”
Paula: É mesmo,
muitas vezes fico me questionando sobre tudo que me rodeia, mas existe tanta
coisa que acaba sufocando a gente! Todos pensam que nós jovens não temos
objetivos na vida, mas não nos deixam perseguir nossos intentos..., nem querem
conhecê-los... querem nos moldar ao modo de todos viverem...
Marli: Pôxa,
gente, que papo mais baixo-astral! Eu vim aqui para arejar a cuca e vocês
acabam me encucando ainda mais! Isso é papo prá se levar só daqui a alguns
anos...
Ricardo: Bom, prá
agradar gregos e troianos, já que a gente não consegue mudar a coisa... que tal
darmos umas voltinhas... vocês topam?
Todos: Vamos!
(Fecham-se as cortinas e reaparece o repórter)
Repórter: Senhores
telespectadores, agora queremos ouvir os jovens da igreja cristã, que previamente
contactamos para este encontro e diálogo. Eles querem nos clarear as idéias a
respeito do significado do Natal, com um fundamento bíblico-teológico, pois o
fundamento cristão está muitas vezes deturpado pelos anos e falta de
esclarecimentos.
Jovem 1: Senhores
e senhoras, vimos até aqui nessa reportagem, cenas onde o verdadeiro sentido de
Natal está quase ausente. Estas cenas nos mostraram que o sentido do Natal se
perde em coisas e costumes, os quais além de serem afazeres desgastantes,
deixam de ser refletidos em seu verdadeiro sentido e acabam deturpadas pelo
comércio e a exploração. Por exemplo, o
verde da árvore de Natal significa esperança e presença de vida – tal como na
primavera. Para nós, são esperanças e vida proclamadas por Jesus Cristo, o
Senhor do mundo.
Jovem 2: (Pegando o microfone). Também gostaria
de dizer que existem muitas pessoas que usam colocar na porta a coroa de
Advento. Seja em escritórios e estabelecimentos comerciais. Creio que muitos
não sabem o que significa. Com esta decoração estamos anunciando que o Senhor,
ou o menino nascido na estrebaria e à margem da sociedade daquela época e à
margem nos dias de hoje também, tem um reino infinito, ele é o Rei deste mundo
apesar de rechaço e repúdio da estrebaria e da cruz. (Faz um gesto de quem falou e disse e entrega o microfone ao repórter).
Repórter: Senhores
e senhoras, estamos aqui para saber mais
e queremos ouvir o que a igreja tem a dizer acerca do Natal!
Jovem 3: Nós
vemos que muitas pessoas que se dizem cristãs não vivem a “boa nova de
alegria” proclamada pelos anjos aos
pastores, porque separam a sua vida cotidiana da sua fé. Deixam Deus na estrebaria
e na cruz sem entender que isso não foi por acaso, Deus quis falar para dentro
de uma realidade que apresenta esses fatos diariamente – Deus, em seu filho
condenou estas realidades – não as justificou ou relevou!
Jovem 1: Mas nós
reconhecemos através da fé que temos que o Natal tem caráter de festa e
alegria, porém, sem deturpação do seu sentido. Esta alegria não pode nos levar
a esquecer os problemas que afligem nossa sociedade e os menos
favorecidos. Como o caso de Raimundo,
que por causa da ganância, em última análise, foi largado em sua situação.
Jovem 2: Por
isso, nós cristão e cristãs que convivemos nesta sociedade, também o Natal
significa arrependimento. Natal é
transformação na vida em palavras e ações diárias.
Jovem 3: Vejam
bem, Deus veio ao encontro de sua criatura e do mundo. Isto é amor e por isso
somos motivados e convidados a amar não só nossos convivas, mas principalmente,
aquele que é feito pela sociedade, um pequeno, um insignificante.
Jovem 1: Gente
querida, Natal apesar de tudo que nos oprime e entristece é um convite para
alegria. Alegria que se dá e se oferece nos 365 dias do ano.
Jovem 3: Para
nós, o que Cristo revelou é o amor que
tem por nós, antes de podermos agir, antes de podermos amar ele já amou
primeiro.. Por isso o Natal também é um convite à gratidão.
Jovem 2: Pensem
nisso... e não esqueçam do Natal nos 365 dias do ano.
Repórter: Temos
que encerar agora senhores e senhoras. Desejamos a todos um Feliz Natal!
FIM
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