NATAL - VIDA
DA GENTE
CENA I
Ela se desenrola na sala de uma casa normal. Estão todas as
pessoas estão sentadas, olhando TV.
Maristela: Que
droga! Nem na noite de Natal tem algo melhor pra se fazer. Ficar olhando
televisão... Que coisa sem graça.
Pai: Calma, minha
filha. É assim mesmo.
Mãe: É Maristela.
Natal é festa da paz. Momento em que as pessoas se unem para lembrar o nascimento
de Jesus Cristo.
Pai: É tão lindo
ver todos juntos, uns irmãos dos outros. Olha lá, até o presidente vai dizer
alguma coisa agora... (o pai se levanta e
vai dar volume no aparelho de TV).
Voz da TV:
Querida gente do Brasil! Hoje é Natal. Data maravilhosa. Festa em todo os
lares. Todos somos irmãos neste gigante país. Vivemos em paz. Paz que levou à
uma superprodução de grãos novamente neste ano que está chegando ao fim. Paz
que podemos sentir no campo, na cidade. Paz que... (apagam-se as luzes!)
Roberto: Ainda
bem que a luz se foi. Não agüentava mais escutar isso, aí, estas bobagens
todas. Ele diz isto porque não está aqui com a gente, na luta do dia-a-dia.
Estevão: Pai, por
que morre tanta gente de fome no Brasil se sempre se tem uma superprodução?
Pai: Que é isto?
Hoje, Natal, agora não é momento de se falar disso...
Maristela: E
agora. Vamos fazer o que? Já estava tudo um saco antes. Agora piorou. E se a
luz não voltar logo, nem vai ter mais o baile... (neste
tempo, a mãe volta com algumas velas). Ei, eu tenho uma idéia: Que tal se a
gente encenasse a história do Natal?...
Roberto: De novo
aquela história de estrebaria, pastores, anjos?...
Estevão: Não,
mano. Eu estava pensando em outra coisa que também aconteceu na época do
nascimento de Jesus. Tem na Bíblia, (pega
a Bíblia que está em cima da mesa) aqui, é, em Lucas 1.46-55. São palavras muito bonitas que dá pra gente encenar.
Eu vou ler elas pra vocês. (todos se
juntam em volta de Estevão, que lê o texto - faz-de-conta - apenas pra
família).
Mãe: Mas não vai
ser muito difícil fazer isto? Eu nem tenho estudado pra essas coisas...
Estevão: Que é
isso, mãe! Vai dar, sim. Vamos experimentar?
Todos: Vamos! (saem todos de cena, deixando o cenário
vazio).
CENA II
Nesta cena, que
acontece num pátio, num jardim, Maristela faz o papel de Maria, a mãe o de Isabel
e Roberto é o Anjo. Maria está caminhando entristecida pelo pátio. Ao encontro
dela vem o Anjo.
Anjo: Oi! Tu és a
Maria?
Maria: Sim, sou
eu!
Anjo: Que bom que te encontrei. Mas que cara é esta, Maria?
Alegra-te, fica feliz! Tu és favorecida, pois Deus está contigo!
Maria: Mas por
que me dizes isto? É alguma brincadeira?
Anjo: Que nada
Maria. É que de ti vai nascer uma criança que será chamada Filho de Deus. E ela
vai reinar para sempre entre o povo que luta ansiosamente pela vida de paz e
justiça.
Maria: Mas
como vai nascer alguém de mim se eu nem
estou grávida?
Anjo: Maria, Deus
tem poder para que isto possa acontecer.
Maria: Mas porque
justamente comigo vai acontecer uma coisa destas? Por que comigo, mulher pobre
aqui desta pobre vila de Nazaré? (o anjo ameaça ir embora. Percebendo isso,
Maria prossegue...)
Maria: Aqui está
a servidora do Senhor. Que se cumpra em mim conforme a tua palavra. (o anjo sai do cenário. Maria caminha pelo
cenário, dando a idéia de uma longa caminhada a fim de se encontrar com Isabel.
Isabel entra em cena)
Isabel: Oi,
Maria. Que bom que tu veio!
Maria: Oi,
Isabel. Queria ver como tu estás. Já
está quase pronto o enxoval de teu nenê? (Maria
vai chegando perto de Isabel para ver o que ela tem nas mãos).
Isabel: Quase.
Queres ver? (mostra algumas peças para
Maria) Nossa, o nenê deu um chute forte...
Maria: Talvez
seja pra mostrar que ele também quer conversar com a gente!
Isabel: Maria,
faz tempo que eu quero te dizer alguma coisa. E hoje me deu coragem. Sabe,
Maria, tu és bendita entre nós, mulheres. E bendito é também o teu filho que
vai nascer! (Maria e Isabel se
abraçam) (o grupo canta a “Canção de
Maria”).
CENA III
(volta-se para sala
onde a família está novamente reunida)
Estevão: (contente) Viu só como a gente conseguiu
encenar esta história!
Pai: Pois é. Eu
fiquei olhando o tempo todo...
Roberto: Sabe, eu
nunca tinha prestado atenção nesta história da Bíblia. Nunca me interessei por
esta história destas duas mulheres, a Maria e a Isabel.
Mãe: E como esta
história é verdadeira. Quando estava representando a Isabel, me lembrei que,
quando eu estava esperando cada um de vocês, eu também me juntava com minhas
amigas pra conversar sobre o enxoval, sobre a gravidez, sobre tantas coisas de
mulher. Até nas reuniões da comunidade a gente falava disso, das nossas
alegrias, dos nossos problemas...
Maristela: O que
mais me chamou atenção foi aquela canção de Maria. Como aquilo tudo que ela
cantou está perto da nossa realidade. As coisas ruins que ela canta são as
mesmas coisas ruins que a gente sente nos dias de hoje.
Estevão: É mesmo:
poderosos, ricos, opressores. E a gente fica feliz ao saber que todos eles são
derrotados, que Deus está junto com o seu povo que luta para viver a vida
verdadeira.
Maristela: E mais
bonito é que quem descobre isto é uma mulher. É ela que sente tudo isto, é ela
que canta a vida...
Mãe: É mesmo. E
ela era pobre, de uma vila pobre. Talvez nem tinha estudo...
Maristela: Que
nem a senhora, mãe. Que nem a gente que só tem até a 4o série porque
os poderosos de hoje não querem que a gente fique sabendo das coisas...
Pai: Eu estava
aqui pensando. Interessante é que a Maria e a Isabel não tiveram vergonha de se
juntar e dizer uma para a outra o que estavam sentindo. E me lembrando de
outras histórias que aconteceram na época de Jesus, também dá para ver que o
pessoal discutia seus problemas, suas dificuldades e Jesus aconselhava e
mostrava o que tinha que ser feito na vida aqui na terra. As alegrias também
eram festejadas em conjunto. E nós, hoje, somos completamente diferentes.
Pensamos cada um por si, ninguém se preocupa com o outro. Até eu fiz isto
agorinha mesmo, quando o Estevão perguntou porque morria tanta gente no país de
superprodução. Estas duas mulheres, Maria e Isabel, me ensinaram, de novo, qual
é a nossa tarefa como comunidade do povo de Deus.
Roberto: (abraçando-se ao pai) Que bom que a
gente descobriu tudo isto. Que Natal bonito! Natal da gente mesmo. A gente
descobriu de novo que Deus escolhe as pessoas fracas, pobres, para mostrar o
seu amor.
Mãe: E não é só
isso, filho. Deus está com a gente, nos dando forças para lutar pela vida a fim
de que o “rei” possa reinar sempre.
Pai: Natal é vida
da gente - vida da gente...
Maristela: Da
Maria, mulher e pobre, nasce a vida. Vida verdadeira para o povo de Deus. Vida
que é justiça, comida, escola, terra, casa, trabalho, organização, libertação...
Vida que é vida. Vida que é... (volta a luz!)
TODOS: A luz
voltou!
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