sexta-feira, 4 de novembro de 2016

Natal 08

NATAL - VIDA DA GENTE
CENA I
Ela se desenrola na sala de uma casa normal. Estão todas as pessoas estão sentadas, olhando TV.
Maristela: Que droga! Nem na noite de Natal tem algo melhor pra se fazer. Ficar olhando televisão... Que coisa sem graça.
Pai: Calma, minha filha. É assim mesmo.
Mãe: É Maristela. Natal é festa da paz. Momento em que as pessoas se unem para lembrar o nascimento de Jesus Cristo.
Pai: É tão lindo ver todos juntos, uns irmãos dos outros. Olha lá, até o presidente vai dizer alguma coisa agora... (o pai se levanta e vai dar volume no aparelho de TV).
Voz da TV: Querida gente do Brasil! Hoje é Natal. Data maravilhosa. Festa em todo os lares. Todos somos irmãos neste gigante país. Vivemos em paz. Paz que levou à uma superprodução de grãos novamente neste ano que está chegando ao fim. Paz que podemos sentir no campo, na cidade. Paz que... (apagam-se as luzes!)
Roberto: Ainda bem que a luz se foi. Não agüentava mais escutar isso, aí, estas bobagens todas. Ele diz isto porque não está aqui com a gente, na luta do dia-a-dia.
Estevão: Pai, por que morre tanta gente de fome no Brasil se sempre se tem uma superprodução?
Pai: Que é isto? Hoje, Natal, agora não é momento de se falar disso...
Maristela: E agora. Vamos fazer o que? Já estava tudo um saco antes. Agora piorou. E se a luz não voltar logo, nem vai ter mais o baile...  (neste tempo, a mãe volta com algumas velas). Ei, eu tenho uma idéia: Que tal se a gente encenasse a história do Natal?...
Roberto: De novo aquela história de estrebaria, pastores, anjos?...
Estevão: Não, mano. Eu estava pensando em outra coisa que também aconteceu na época do nascimento de Jesus. Tem na Bíblia, (pega a Bíblia que está em cima da mesa) aqui, é, em Lucas 1.46-55. São palavras muito bonitas que dá pra gente encenar. Eu vou ler elas pra vocês. (todos se juntam em volta de Estevão, que lê o texto - faz-de-conta - apenas pra família).
Mãe: Mas não vai ser muito difícil fazer isto? Eu nem tenho estudado pra essas coisas...
Estevão: Que é isso, mãe! Vai dar, sim. Vamos experimentar?
Todos: Vamos! (saem todos de cena, deixando o cenário vazio).

CENA II
Nesta cena, que acontece num pátio, num jardim, Maristela faz o papel de Maria, a mãe o de Isabel e Roberto é o Anjo. Maria está caminhando entristecida pelo pátio. Ao encontro dela vem o Anjo.
Anjo: Oi! Tu és a Maria?
Maria: Sim, sou eu!
Anjo: Que bom que te encontrei. Mas que cara é esta, Maria? Alegra-te, fica feliz! Tu és favorecida, pois Deus está contigo!
Maria: Mas por que me dizes isto? É alguma brincadeira?
Anjo: Que nada Maria. É que de ti vai nascer uma criança que será chamada Filho de Deus. E ela vai reinar para sempre entre o povo que luta ansiosamente pela vida de paz e justiça.
Maria: Mas como  vai nascer alguém de mim se eu nem estou grávida?
Anjo: Maria, Deus tem poder para que isto possa acontecer.
Maria: Mas porque justamente comigo vai acontecer uma coisa destas? Por que comigo, mulher pobre aqui desta pobre vila de Nazaré?  (o anjo ameaça ir embora. Percebendo isso, Maria prossegue...)
Maria: Aqui está a servidora do Senhor. Que se cumpra em mim conforme a tua palavra. (o anjo sai do cenário. Maria caminha pelo cenário, dando a idéia de uma longa caminhada a fim de se encontrar com Isabel. Isabel entra em cena)
Isabel: Oi, Maria. Que bom que tu veio!
Maria: Oi, Isabel.  Queria ver como tu estás. Já está quase pronto o enxoval de teu nenê? (Maria vai chegando perto de Isabel para ver o que ela tem nas mãos).
Isabel: Quase. Queres ver? (mostra algumas peças para Maria) Nossa, o nenê deu um chute forte...
Maria: Talvez seja pra mostrar que ele também quer conversar com a gente!
Isabel: Maria, faz tempo que eu quero te dizer alguma coisa. E hoje me deu coragem. Sabe, Maria, tu és bendita entre nós, mulheres. E bendito é também o teu filho que vai nascer! (Maria e Isabel se abraçam)  (o grupo canta a “Canção de Maria”).

CENA III
(volta-se para sala onde a família está novamente reunida)
Estevão: (contente) Viu só como a gente conseguiu encenar esta história!
Pai: Pois é. Eu fiquei olhando o tempo todo...
Roberto: Sabe, eu nunca tinha prestado atenção nesta história da Bíblia. Nunca me interessei por esta história destas duas mulheres, a Maria e a Isabel.
Mãe: E como esta história é verdadeira. Quando estava representando a Isabel, me lembrei que, quando eu estava esperando cada um de vocês, eu também me juntava com minhas amigas pra conversar sobre o enxoval, sobre a gravidez, sobre tantas coisas de mulher. Até nas reuniões da comunidade a gente falava disso, das nossas alegrias, dos nossos problemas...
Maristela: O que mais me chamou atenção foi aquela canção de Maria. Como aquilo tudo que ela cantou está perto da nossa realidade. As coisas ruins que ela canta são as mesmas coisas ruins que a gente sente nos dias de hoje.
Estevão: É mesmo: poderosos, ricos, opressores. E a gente fica feliz ao saber que todos eles são derrotados, que Deus está junto com o seu povo que luta para viver a vida verdadeira.
Maristela: E mais bonito é que quem descobre isto é uma mulher. É ela que sente tudo isto, é ela que canta a vida...
Mãe: É mesmo. E ela era pobre, de uma vila pobre. Talvez nem tinha estudo...
Maristela: Que nem a senhora, mãe. Que nem a gente que só tem até a 4o série porque os poderosos de hoje não querem que a gente fique sabendo das coisas...
Pai: Eu estava aqui pensando. Interessante é que a Maria e a Isabel não tiveram vergonha de se juntar e dizer uma para a outra o que estavam sentindo. E me lembrando de outras histórias que aconteceram na época de Jesus, também dá para ver que o pessoal discutia seus problemas, suas dificuldades e Jesus aconselhava e mostrava o que tinha que ser feito na vida aqui na terra. As alegrias também eram festejadas em conjunto. E nós, hoje, somos completamente diferentes. Pensamos cada um por si, ninguém se preocupa com o outro. Até eu fiz isto agorinha mesmo, quando o Estevão perguntou porque morria tanta gente no país de superprodução. Estas duas mulheres, Maria e Isabel, me ensinaram, de novo, qual é a nossa tarefa como comunidade do povo de Deus.
Roberto: (abraçando-se ao pai) Que bom que a gente descobriu tudo isto. Que Natal bonito! Natal da gente mesmo. A gente descobriu de novo que Deus escolhe as pessoas fracas, pobres, para mostrar o seu amor.
Mãe: E não é só isso, filho. Deus está com a gente, nos dando forças para lutar pela vida a fim de que o “rei” possa reinar sempre.
Pai: Natal é vida da gente - vida da gente...
Maristela: Da Maria, mulher e pobre, nasce a vida. Vida verdadeira para o povo de Deus. Vida que é justiça, comida, escola, terra, casa, trabalho, organização, libertação... Vida que é vida. Vida que é... (volta a luz!)
TODOS: A luz voltou!


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