sexta-feira, 4 de novembro de 2016

A GRANDE NOTÍCIA

A GRANDE NOTÍCIA
Personagens: Glória (mãe); Yanaros (pai); Helena (filha); Rafael (filho - pastor); Kaloni (amigo de Rafael); Mulien (amiga de Helena); Anjo.
Cenários: Em dois ângulos. No 1º, uma casa muito pobre. Usar somente uma mesa e cadeiras rústicas. No 2º, espaço limpo para cenário imaginário, ou seja: montes, céu estrelado … .
Indumentárias: Túnicas e mantos rústicos, mas arranjados de modo alegre e bonito no quadro geral. O anjo vestirá roupas brancas e, se possível, com colagens de papel laminado branco o que dará maior brilho à roupa. Usará ainda em torno da cabeça uma cartolina trabalhada em papel laminado dando idéia de auréola ou luz sobre a cabeça.
Acessórios: Uma jarra rústica. Boa quantidade de flores (pequenas, como egípcias) que Mulien trará quando entrar em cena.
(Ao começar a peça estará em cena Yanaros e Helena. Ambos aparentam preocupação. Yanaros está sentado tendo um dos cotovelos sobre o joelho e a mão amparando a fronte, o rosto cabisbaixo.)
Helena - (Aproximando-se do pai e toca-lhe suavemente o ombro). Muito cansado, não é, meu pai?
Yanaros - (Olhando a filha sorri, tristemente). Sim, um pouco, filha. O trabalho nos campos está muito pesado ultimamente. É a época das colheitas … .
Helena - Por que o Senhor não fica em casa por uns dias, para descansar?
Yanaros - (Levanta-se). Quem somos nós, Helena, para descansar. Veja sua mãe, coitada. Trabalhou tanto … e agora a doença está acabando com ele, dia a dia.
Helena - (Triste). Pobre mamãe. Sempre lhe disse que não deveria sobrecarregar-se tanto nas lavouras.
Yanaros - Todos estamos sobrecarregados. Seu irmão até agora não voltou de apascentar ovelhas no campo. E já é noite alta.
Helena - Não se preocupe, meu pai. Rafael é jovem e cheio de Saúde.
Yanaros - Tem razão, Helena. Acho que o que tenho é tão somente velhice.
Helena - (Sorri). Não fale assim. O Senhor ainda é o homem mais bonito que eu conheço. (De dentro ouve-se a voz cansada de Glória).
Glória - Yanaros! Por favor, venha ajudar-me.
Helena - É mamãe, vamos.
Yanaros - Sim, ela precisa de nós. (Saem. Em seguida Mulien entra pela porta que dá para a rua, entra o Público, trazendo uma braçada de flores).
Mulien - (No centro de cena). Ora, onde estão os meus amigos? Helena, Helena, onde está você? (Entram pela porta dos fundos: Helena e Yanaros que ajudam Glória a caminhar).
Glória - (Sorrindo). Ora, seja bem-vinda, Mulien querida. Que flores bonitas! (Sente-se auxiliada pelos demais).
Mulien - Colhi há pouco em nosso jardinzinho. Sai que a senhora e Helena gostam muito. (Entrega as flores para Helena que providencia colocá-las no jarro que está sobre a mesa).
Glória - Pronto. Agora a nossa casa está mais bonita, pelas flores e pela sua presença, amiga.
Mulien - (Sorri timidamente). Gentileza sua, senhora. Mas diga, como tem passado?
Glória - Melhor, um pouco melhor. Na verdade, ainda não podia deixar o leito. Ainda sinto vertigens. Mas pedi-lhes que me trouxessem aqui de onde se vê melhor o céu, que hoje está belíssimo! (Aponta para o alto, ao longe). Veja, que luar, e quantas estrelas! Não é magnífico?
Helena - Na verdade está uma noite bonita, sim.
Mulien - (Para Glória). Então a senhora também gosta de ficar olhando o céu, não é. Eu tenho este hábito desde criança.
Yanaros - É uma pena que debaixo de um céu tão bonito haja tanta tristeza, tanta maldade.
Glória - Meu querido Yanaros … Você está se tornando um homem muito triste.
Yanaros - (Enraivecido) Não é para menos! Trabalhamos tanto, de sol a sol e nada temos. Falta-nos às vezes até o pão, embora cuidemos da terra, que é tão rica.
Mulien - Infelizmente, a terra não é nossa. A terra parece pertencer sempre aos ricos. A nós cabe cuidar dela, sem receber nada em troca. Meu pai também, coitado, está tão doente que tenho uma enorme tristeza ao vê-lo sair, todos os dias para um trabalho tão penoso.
Helena - A mim também preocupa a nossa situação. Somos um povo grandemente oprimido pelos poderosos e não temos outra saída senão continuar aceitando sempre o que eles nos impõem.
Yanaros - (Revoltado). Aceitar, aceitar! Até quando? Até quando veremos os nossos morrendo pelo trabalho sem ao menos ter o dinheiro de ser assistidos pelos médicos da cidade? Até quando cuidaremos dos rebanhos para que eles se fartem de carne e da gordura enquanto a nós cabe apenas roer pedaços de pão, da pior qualidade?
Glória - (Levanta-se e dirige-se a Yanaros). Yanaros, por favor, não fale assim! Não deixe que o desespero tome conta do seu coração (toca-lhe o rosto com carinho). Ouça, meu querido, algo me diz que deve existir uma esperança para todos nós. Não sei exatamente de onde virá, mas creio firmemente que tudo há de mudar um dia. (Mostra-se cansada e senta-se).
Helena - Mãezinha, agora precisa voltar ao leito. Vamos, nós o ajudaremos. Amanhã prometo trazê-la para ver o nascer do sol.
Glória - O nascer do sol! Que maravilha pensar que amanhã o verei novamente. Você está certa, filha, vou descansa.
FECHA
 (Saem todos pela porta que dá para os fundos. No outro ângulo do cenário, por outra porta aparecem Rafael e Kaloni, sob luz fraca).
Rafael - Quanto trabalho, heim amigo? E logo hoje aquelas ovelhas resolveram perder-se.
Kaloni - (Limpando com a mão o suor do rosto). Felizmente as encontramos, embora tivéssemos corrido tanto perigo naqueles penhascos.
Rafael - Ai de nós se não as encontrássemos. Nossos patrões descontariam meses de nosso salário que já é tão pequeno.
Kaloni - (Irado) Que vida a nossa! Estamos perdendo a nossa mocidade no trabalho entre essas montanhas. E a mocidade passa tão depressa.
Rafael -  Eu penso o mesmo, Kaloni, e não nego que me sinta revoltado. Eu quero ser um poeta conhecido e mal tenho tempo de rabiscar meus versos e guardá-los em casa.
Kaloni - Versos! Nós não temos direito a essas coisas, Rafael; nossa vida será sempre esta rotina estúpida, esta mesmice.
Rafael - (Olha para o céu). Veja amigo, que noite esplêndida, a de hoje. As estrelas parecem lâmpadas no céu.
Kaloni - (Ri, com ironia). Que me importa o céu e as estrelas. Você e suas manias não temos tempo para essas coisas. (Música forte. Aumentam as luzes e surge o anjo, se possível em plano mais elevado. Kaloni e Rafael demonstram medo).
Kaloni - (Muito assustado). Quem … quem é você? O que quer?
Anjo - “Não temais! Porque eis aqui trago novas de grande alegria que será para todo o povo”.
Rafael - Alegria para todo o povo?
Anjo - “Na cidade de Davi vos nasceu hoje o Salvador, que é Cristo, o Senhor”.
Kaloni - O Messias? Aquele de que falam as Escrituras?
Anjo - “E isso vos será por sinal: achareis o Menino enrolado em panos e deitado numa manjedoura”. (Sai pela porta q dá para a rua, entre o público com a mão elevada em sinal de bênção). “Glória a Deus nas alturas, paz na terra, boa vontade para com os homens”.
Rafael - (Após saída do anjo com grande alegria, sacudindo os ombros de Kaloni).Ora, viva, Kaloni, meu bom amigo! … Algo de novo aconteceu. Novo e magnífico! Nasceu o Cristo Jesus.
Kaloni - (Abraça o amigo). A felicidade chegou, afinal, para os pobres e para os tristes, amigo! (Eufórico). Vamos, vamos depressa até Belém.
Rafael - (Saindo pela porta da rua em companhia de Kaloni). Sim, vejamos isto que o Senhor nos fez saber. Vamos amigo, que a tristeza acabou, para sempre.
FECHA
(Após a saída dos dois, voltam a cena em casa Mulien e Helena).
Helena - Que pena que precise ir, Mulien.
Mulien - É noite alta, Helena, e além do mais os meus devem estar apreensivos com a minha demora. (A esta altura entram correndo pela porta que dá para rua, Kaloni e Rafael).
Rafael - (Quase sufocado pelo cansaço). Onde estão meu pai … e a mamãe? (Grita). Papai, depressa! (Entra Yanaros e Glória que caminha com dificuldade).
Yanaros - Que gritos são esses a esta hora da noite? Rafael? Assustou sua mãe.
Rafael - (Abraça a mãe). Minha mãe querida, prepare-se para uma notícia maravilhosa!
Glória - (Sorrindo). Mas que notícia, filho? O que houve, meu poeta?
Rafael - Nasceu o Messias tão esperado pelo mundo. Ele nasceu, meus amados!
(MÚSICA FORTE)
Yanaros - O Cristo de Deus? Não estará você sonhando?
Kaloni - Não Yanaros. É mesmo verdade: nasceu o Príncipe da Paz, de que falam as Escrituras. Nós o vimos, pois fomos até Belém.
Helena - Em Belém? Oh, conte-nos, como é ele?
Rafael - (Para a irmã). Uma bela criança, minha irmã. Nós o encontramos enrolado em panos, deitado numa manjedoura, e vimos Maria e José.
Mulien - Mas como souberam da notícia?
Kaloni - (Muito feliz). Imaginem! Estávamos descansando do trabalho de pastorear o rebanho, quando … (Fica impedido de falar pela emoção).
Rafael - (para Kaloni). Compreendo sua emoção, companheiro, não é mesmo fácil lembrar tanta felicidade.
Kaloni - (Recobrando-se). Um anjo! Um anjo do Senhor nos apareceu em todo o seu esplendor. Veio anunciar-nos o que acontecera.
Glória - (Feliz e ágil, sem aparentar mais a doença). Que alegria, filhos, que grande alegria! Jesus nasceu! … .
Yanaros - (Percebendo que a mulher está curada). Glória querida, o que houve? Você está bem.
Glória - Não sinto mais nada, bom Yanaros. Quem poderá sentir-se doente diante desta notícia que nos causa tamanha felicidade?
Mulien  e  Helena - (Abraçando a Glória). Que bom, que noite feliz!
Yanaros - Esta é uma noite diferente, filhos, a mais feliz de nossas vidas. Agora, embora tenhamos de suportar o fardo pesado dos nossos dias difíceis, temos uma esperança.
Glória - Eu não disse? A esperança é Cristo Jesus, que nasceu hoje em Belém.
Rafael - (Olhando para o céu). É o Natal, irmãos, o primeiro Natal.
Helena - A noite feliz, a mais feliz de todas! A noite do Menino Jesus.
Mulien - Oh, cantemos, irmãos, para celebrar este acontecimento que mudou o rumo de nossas vidas. Jesus nasceu.
Yanaros - (Tira o manto para dar idéia final de peça e dirige-se a toda a Igreja). Sim, irmãos, cantemos o hino ........... de nosso hinário. (Enquanto todos cantam, de pé, todos os personagens, inclusive o anjo, voltam a cena. Tiram do jarro as flores, distribuem entre si, sorrindo e depois passam a distribuí-los pela Igreja. Mesmo despedaçados. E sempre cantando).


Nenhum comentário:

Postar um comentário