A GRANDE
NOTÍCIA
Personagens: Glória
(mãe); Yanaros (pai); Helena (filha); Rafael (filho - pastor); Kaloni (amigo de
Rafael); Mulien (amiga de Helena); Anjo.
Cenários:
Em dois ângulos. No 1º, uma casa muito pobre. Usar somente uma mesa e cadeiras
rústicas. No 2º, espaço limpo para cenário imaginário, ou seja: montes, céu
estrelado … .
Indumentárias:
Túnicas e mantos rústicos, mas arranjados de modo alegre e bonito no quadro
geral. O anjo vestirá roupas brancas e, se possível, com colagens de papel
laminado branco o que dará maior brilho à roupa. Usará ainda em torno da cabeça
uma cartolina trabalhada em papel laminado dando idéia de auréola ou luz sobre
a cabeça.
Acessórios:
Uma jarra rústica. Boa quantidade de flores (pequenas, como egípcias) que
Mulien trará quando entrar em cena.
(Ao começar a peça
estará em cena Yanaros e Helena. Ambos aparentam preocupação. Yanaros está
sentado tendo um dos cotovelos sobre o joelho e a mão amparando a fronte, o
rosto cabisbaixo.)
Helena - (Aproximando-se do pai e toca-lhe suavemente
o ombro). Muito cansado, não é, meu pai?
Yanaros - (Olhando a filha sorri, tristemente).
Sim, um pouco, filha. O trabalho nos campos está muito pesado ultimamente. É a
época das colheitas … .
Helena - Por que
o Senhor não fica em casa por uns dias, para descansar?
Yanaros - (Levanta-se).
Quem somos nós, Helena, para descansar. Veja sua mãe, coitada. Trabalhou tanto
… e agora a doença está acabando com ele, dia a dia.
Helena - (Triste). Pobre mamãe. Sempre lhe disse
que não deveria sobrecarregar-se tanto nas lavouras.
Yanaros - Todos
estamos sobrecarregados. Seu irmão até agora não voltou de apascentar ovelhas
no campo. E já é noite alta.
Helena - Não se
preocupe, meu pai. Rafael é jovem e cheio de Saúde.
Yanaros - Tem
razão, Helena. Acho que o que tenho é tão somente velhice.
Helena - (Sorri). Não fale assim. O Senhor ainda
é o homem mais bonito que eu conheço. (De
dentro ouve-se a voz cansada de Glória).
Glória - Yanaros!
Por favor, venha ajudar-me.
Helena - É mamãe,
vamos.
Yanaros - Sim,
ela precisa de nós. (Saem. Em seguida
Mulien entra pela porta que dá para a rua, entra o Público, trazendo uma
braçada de flores).
Mulien - (No centro de cena). Ora, onde estão os
meus amigos? Helena, Helena, onde está você? (Entram pela porta dos fundos: Helena e Yanaros que ajudam Glória a
caminhar).
Glória - (Sorrindo). Ora, seja bem-vinda, Mulien
querida. Que flores bonitas! (Sente-se
auxiliada pelos demais).
Mulien - Colhi há
pouco em nosso jardinzinho. Sai que a senhora e Helena gostam muito. (Entrega as flores para Helena que
providencia colocá-las no jarro que está sobre a mesa).
Glória - Pronto.
Agora a nossa casa está mais bonita, pelas flores e pela sua presença, amiga.
Mulien - (Sorri timidamente). Gentileza sua,
senhora. Mas diga, como tem passado?
Glória - Melhor,
um pouco melhor. Na verdade, ainda não podia deixar o leito. Ainda sinto
vertigens. Mas pedi-lhes que me trouxessem aqui de onde se vê melhor o céu, que
hoje está belíssimo! (Aponta para o alto,
ao longe). Veja, que luar, e quantas estrelas! Não é magnífico?
Helena - Na
verdade está uma noite bonita, sim.
Mulien - (Para Glória). Então a senhora também
gosta de ficar olhando o céu, não é. Eu tenho este hábito desde criança.
Yanaros - É uma
pena que debaixo de um céu tão bonito haja tanta tristeza, tanta maldade.
Glória - Meu
querido Yanaros … Você está se tornando um homem muito triste.
Yanaros - (Enraivecido) Não é para menos!
Trabalhamos tanto, de sol a sol e nada temos. Falta-nos às vezes até o pão,
embora cuidemos da terra, que é tão rica.
Mulien - Infelizmente,
a terra não é nossa. A terra parece pertencer sempre aos ricos. A nós cabe
cuidar dela, sem receber nada em troca. Meu pai também, coitado, está tão
doente que tenho uma enorme tristeza ao vê-lo sair, todos os dias para um
trabalho tão penoso.
Helena - A mim
também preocupa a nossa situação. Somos um povo grandemente oprimido pelos
poderosos e não temos outra saída senão continuar aceitando sempre o que eles
nos impõem.
Yanaros - (Revoltado). Aceitar, aceitar! Até
quando? Até quando veremos os nossos morrendo pelo trabalho sem ao menos ter o
dinheiro de ser assistidos pelos médicos da cidade? Até quando cuidaremos dos
rebanhos para que eles se fartem de carne e da gordura enquanto a nós cabe
apenas roer pedaços de pão, da pior qualidade?
Glória - (Levanta-se e dirige-se a Yanaros).
Yanaros, por favor, não fale assim! Não deixe que o desespero tome conta do seu
coração (toca-lhe o rosto com carinho).
Ouça, meu querido, algo me diz que deve existir uma esperança para todos nós.
Não sei exatamente de onde virá, mas creio firmemente que tudo há de mudar um
dia. (Mostra-se cansada e senta-se).
Helena - Mãezinha,
agora precisa voltar ao leito. Vamos, nós o ajudaremos. Amanhã prometo trazê-la
para ver o nascer do sol.
Glória - O nascer
do sol! Que maravilha pensar que amanhã o verei novamente. Você está certa, filha,
vou descansa.
FECHA
(Saem todos pela porta que dá para os fundos. No outro ângulo do
cenário, por outra porta aparecem Rafael e Kaloni, sob luz fraca).
Rafael - Quanto
trabalho, heim amigo? E logo hoje aquelas ovelhas resolveram perder-se.
Kaloni - (Limpando com a mão o suor do rosto).
Felizmente as encontramos, embora tivéssemos corrido tanto perigo naqueles
penhascos.
Rafael - Ai de
nós se não as encontrássemos. Nossos patrões descontariam meses de nosso
salário que já é tão pequeno.
Kaloni - (Irado) Que vida a nossa! Estamos
perdendo a nossa mocidade no trabalho entre essas montanhas. E a mocidade passa
tão depressa.
Rafael - Eu penso o mesmo, Kaloni, e não nego que me
sinta revoltado. Eu quero ser um poeta conhecido e mal tenho tempo de rabiscar
meus versos e guardá-los em casa.
Kaloni - Versos!
Nós não temos direito a essas coisas, Rafael; nossa vida será sempre esta
rotina estúpida, esta mesmice.
Rafael - (Olha para o céu). Veja amigo, que noite
esplêndida, a de hoje. As estrelas parecem lâmpadas no céu.
Kaloni - (Ri, com ironia). Que me importa o céu e
as estrelas. Você e suas manias não temos tempo para essas coisas. (Música forte. Aumentam as luzes e surge o
anjo, se possível em plano mais elevado. Kaloni e Rafael demonstram medo).
Kaloni - (Muito assustado). Quem … quem é você? O
que quer?
Anjo - “Não
temais! Porque eis aqui trago novas de grande alegria que será para todo o
povo”.
Rafael - Alegria
para todo o povo?
Anjo - “Na cidade
de Davi vos nasceu hoje o Salvador, que é Cristo, o Senhor”.
Kaloni - O
Messias? Aquele de que falam as Escrituras?
Anjo - “E isso
vos será por sinal: achareis o Menino enrolado em panos e deitado numa
manjedoura”. (Sai pela porta q dá para a
rua, entre o público com a mão elevada em sinal de bênção). “Glória a Deus
nas alturas, paz na terra, boa vontade para com os homens”.
Rafael - (Após saída do anjo com grande alegria,
sacudindo os ombros de Kaloni).Ora, viva, Kaloni, meu bom amigo! … Algo de
novo aconteceu. Novo e magnífico! Nasceu o Cristo Jesus.
Kaloni - (Abraça o amigo). A felicidade chegou,
afinal, para os pobres e para os tristes, amigo! (Eufórico). Vamos, vamos depressa até Belém.
Rafael - (Saindo pela porta da rua em companhia de
Kaloni). Sim, vejamos isto que o Senhor nos fez saber. Vamos amigo, que a
tristeza acabou, para sempre.
FECHA
(Após a saída dos
dois, voltam a cena em casa Mulien e Helena).
Helena - Que pena
que precise ir, Mulien.
Mulien - É noite
alta, Helena, e além do mais os meus devem estar apreensivos com a minha
demora. (A esta altura entram correndo
pela porta que dá para rua, Kaloni e Rafael).
Rafael - (Quase sufocado pelo cansaço). Onde
estão meu pai … e a mamãe? (Grita).
Papai, depressa! (Entra Yanaros e Glória
que caminha com dificuldade).
Yanaros - Que
gritos são esses a esta hora da noite? Rafael? Assustou sua mãe.
Rafael - (Abraça a mãe). Minha mãe querida,
prepare-se para uma notícia maravilhosa!
Glória - (Sorrindo). Mas que notícia, filho? O
que houve, meu poeta?
Rafael - Nasceu o
Messias tão esperado pelo mundo. Ele nasceu, meus amados!
(MÚSICA FORTE)
Yanaros - O
Cristo de Deus? Não estará você sonhando?
Kaloni - Não
Yanaros. É mesmo verdade: nasceu o Príncipe da Paz, de que falam as Escrituras.
Nós o vimos, pois fomos até Belém.
Helena - Em
Belém? Oh, conte-nos, como é ele?
Rafael - (Para a irmã). Uma bela criança, minha
irmã. Nós o encontramos enrolado em panos, deitado numa manjedoura, e vimos
Maria e José.
Mulien - Mas como
souberam da notícia?
Kaloni - (Muito feliz). Imaginem! Estávamos
descansando do trabalho de pastorear o rebanho, quando … (Fica impedido de falar pela emoção).
Rafael - (para Kaloni). Compreendo sua emoção,
companheiro, não é mesmo fácil lembrar tanta felicidade.
Kaloni - (Recobrando-se). Um anjo! Um anjo do
Senhor nos apareceu em todo o seu esplendor. Veio anunciar-nos o que
acontecera.
Glória - (Feliz e ágil, sem aparentar mais a doença).
Que alegria, filhos, que grande alegria! Jesus nasceu! … .
Yanaros - (Percebendo que a mulher está curada).
Glória querida, o que houve? Você está bem.
Glória - Não
sinto mais nada, bom Yanaros. Quem poderá sentir-se doente diante desta notícia
que nos causa tamanha felicidade?
Mulien e
Helena - (Abraçando a Glória).
Que bom, que noite feliz!
Yanaros - Esta é
uma noite diferente, filhos, a mais feliz de nossas vidas. Agora, embora
tenhamos de suportar o fardo pesado dos nossos dias difíceis, temos uma
esperança.
Glória - Eu não
disse? A esperança é Cristo Jesus, que nasceu hoje em Belém.
Rafael - (Olhando para o céu). É o Natal, irmãos,
o primeiro Natal.
Helena - A noite
feliz, a mais feliz de todas! A noite do Menino Jesus.
Mulien - Oh,
cantemos, irmãos, para celebrar este acontecimento que mudou o rumo de nossas vidas.
Jesus nasceu.
Yanaros - (Tira o manto para dar idéia final de peça e
dirige-se a toda a Igreja). Sim, irmãos, cantemos o hino ........... de
nosso hinário. (Enquanto todos cantam, de
pé, todos os personagens, inclusive o anjo, voltam a cena. Tiram do jarro as
flores, distribuem entre si, sorrindo e depois passam a distribuí-los pela
Igreja. Mesmo despedaçados. E sempre cantando).
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