OUTRO CAMINHO
Personagens:
Marlene - a esposa
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Pastor I
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Francisco - o esposo
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Pastor II
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Lílian - a órfã
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Mago I
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Maria
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Mago II
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José
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Anjo
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Cenário: Uma sala simples e, se possível, usar um outro ângulo
de cena, vazio, onde aparecerão os participantes do Natal.
Indumentária: Os três primeiros personagens vestirão roupas
atuais, sendo que a menina Lílian usará vestido muito pobre, com alguns rasgões
e levará uma bolsa de mercado, usada, cheio de trastes.
Os outros personagens deverão vestir-se de acordo com o seu
papel.
Magos: usar roupa
de tecido vistoso, um belo turbante como o dos árabes, enrolado em torno da cabeça.
Pastores: vestir
túnica e manto bem rústico. Uma idéia é aproveitar saco de estopa, com forro de
tecido mais leve, para não irritar a pele. Estarão descalços e portarão um
bastão.
Anjo: Roupa
branca. Pode-se usar colagem de papel laminado sobre o tecido para maior
realce. Usar algo brilhante em torno da cabeça.
Acessórios: Além da bolsa de Lílian - 1 livro comum, 1 jarro
rústico para o incenso (mira) de um dos magos e 1 pedra envolvida em papel laminado
dourado, que representará o ouro do outro mago.
Importante: Os magos, anjo e os pastores
podem ser feitos por crianças menores.
(Ao início da peça
está em cena Marlene, lendo um livro. De vez em quando detém a leitura, ora
bocejando, ora olhando distraída para um lugar indefinido, aparentando
tristeza. Francisco entra.).
Francisco - E,
então, vamos?
Marlene - Não,
não quero sair. Vou ficar em casa, lendo.
Francisco - (Irritado). Você e as suas manias! Onde
já se viu ficar em casa lendo, na noite de Natal?
Marlene - é
melhor.
Francisco - (Mais irritado). Que absurdo! E o que
diremos se eles ligarem perguntando por que não fomos?
Marlene - Ora …
diga … diga que estamos doentes.
Francisco - Doentes?!
Marlene - (Levanta-se e joga o livro sobre a mesa).
Sim, doentes. Não vá me dizer que estejamos bem. No mínimo psiquiatra.
Francisco - (Sem jeito). Por que diz isso?
Marlene - Ora,
Francisco, nosso casamento tem sido uma grande farsa. Ainda bem que não temos
filhos.
Francisco - Você
é culpada de não sermos felizes. Suas “crises
… “
Marlene - (corta). Eu não teria angústia, se
tivesse razões para ser feliz.
Francisco - E
porque não é feliz? Temos uma bela casa, um automóvel novo …
Marlene - Você só
pensa em valores materiais.
Francisco - Não,
você sabe que não. Acho mesmo que a nossa crise começou quando deixamos a
Igreja de lado.
Marlene - (Pensativa). Talvez … mas acho que o
nosso casamento acabou.
Francisco - Então
precisamos de ajuda. Por que não procuramos o pastor, para conversarmos com ele
sobre o assunto?
Marlene - Não
sei. Eu não sei o que fazer de mim, de nós …
Francisco - Eu
ainda espero que tenhamos uma solução para as nossas vidas. Eu … acho que vou
dar uma volta.
(Ele sai e Marlene
volta a sentar-se procurando reiniciar a leitura. Não consegue concentrar-se.
Deixa o livro outra vez na mesa, anda de um lado para o outro e aperta a
fronte, como se tivesse dor de cabeça. Nisto ouve-se de fora um chamado).
Lílian - Moça,
moça! …
Marlene - Quem é?
Lílian - (aparece na porta). Posso falar com a
senhora?
Marlene - Mas o
que você quer numa hora destas?
Lílian - Por
favor, eu posso ficar com a senhora um pouquinho?
Marlene - Comigo?
Mas por quê?
Lílian - Estou
com medo.
Marlene - Medo?
Mas medo de que?
Lílian - (insiste, com voz de choro). Por favor,
moça, deixa eu entrar. Só um pouquinho.
Marlene - (Cansada da insistência). Está bem,
entre. Sente-se (aperta novamente a
fronte).
Lílian - A
senhora está doente?
Marlene - Dor de
cabeça, apenas.
Lílian - (Sentando-se). Ah, é muito ruim ter dor
de cabeça. Às vezes eu tenho também mas as moças do orfanato acham que é
mentira.
Marlene - (Assusta-se). Do orfanato?
Lílian - É.
Aquele ali da esquina da sua rua. Eu fugi de lá.
Marlene - (Mais assustada). Fugiu?
Lílian - Isso
mesmo. Aquele lugar é horrível … Mas não brigue comigo, sim?
Marlene - (Com muito jeito). Você tem … parentes?
Lílian - Não. Uma
das moças de lá disse um dia que meus pais morreram num acidente em São Paulo e
que não tinham parentes.
Marlene - (Com pena). Como é seu nome, menina?
Lílian - É
Lílian.
Marlene - Que
bonito. Lílian, você quer jantar? Jantamos ainda agora.
Lílian - Não, eu
jantei antes de … fugir. A senhora tem filhos?
Marlene - (Triste). Não.
Lílian - Puxa,
que pena, uma casa tão bonita, e a senhora parece tão boazinha. Seu marido
saiu, não é?
Marlene - Sim,
saiu para dar uma volta.
Lílian - Eu vi,
quando ia chegando aqui.
(Uma pequena pausa).
Marlene - Bem, e
agora? Hoje é Natal e …
Lílian - A
senhora podia me contar a história de Natal. Lá no orfanato a gente só vê
televisão. Não tem quem conte nem uma história sequer.
Marlene - (Constrangida pelo inesperado). Eu ? …
Mas … Está bem, vamos sentar-nos ali na varanda para eu contar.
(Sentam-se nos
primeiros bancos da Igreja, que fica sendo a varanda. Marlene passa a contar a
história em voz bem alta, para que todos ouçam).
Marlene - Bem,
Lílian, Maria ficou muito feliz quando foi escolhida para ser a mãe do Menino
Jesus.
(Entra Maria, se
possível sob efeitos especiais de iluminação, no outro ângulo de cena, mas em
lugar bem visível do público).
Maria - A minha
alma engrandece ao Senhor e o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador.
Porque atentou para a limitação da sua serva, e eis que agora todas as gerações
me chamarão bem-aventurada. Porque me fez grandes coisas o Poderoso, e Santo é
o seu nome.
A sua misericórdia é de geração em geração sobre os que o
temem. (Sai por uma porta que dê para os
fundos).
Francisco - (Entrando pela porta da rua, vem sentar-se
junto a Marlene e a menina). Posso ouvir também?
Marlene - (Surpresa). Sim … pode. Bem, depois,
Maria e José, seu marido, tiveram uma porção de problemas para achar um lugar
onde o bebezinho pudesse nascer.
(Entram Maria e José. Ela anda com
dificuldade. Param em meio de cena para descansar. José a ampara).
José - Ainda
hoje, se Deus quiser, encontraremos uma hospedagem, Maria.
Maria - (Sorrindo). Sim, eu acredito que Deus há
de levar-nos ao lugar certo, para que se cumpra a Sua Vontade.
José - Hoje cedo,
lembra-se, passamos por um mercador que falou da possibilidade de encontrarmos
uma hospedaria por aqueles lados (aponta
um dos lados).
Maria - Toda
Belém está repleta de gente hoje. São os que vieram alistar-se e por isso está
tão difícil assim encontrarmos uma estalagem.
José - Se tivéssemos
em Nazaré logo encontraríamos algo. Como está? Mais descansada?
Maria - Sim,
vamos (Saem pela porta que dá para a rua,
em meio ao público).
Marlene - Maria e
José não encontraram nenhuma hospedaria em que o menino pudesse nascer.
Lílian - E então?
Marlene - Eles
encontraram uma velha estrebaria e ali nasceu Jesus. Maria então deitou numa manjedoura.
E estavam uns pastores no campo …
(Entram os dois
pastores)
Pastor I - Vamos
ver se encontramos por aquele lado a ovelha que se perdeu.
Pastor II - Sim,
vamos. Temos mesmo que encontrá-la, pois os nossos patrões não nos perdoariam
tê-la perdido.
Pastor I - Hoje
tivemos muito trabalho, não acha?
Pastor II - Mais
do que nunca. Os rebanhos aumentaram muito ultimamente …
Pastor I - E o
pior é que me sinto tão doente.
Pastor II - Doente?
Então precisa tratar-se.
Pastor I - Não
posso deixar de trabalhar. Quem daria o alimento aos meus filhos?
Pastor II - Tem
razão, somos mesmo homens sem esperanças. Nossa vida é muito difícil.
(Música forte. Aparece
o Anjo e os dois se assustam).
Anjo - Não
temais, porque eis aqui vos trago novas de grande alegria que será para todo o
povo. Pois na cidade de Davi nasceu hoje o Salvador que é Cristo, o Senhor.
Pastores - (Os dois). Jesus Cristo, o esperado das
nações?
Anjo - E isto vos
será por sinal. Achareis o Menino envolto em panos e deitado numa manjedoura. (Sai em meio do público).
Pastor II - Vamos,
então, depressa, até Belém.
Pastor I - Sim,
vejamos isto que aconteceu e que o Senhor nos fez saber.
Pastor II - Agora
sim, temos uma grande esperança: nasceu o Redentor. (Saem pela porta que dá para os fundos).
Mago I - (Entra pela porta lateral, com o
companheiro). Veja, (aponta o céu,
alegremente). Lá está a bela estrela que nos conduzirá ao que é nascido rei
dos judeus.
Mago II - Devemos
continuar o caminho então, para aquele lado. O que leva você nesse jarro?
Mago I - Incenso
e mirra para o Messias.
Mago II - Não é
uma bonita pedra de ouro? Será este o meu presente. (Saem de cena).
(Apagam-se
momentaneamente todas as luzes enquanto todos os participantes da história de
Natal assumem suas posições: Maria de joelhos, embala nos braços um bebê
imaginário, José e os demais, sorrindo, olham com ternura para o bebê. Fazem
quadro estático até o fim da peça.)
Lílian - (Voltando com Marlene e Francisco para a
sala). Que história bonita! Parece que ainda estou vendo.
Marlene - Feliz
Natal, Francisco (Abraça o marido. E
depois dirige-se a Lílian). Ah, Lílian, eu ia esquecendo de contar: os
magos depois que viram o menino voltaram por outro caminho, para que Herodes
não os encontrasse.
Francisco - Sabe,
Marlene, acho que nós precisamos fazer o mesmo que fizeram os magos: tomar
outro caminho.
Marlene - Também
acho, Francisco. Sabe, acho que nós estávamos esquecidos de Jesus. Ah, esta é
Lílian que fugiu do orfanato.
Francisco - Sim,
eu ouvi quando contou-lhe sua história.
Marlene - Quem
sabe não poderíamos ficar com ela?
Lílian - (Muito feliz). Ficar com vocês? Para
sempre? …
Francisco - Sim
pequena, você será parte desta família (olha
para Marlene) que começa agora, verdadeiramente, após recordarmos o
verdadeiro Natal. Assim que pudermos vamos ao orfanato legalizar tudo, está
bem?
Marlene - Obrigada,
Francisco. Estou tão feliz!
Francisco - Eu
também. Sinto-me como se tivesse renascido agora. Feliz Natal, Marlene. Feliz
Natal, Lílian. (Os dois abraçam
carinhosamente a pequena, que sorri).
Lílian - Feliz
Natal, papai e mamãe.
(Apagam-se as luzes)
Extraído de: UM Natal
INTEGRADO.
Maria José G. de Resende
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