ONDE ELE VAI
NASCER?
Autor: Gilmar do
Nascimento – 1991
Personagens:
Narrador ou narradora
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José – operário
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Marta – doméstica, esposa de José
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Margarida – esposa de empresário
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Carla – filha de Margarida
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Manuel – operário
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Lurdes – doméstica, esposa de Manuel
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Prefeito e Vereador
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Ana – mulher que recebe José e
Marta em sua casa
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Ana – mulher que recebe José e
Marta em sua casa
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Outros personagens
anônimos – é importante que estas outras pessoas façam parte da peça, pois
ajudam a caracterizar as diferentes situações.
Introdução
Toda obra é uma obra. Porém, vista de um determinado ângulo,
de um determinado ponto de vista e de uma determinada realidade. No caso do
teatro é muito importante a interpretação e o envolvimento de cada personagem.
Esta obra não está acabada. Cada grupo que quiser fazer
teatro deve ter isso em mente. De que tudo é relativo e dinâmico, especialmente
no que diz respeito ao teatro popular. Este texto quer ser uma ajuda aos grupos
que gostam de teatro. Sintam-se livres para mudar, adaptar, cortar ou acrescentar
cenas.
Esta peça conta a história de um casal de um operário e uma
doméstica que saíram do interior e foram para a cidade. Lá vivem estrangulados
pelo arrocho salarial e pelas dificuldades de uma cidade grande. O primeiro
filho vai nascer... Onde? Eis a grande preocupação deste casal e de tantos
outros que vivem neste país.
Esperamos que este pequeno ensaio nos ajude a encontrar
alguma saída.
Cena I
(Esta parte deve ser
lida antes do início da peça. Enquanto o narrador fala esta parte, José e Marta
estão sentados na penumbra, já prontos para a cena I. Casa simples. Quando acendem as luzes, os dois conversam
enquanto põem a mesa).
Narradora: Num
país muito distante, um povo que outrora vivera feliz, hoje vive em amargura e
dor. Por um decreto do governador, as pessoas eram obrigadas a migrarem do
interior para as cidades, para servirem como mão-de-obra nas indústrias. José e
Marta, atendendo a este decreto propagandista,
também foram para as cidade cheios de sonho. Lá, após o deslumbramento dos
primeiros dias, com as vitrines consumistas e o aparente conforto, caem na
realidade da vila onde moram. José é operário em uma fabrica e Marta empregada
doméstica. Vivem estrangulados pelo arrocho salarial, o alto custo de vida, o
aluguel e as dificuldades de uma vila sem infra-estrutura.
O primeiro filho vai nascer... Onde? Eis a grande
preocupação deste casal... e de tantos outros que vivem neste país!
Marta: Pois é,
José, se continuar desse jeito, nosso primeiro filho vai nascer numa pior...
Nem fraldas ele vai ter!
José: Não diga
uma coisa dessas, Marta...
Marta: Mas como
não vou dizer? É a realidade!
José: É, a
situação está difícil... este salário que a gente ganha não dá prá nada.. Se é
que dá para chamar isso de salário...
Marta: Falando em
salário, o seu Antônio, lá do armazém já esteve aqui prá mais de 10 vezes...
José: O que ele
queria?
Marta: Tu ainda
pergunta? Ele quer receber o dinheiro dele. Já faz mais de 2 meses que não
pagamos o armazém...
José: Sim, eu
sei, mas como vamos pagar? Se o que ganhamos não dá... O patrão não dá jeito de
pagar as horas extras... a turma até já falou em fazer greve, mas do jeito que
tá difícil arranjar emprego... Não sei se vai ser uma boa.
Marta: Este teu
patrão é um explorador, isso sim.
José: Eu sei, mas
fazer o que? Eu não tenho profissão. Meu pai não podia me pagar o estudo... Se
eu perder este emprego, onde é que vou arranjar outro? Já tá ruim viver assim,
imagina sem emprego...
Marta: Mas um pouco mais ele podia pagar...
José: Estou
fazendo biscates no fim-de-semana, espero que dê para comprar as roupas do
nenê.
Marta: É
mesmo, Zé, o menino está chegando e nós
não temos nada de enxoval. O pior é que além de seu Antônio do armazém, veio
também a dona Joana cobrar o aluguel.
José: Só faltava
essa... devendo armazém, você grávida e aluguel atrasado...
Marta: Ela disse
que vai querer a casa de volta se a gente não pagar. Falou bem alto prá toda
vizinhança ouvir.
José: Mas que
atrevimento!
Marta: Ela disse
que quer receber pelo menos a metade, senão...
José: Senão, o
quê? Ela vai botar a gente prá fora?
Marta: Ameaçou
chamar a polícia prá fazer a gente sair na marra...
José: Mas, todo
mundo atrasa aluguel nesta terra.
Marta: Sim, mas
nós atrasamos sempre. Pôxa, Zé! Eu não
quero ter nosso filho de baixo de um viaduto.
José: Nem eu, não
fique preocupada, Marta, você não pode se preocupar demais... Amanhã mesmo,
quando sair da fábrica vou procurar mais
uns biscates prá fazer.
Marta: Mas você
já trabalha tanto! Sai de casa ainda escuro e volta só tarde da noite... A
gente quase não se vê. Só nos fim-de-semana...
José: O que vou fazer, Marta? Quanto mais se
trabalha...
Marta: Eu também
vou pedir um aumento. Vou falar com dona Margarida amanhã de manhã mesmo.
José: Isso mesmo,
não custa tentar. Quem sabe tua patroa
tem bom coração. (Neste ponto é sugerido
que José cante ou declame a canção “Lamento Nativo” do hinário da PPL, p. 76).
Cena II
(Na casa da patroa, Marta está limpando os móveis quando chega
Margarida com as filhas, carregando presentes).
Margarida: Vamos
Marta, faça alguma coisa. Ajuda a carregar estes pacotes lá para dento. Afinal
de contas, para quê estou te pagando? (Marta pega os pacotes e sai de cabeça
baixa).
Paula: Mamãe, e o
presente do Júnior?
Margarida: O que
é que você quer que eu faça? O menino insiste em Ter a roupa de Power Ranger, o
tênis do Power Ranger, não sei o que mais do Power Ranger...
Paula: A gente
procurou em tudo que foi loja, mas não encontrou...
Margarida: Pois
é, se ao menos ele aceitasse outro super-herói!
Carla: (Gritando) Marta! Traz minha Coca-Cola!
Margarida: Seu
pai ainda vai me deixar louca por esses dias de Natal. Imagina quem ele
resolveu convidar para nossa Ceia de Natal!
Carla: Quem
mamãe?
Margarida: O
gerente geral da fábrica, um tal de Dr. Onofre e ainda por cima o deputado
Ferreira e sua esposa.
Paula: Humm! O
deputado! Aí tem coisa!
Margarida: Claro
que tem. Seu pai está querendo por os pés em Brasília.
Paula: E o
deputado vai vir?
Margarida: Sim,
por isso temos que fazer uma festa de Natal à altura. Aliás, lembrem-me de
pedir para seu pai deixar uns cheques assinados. Acho que com uns dois mil
reais dá prá organizar a noite de Natal. (Marta
volta trazendo a coca-cola. Entrega-a a Carla e dirige-se a patroa).
Marta: Dona
Margarida...
Margarida: O que
foi desta vez?
Marta: Eu queria
falar com a senhora...
Margarida: Agora
não tenho tempo, depois você fala.
Marta: Mas é que
eu...
Margarida: Por
favor. Marta! Vá fazer um chá e traga também meus calmantes. Estou exausta!
Paula: Mãe, o
cabeleireiro é as nove...
Margarida: Ai meu
Deus, já ia me esquecendo deste maldito cabeleireiro...
Carla: (Abrindo
um pacote e pegando um vestido novo) Não é chocante?
Margarida: Quem
vai ficar chocado é seu pai quando souber o preço.
Paula: Mãe, aqui
na lista está faltando...
Margarida: Falta
o quê menina, não é só o presente do Júnior?
Paula: Tá
faltando um presente para a Tia Claudia e a lembrancinha da Marta
Margarida: O
presente da Tia Claudia já comprei na semana passada.
Carla: O que foi
que ela pediu?
Margarida: Um secador de cabelos, desses que foram
lançados agora.
Carla: E prá
Marta?
Margarida: Prá ela vou comprar um desodorante.
Carla: Só isso?
Margarida: Claro
que não, minha filha. Vou lhe dar também umas roupas velhas que tenho lá na
chácara.
Paula: A prefeitura
está promovendo o Natal da criança pobre. Vou ver se arrumo umas roupinhas para
a criança da Marta.
Carla: É, o
menino dela vai nascer no Natal.
Margarida: Tá
bom, mas agora vamos lá dentro, conferir nossas compras. (Saem do palco).
Cena III
(Marta está em casa, arrumando uma mala. José
vem chegando cansado do trabalho)
José: Que mala é
esta, mulher?
Marta: Não tem
mais jeito, vamos Ter que sair da casa amanhã. Até já comecei a ajuntar nossas
coisas... (chorando)
José: Esperaí,
nem bem cheguei e uma notícia dessas...
Marta: Mas você
já sabia que mais dia menos dia isso iria acontecer...
José: Não pode
ser...
Marta: A mulher
só está exigindo o que é de direito. Ela não tem obrigação de deixar a gente
aqui sem pagar...
José: Eu fiz mais
uns biscates, ganhei mais uns trocados...
Marta: Quanto,
deixa eu ver...(pegando um pequeno maço
de dinheiro de sua mão). Não dá nem prá dois quilos de carne.
José: Mas pelo
menos o café da manhã tá garantido.
Marta: (Encostando-se no marido que está sentado).E
aí, Zé, o que é que a gente vai fazer?
José: Sei lá!
Vamos Ter que fazer as trouxas e sair por aí. Quem sabe algum cristão ajude a
gente... e tem o Natal... quem sabe...
Marta: Que é que
tem o Natal? Pobre só tem Semana Santa!
José: Mas quando
eu era menino o Pastor falou que Jesus nasceu pobre...
Marta: Isso é
verdade, Zé. Jesus nasceu na estrebaria...
José: Mas parece
que hoje em dia Jesus só nasce nas casa dos ricos! Eles têm direito a fazer
Natal.
Marta: Não, Zé.
Jesus nasceu pobre, mas os ricos é que se adonaram do Natal, mas não de Jesus.
Os ricos só querem o Natal para fazer festa. Jesus eles deixam na estrebaria
como antigamente...
José: Talvez você
tem razão... E no seu emprego Marta, você conseguiu aumento?
Marta: Que nada.
Minha patroa nem quis me ouvir. Disse que depois conversa comigo.
José: Se ela não
pode sujar nem estragar sua mãozinhas, então que pagasse um salário mais
decente para quem trabalha.
Marta: É, quem
trabalha pesado sempre ganha menos...
José: Pois é
Marta, aqui estamos nós, sem casa, sem dinheiro e devendo para todo mundo... Me
lembro de quando a gente estava lá no interior... lá na roça... por mais
difícil que era a situação, a gente tinha o que comer... Aqui nem isso temos...
Marta: Mas a
gente não tinha terra e com toda aquela propaganda do governo de que na cidade tinha trabalho para todos... É, a
gente foi enganado mais uma vez...
José: Ruim na
colônia... pior na cidade... (Ficam
arrumando a mala quando chegam os vizinhos).
Manuel:
Boa-noite!
Marta e José:
Boa-noite! (Se cumprimentam)
Manuel: Mas, o
que houve, estão de mudança?
Marta: Fomos
despejados.
Lurdes: Por quê?
José: É por que
temos o aluguel atrasado. Eu não tenho dinheiro, ainda não saiu o pagamento.
Manuel: Pois é a
coisa tá feia e o pior é que nós não temos nenhuma sobra prá emprestar.
Marta: E pobre lá
tem sobra?
Lurdes: Nós até
que tinha uma economia, mas o Paulinho ficou doente e gastamos tudo no médico e
no hospital
Manuel: Imagina
só, pagamos o INPS cada mês, mas quando precisamos...
Lurdes: Não é
INPS, é INSS homem...
Manuel: Ah! Isso
tudo é a mesma coisa. Trocaram as moscas mas segue a mesma ... Mas como eu tava
dizendo, prá conseguir uma consulta tinha que esperar um mês...
Lurdes: E num mês
nosso filho já teria morrido.
Marta: Ele ficou
bem?
Lurdes: Sim,
graças a Deus.
José: Aqui na
cidade tá tudo pelos olhos da cara. Daqui a uns tempos vão cobrar até o ar prá
respirar.
Manuel: Parece
brincadeira, mas a água que Deus deu de graça, nós já temos que comprar. O ar é
de graça, por enquanto, mas também, um ar fedido desses... O ser humano é burro
mesmo. Primeiro suja tudo para depois gastar um monte de dinheiro prá limpar...
Lurdes: Mas
voltando a falar de vocês... quando vai nascer o nenê?
José: Quando vai
nascer nós já sabemos, mas onde vai nascer... só Deus sabe...
Marta: Vai nascer
no Natal
Lurdes: Que
lindo, vai ser um verdadeiro presente de Natal!
José: No começo
nós também achava que ia ser um presente, mas agora que perdemos a casa, não
sei não.. Este nenê tá se tornando uma preocupação.
Marta: Quase um
pesadelo.
Manuel: É, Zé,
lembro de quando viemos para a cidade, o salário até que dava prá viver. Mas
hoje... Só dá prá comer mal e mal... Roupa, já vai prá dois anos que não
compramos nova.
Lurdes: Nós até
tomava umas cervejinha e prás crianças a
gente comprava uns refri de vez em quando.
José: Tu tens
razão. A sorte de vocês é que não precisam pagar aluguel.
Manuel: A nossa
casinha é pequena, mas não chove dentro...
José: Eu tava
falando prá Marta, se nós tivéssemos ficado no interior, lá pelo menos tinha o
que comer. Agora não temos dinheiro nem prá voltar.
Manuel: Olha Zé,
amanhã na Vila vai Ter o Natal da criança pobre. O prefeito e os vereadores estarão
distribuindo prêmios.
José: Isso também
não resolve o problema. O que adianta um presente no Natal se o ano tem 365
dias? Esses políticos... Ganham o dinheiro do povo o ano todo e não fazem nada
para melhorar a situação. Se eles resolvessem o problema do salário e da
moradia não precisavam dar esmolas no Natal.
Manuel: Resolver
o problema não dá voto.. O negócio é dar uma esmola de vez em quando para que o
povo fique vivo e vote neles de novo da próxima eleição.
Lurdes: Também
não é assim, tem uns políticos que pensam no povo, mas são a minoria...
Marta: E estes
não recebem muito apoio.
José: Isso é. Dias atrás, na reunião de estudos
bíblicos falamos sobre isso e descobrimos que nós também somos culpados pela
situação. Nós não nos organizamos e não lutamos. Nós só queremos que os outros
façam algo por nós.
Marta: O Pastor
falou que na Vila São João eles também não tinham água, mas eles fizeram uma
comissão e foram falar com as autoridades e hoje já tem água e esgoto na Vila.
Manuel: Vocês têm
razão. Às vezes a gente é muito acomodado.
Lurdes: A gente
tem muito que conversar. Mas nós precisamos ir dormir prá amanhã levantar cedo
e ir trabalhar.
José: Nós também.
Precisamos encontrar uma outra casa prá morar. (Manuel e Lurdes se despedem)
Cena IV
(È outro dia. O
prefeito e os vereadores estão distribuindo presentes para as pessoas da Vila
Trapo. José e Marta que não encontraram casa estão passando pela frente.
Sugere-se aqui, de fundo musical, por alguns instantes, a música Massa Falida).
Prefeito: Minhas
senhoras e meus senhores! Aqui nos reunimos mais uma vez para homenagear nossas
crianças. Para isso, trouxemos um pequeno rancho para as famílias carente e
alguns brinquedos para as crianças do Bairro. Com este ato queremos demonstrar
que a administração municipal, juntamente com a Câmara de Vereadores, aqui
representada pela pessoa do seu presidente, está voltada para os carentes de
nosso município. Assim como Jesus veio para ajudar o povo, a prefeitura está
aqui para auxiliar os mais fracos. Nos alegramos em poder fazer isso. Pois uma
das promessas da nossa campanha era possibilitar que todos tivessem um dia o
seu Natal. Aqui estamos cumprindo a nossa promessa. Tenho dito. (Aparecem pessoas recebendo os sacos de
comida e crianças recebendo os presentes. Fundo musical: Massa Falida).
José: Isso é tudo
conversa fiada.
Marta: Nem esgoto
e água encanada tem na Vila. Se eles quisessem fazer algo pelos carentes,
deveriam primeiro se preocupar com coisas mais importantes e não com esmolas.
Água e esgoto, isso sim, foi promessa de
campanha.
Cena V
(Apagam-se as luzes.
Há uma vitrine. José e Marta estão passando e observando a vitrine enfeitada
para o Natal. Alguém passa e esbarra em Marta).
José: Povo sem
educação.
Marta: Eles
pensam que são os donos do mundo...
José: E sempre
andam correndo, apressados...
Marta: Apressado
tá o menino aqui. Desde esta noite está se movimentando diferente, querendo
sair...
José: Eu só
queria uma casa para morar, não queria nada dessas bugigangas que o pessoal tá
levando para casa.
Marta: Eles
compram até sabonete para cachorro. Quando nós tava na colônia tomava banho com
sabão comum e também ficava limpo.
José: É, mas
pensando bem, tem até umas coisas bonitas de se ver!
Marta: É só prá
ver mesmo, porque a gente só pode olhar e nada mais.
José: (Apontando para a vitrine) Veja, Marta!
Aquela bicicleta eu ajudei a montar, foi um dos meus biscates.
Marta: E a gente
anda a pé. (sentam-se na beira da calçada
= palco).
José: Tanta coisa
a gente produz e nada podemos ter. O que a gente dá de lucro por dia eles pagam
por mês. Você tem razão quando diz que pobre não tem Natal.
Marta: Zé, vamos
andando. O menino quer nascer e nós não temos onde dormir. Vamos ver se a gente
acha um lugar para ficar, pelo menos esta noite. (Saem caminhando. A luz é apagada. Sugere-se aqui a música Migrante
como fundo musical).
Cena VI
(Pequeno barraco.
Marta e José estão lá dentro com as pessoas da casa. Marta está segurando um
bebê).
Marta: Ah! Que
alívio! Eu não tenho como agradecer a vocês.
José: Não fosse a
caridade de dona Ana, nosso filho teria nascido na rua...
Ana: Não tem o
que agradecer não, gente. E depois, como é que eu ia deixar vocês nessa
situação?
Marta: Mas será
que não estragamos sua festa de Natal?
Ana: Estragar meu
Natal? Olha, eu vou contar um segredo para vocês. Quando vi vocês desesperados,
sem ter prá onde ir e Marta quase tendo se bebê, eu pensei cá comigo: Será que
eu posso ter um Natal feliz, ficando de braços cruzados? Aí eu disse prá mim
mesma: esse é o Menino Jesus que tá querendo nascer aqui na minha humilde casinha.
Marta: Menino
Jesus?
Ana: Sim, o
Menino Jesus em carne e osso! Esse
magrelinho aí que você botou no mundo.
José: Mas como
nosso filho pode ser o Menino Jesus’
João: Deixa que
eu explico: olha, Deus veio ao mundo em Jesus Cristo. Uma criança que nasceu em
meio á pobreza e tornou-se o Rei do mundo. Quando todos esperavam um rei soberano,
Jesus nasceu humilde. Deus fez isso em protesto contra os poderosos que
pensavam ser os donos do mundo porque tinham poder e massacravam os humildes.
Deus fez seu Filho nascer humilde e o tornou Rei soberano, mas os poderosos não
entenderam a mensagem de Deus e crucificaram a Jesus.
José: Sim, mas o
que isso tem a ver com nosso menino?
João: Hoje, cada
criança que nasce em meio á pobreza e miséria,
como Jesus, é sinal de que o ser humano ainda não entendeu a mensagem de
Deus, pois ainda permitem que crianças nasçam em condições de miséria, causada
pela injustiça social. Por isso, seu filho é um Menino Jesus.
Ana: É verdade
Marta. Por isso nossa morada hoje, se encheu de luz, por causa do menino. Não
se preocupem, vocês não estragaram o nosso Natal. Vocês vieram dar sentido ao
nosso Natal, isso sim. Nós estamos felizes.
Marta: Mais feliz
que eu a senhora não tá não!
José: É o nosso
primeiro filho...
Marta: Menino que
vem numa hora difícil, cheia de medo...
Ana: E de
esperança também, Marta. Esperança de que um dia todas as portas serão abertas
e todas as pessoas vão se unir numa só corrente, cantando, gritando, sorrindo,
vivendo o Natal!
José: AH! Nesse
dia todos serão felizes de verdade.
Marta: E por que
não fazer festa hoje? Graças a deus, nosso filho nasceu, Dona Ana e seu pessoal
nos acolheu, hoje é Natal!
José: É verdade,
os pobres já estão se unindo, então é sinal que o Natal de fato está chegando!
Ana: Vamos
festejar! Que todos cantem conosco! (Canta-se
o hino: Que estou fazendo se sou cristão. Se houver um grupo de canto ou coral
para auxiliar a comunidade nesta parte seria bem-vindo).
Que estou fazendo se sou cristão? /Se Cristo deu-me o seu
perdão?
Há muitos pobres sem lar, sem pão./ Há muitas vidas sem
salvação.
Mas Cristo veio prá nos remir. /O homem todo sem dividir
Não só a alma do mal salvar / Também o corpo ressuscitar
Há muita fome no meu país/ Há muita gente que é infeliz
Há criancinhas que vão morrer/ Há tantos velhos a padecer
Milhões não sabem como escrever/ Milhões de olhos não sabem
ler
Nas trevas vivem sem perceber/ Que são escravos de outro ser
Aos poderosos eu vou pregar/ Aos homens ricos vou proclamar
Que a injustiça é contra Deus/ E a vil miséria insulta os
céus
Se Cristo deu-me o seu perdão/ Que estou fazendo se sou
cristão?
FIM
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