sexta-feira, 4 de novembro de 2016

Teatro de Natal 12

TEATRO DE NATAL
Auto de Natal / dezembro de 1990.
Personagens: A, B, P1, P2, P3, José, Maria, Jesus, João, X, Y, A1, A2, Paralítico, Z, W, Ç. 
Tempo: Bíblico.
A proposta é mostrar que a mesma pessoa que nasceu na estrebaria na vila de Belém é o Jesus que se preocupou com a vida das pessoas do seu tempo e que foi reconhecido pelo seu povo - formado de pessoas simples, humildes, pobres - como verdadeiro CRISTO (Enviado) de Deus!

Cena 1
(Dois/duas amigos/as vão conversando pela estrada afora).
(Se vestem como hoje em dia nos vestimos).
A - Bah! De novo Natal. Tu já te deste conta disso?
B - Já, sim! No rádio, na TV, tudo é só propaganda do Natal. “Compre isso e seja o melhor Papai Noel do mundo”.
A - É mesmo. Hoje em dia, Natal já é como qualquer outro dia da semana.
B - É mesmo. A gente até achou que este ano iria ser diferente. Mas não mudou nada. Parece que nem existe mais vida. Até a esperança do povo está desaparecendo.
N - Pois é. Estava me lembrando. A minha avó dizia que a avó dela falava que o Natal era uma festa  bonita, festa da paz, porque tinha nascido uma criança que veio trazer vida verdadeira para as pessoas. E esta criança é filha de Deus.
B - Isso é papo pra boi dormir! Não sei como foram inventar esta história aí...Isto é que nem a história de Papai Noel. Ei, olha lá aqueles caras bem esquisitos. Até parecem mendigos que vêm pedir alguma esmola...  (Neste momento alguns pastores (3) passam por eles. Um dos pastores os convidam a ir junto com eles. Os pastores estão vestidos de acordo com a época).
P1 - Venham com a gente. Hoje nasceu uma criança muito importante para nós. É logo ali, na aldeia de Belém, lá onde brilha aquela estrela. Vamos lá. (Os dois amigos olham um para o outro. Finalmente acabam acompanhando os pastores).

Cena 2
(Esta cena se desenrola junto à estrebaria onde Jesus nasceu. Os dois amigos aparecem também na cena simplesmente como observadores).
P2 - Onde será que é o lugar em que está a criança??
P3 - Calma, a gente vai encontrar. Ei, olha lá, aquela luz toda...!
P1 - É mesmo. É a luz da estrela que está nos mostrando onde está a criança. ( Os pastores se dirigem até a estrebaria. Lá estão José e Maria e a criança).
P2 - Com licença. A gente ficou sabendo que aqui nasceu uma criança. É verdade?
José - É sim. Aqui está ela! (Aponta para a manjedoura).
Maria - Cheguem mais perto. Venham vê-la. ( Os pastores se aproximam mais. Os dois amigos também. E olham a criança).
P1 - Obrigado, Deus, que tu nos concedeste a graça de vermos esta criança.
Maria - Mas como vocês ficaram sabendo que o nosso filho nasceu hoje?
P3 - Olha, é uma história bem interessante.
P1 - É mesmo. A gente estava lá no pasto cuidando de nossas ovelhas.
P2 - E de repente algo bem diferente acontece...
P1 - É! Apareceram alguns anjos e um deles nos disse: Hoje, na cidade de Davi, nasceu o Libertador e Salvador de vocês, que é Cristo, o Senhor.
P3 - Por isso viemos até aqui, em Belém. Para ver o nosso Libertador e Salvador!
P2 - (Olhando para a manjedoura) Como estou com feliz por este momento. Ei, será que a criança não está passando frio?
Maria - Pode ser. Mas a gente já usou quase todos os panos e roupas que tínhamos para enrolar e proteger a criança.
P2 - (se dirige a um dos amigos) Você me empresta o seu cassaco? (Pega-o e o coloca sobre a criança na manjedoura).
José - É, a gente sabia que a criança iria nascer por estes dias. Mas esta idéia do governador foi demais. Tivemos que vir lá de Nazaré da Galiléia, até aqui só para fazer o alistamento. Sorte que conseguimos um pequeno jumento, e Maria pode vir montado nele.
Maria - Mas ainda bem que chegamos aqui, né José?!
José - É. E este foi o único lugar que restou para nós. Todas as pensões estão cheias. Tivemos que nos arranjar por aqui.
P1 - Mas não tinha nenhum outro lugar mesmo?
Maria - Se tivéssemos algum dinheirinho com a gente, até que poderia ter algum lugar vago...
José - É. Com dinheiro neste mundo se dá muito jeito. Mas, eu sou carpinteiro. E Nazaré não é uma cidade grande. É uma simples aldeia. Além disso, o povo lá, todos nós não temos riqueza nenhuma.
Maria - Mesmo assim, estamos contentes com o nosso filho. Ele está agora bem agasalhado. E logo vamos voltar para nossa casinha, lá em Nazaré!
P3 - Como é o nome da criança, Maria?
Maria - É Jesus!  (Fecha-se a cortina)

Cena 3
(Com um cartaz se anuncia: 30 ANOS DEPOIS! )
( João está ensinando à uma multidão. No meio dela, estão os dois amigos e também Jesus).
João - Povo de Deus! Arrependam-se e Deus lhes perdoará! Preparem o caminho para o Senhor passar! Abram estradas retas para ele. Todos os vales serão aterrados e todos os morros serão aplanados. As estradas tortas ficarão retas, e os caminhos com altos e baixos ficarão planos. E toda a humanidade verá a vida, a salvação que Deus dá.
X - João! O que nós temos que fazer de verdade para com o nosso próximo?
João - Quem tem dois casacos reparta com quem não tem nenhum. E quem tiver comida, faça o mesmo. (Algumas pessoas são batizadas. Chega Jesus, do meio da multidão).
Jesus - João, eu também quero ser batizado por ti! (No momento em que João derrama água sobre a cabeça de Jesus, alguém diz: TU ÉS O MEU FILHO AMADO. EM TI TENHO ALEGRIA).

Cena 4
(Com um cartaz, se anuncia: JESUS COM O POVO!)
(Jesus está junto com pessoas, ensinando-lhes a Palavra de Deus. Os dois amigos também estão entre a multidão).
Y - Mestre! Estamos com muita vontade de aprender de ti algo para a nossa vida.
Jesus - Aqui na Bíblia tem uma palavra que é muito importante para todos nós. Eu vou ensiná-la para vocês. Isto está escrito no livro do profeta Isaías capítulo 61, versículos 1 e 2: (Esta parte pode ser lida da Bíblia - também Lucas 4.18-19). (Quando Jesus termina de ler o texto, percebe-se uma movimentação de pessoas entrando pelo corredor).
A1 - Com licença, com licença!
A2 - Jesus, Mestre, onde está o Senhor? (Vão caminhando, com esforço, até deixar o paralítico na frente de Jesus).
Paralítico: Senhor. Eu creio que tu, somente tu, podes me ajudar.
Jesus - Amigo, os teus pecados estão perdoados! ( Jesus diz isto, colocando as mãos sobre a cabeça do paralítico).
Z - Que mentira! Só Deus pode perdoar os pecados! Tu estás usando o nome de Deus em vão.
Jesus - O que vocês estão pensando? O que vocês acham que é mais fácil dizer: os teus pecados estão perdoados? Ou levanta-te e anda? Para que vocês fiquem sabendo que eu tenho poder para perdoar pecados, eu te ordeno, amigo: levanta-te, pega as tuas coisas e vai para casa! ( O paralítico se levanta lentamente e sai dizendo:)
Paralítico - Obrigado, Deus, que tu me dás a liberdade para viver a vida de acordo com tua vontade. Olha também para os meus amigos que me trouxeram até aqui, repartindo comigo o amor...
W - Jesus, Mestre! Tem gente que não gostou disso que aqui aconteceu.
Jesus - É verdade. Isto acontece porque algumas pessoas se acham mais importantes do que a maioria do povo, de vocês.
Ç - Será que nunca vão aprender o que tu nos ensinas?
Jesus - Sabem: certa vez uma agricultora saiu a semear. E ao semear, uma parte da semente caiu à beira do caminho. Foi pisada e as aves a comeram. Outra parte caiu em terra cheia de pedras. Cresceu um pouco, mais secou logo por falta de humildade. Outra parte caiu no meio de espinhos e sujeiras. Quando começou a crescer os espinhos e os inços a sufocaram. Outra parte caiu em terra boa. Cresceu e produziu a 100 por 1. (Quando Jesus termina de contar esta parábola, um dos dois amigos se levanta e diz:)
A - Realmente tu és o Cristo, o Filho de Deus, que vem nos libertar de tudo o que nos prende, de todos que nos exploram e nos maltratam.
B - Jesus. Fortalece-nos afim de que possamos acordar e vem o sentido real das coisas que tu nos ensinas, das coisas que acontecem contigo, o Natal...
A - Mestre. Lá no nosso tempo estamos festejando o teu aniversário. Mas muitas pessoas já se esqueceram o que significa festejar o teu Natal.
B - É verdade! Liberta-nos, Jesus, para viver a vida!
A - Assim, a gente vai poder festejar de verdade. E não vamos estar sozinhos, mas todos vão estar juntos.
B - Não um querendo ser mais que o outro, mas um ajudando ao outro para se ter uma vida que é realmente vida.
A - A gente viu pastores vestidos quase como mendigos, pessoas gritando por vida, pessoas querendo saber o que fazer para ter vida. Isto foi algo maravilhoso para nós.
Jesus - Amigos! Vocês são meus irmãos. Vocês viram algumas coisas de minha vida. Vocês que vivem em comunidade, vocês que se juntam, se unem para resolver os seus problemas, vocês podem ter a certeza: Eu estou com vocês nesta caminhada, nesta luta por  libertação, salvação, vida. Eu estou junto com vocês, agora no meu aniversário, no meu Natal. Justamente porque é vida que eu dou para vocês!
B - Jesus, podemos cantar um canto? (Jesus faz que sim com  a cabeça).
Todos os atores cantamUTOPIA.


O Natal que Ele quer 13

O NATAL QUE ELE QUER
1. Tipo: Entrevista na TV, de fácil compreensão.
2. Época: Atual.
3. Mensagem: A entrevista apresenta a concepção de pessoas, de diferentes raças e países, sobre o Natal. No final há um apelo para festejarmos o Natal como Cristo o quer.
4. Participantes: Dois locutores (um moço e uma moça), três repórteres; 6 personagens: hindu, japonês, russo, israelita, ocidental e mulher comum;  grupo de canto (ou canto da comunidade); dois câmeras.
5. Requisitos e cenário: No centro encontram-se os dois locutores. Em cada lado, os repórteres entrevistam pessoas dos diferentes povos, trajadas tipicamente. Na frente das cortinas o grupo de canto.
Na primeira cena, só aparecem os locutores. As cortinas dos dois palcos ficam fechadas.

Cena I
1* Locutor: Senhores telespectadores, boa noite. No ar: Repórter Internacional, com as últimas notícias em toda a terra.
Técnica: Música de Natal.
2* Locutor: Está revolucionando o mundo a notícia do nascimento de um menino em Belém de Judá, pequena cidade no Oriente Médio. Fontes fidedignas informam que tudo indica ser o Messias há milênios esperado pelo povo escolhido. Nossa repórter externa trará até nossos telespectadores como está sendo recebida a notícia nos diversos pontos da terra.
1* Repórter: (com microfone portátil, entrevista pessoas na Índia. Grupo caracterizado, algumas pessoas sentadas no mercado, por exemplo). Que é que o Senhor acha dessa notícia da chegada do Messias?
Hindu: Nem mesmo tomamos conhecimento. Com todos os nossos problemas, a fome que mata milhares de hindus, a doença, a miséria, acha que ainda temos tempo para nos preocuparmos com o nascimento de uma criança? Já as temos demais aqui. O que queremos é a solução para o que nos aflige. Fazemos sacrifícios, caminhamos milhares de quilômetros para nossas purificações no rio Ganges e, no entanto, acabamos por morrer sem paz e sem certeza de um futuro melhor, a não ser que Brama se apiede de nós... Não sei o que nos espera...
Técnica: Música triste.
1* Locutor: Tivemos assim, senhores, uma visão da receptividade da noticia na Índia. Vamos pedir que fale nosso repórter no Japão.
2* Repórter: (Entrevista povo japonês caracterizado). Como está sendo recebida aqui a notícia do nascimento do Príncipe da Paz?
Japonesa: Alguns dos nossos já sabem e até acreditam, mas são poucos. Também há poucas pessoas aqui que nos falam do acontecimento. Temos já bastante religião e o culto a Buda já nos ocupa bastante tempo. É certo que precisamos voltar ao mundo várias vezes e até transformados em animais para purificação, mas um dia alcançaremos o Nirvana...
Técnica: Música oriental.
2* Locutor: Vamos focalizar nosso representante na Rússia. Alo, Alexandrovich, alo!
1* Repórter: Que acha o camarada dessa “balela” que chegou até aqui, do nascimento do Filho de Deus?
Russo: (Com medo) Filho de Deus? Isso seria maravilhoso e não posso crer, mas bem que precisamos de um acontecimento que nos viesse trazer a paz...
Técnica: Música ou canto que fale da paz.
1* Locutor: Alo, João Marcos, como está sendo recebida aí na Palestina a notícia do nascimento do Menino de Nazaré?
2* Repórter: E, então, como é que estão recebendo o nascimento do Messias?
Israelita: Pare de blasfemar. Não vê que se trata de mais um impostor? Acha que a guerra continuaria, que as perseguições prosseguiriam se chagasse o verdadeiro Príncipe da Paz? Pode vir alguma coisa boa de Nazaré? Pergunte aos antigos e à tradição, e verá que o Filho de Davi chegará como um libertador...
2* Locutor: Se Jesus nascesse hoje, certamente a sua recepção teria sido mais ou menos assim. Com incredulidade por alguns, com indiferença por outros, absolutamente ignorado por uma maioria. No entanto, ele nasceu, cresceu, viveu, morreu para salvar o mundo. Já lá vão 1996 anos. Como será que estamos comemorando este fato, o mais importante da História?
Técnica: (Música moderna, bem barulhenta). Pessoas em festa de beber, irreverência, etc.
1* Repórter: (Entrevista um dos festejadores). Que é que o Natal representa para você? Chegue aqui no microfone e fale. Você está se dirigindo a milhares de pessoas.
Ocidental: (Com roupas bem modernas). Para mim o negócio é diversão. Qualquer motivo, qualquer feriado, to na minha de aproveitar...
1* Repórter: Mas e o nascimento do Filho de Deus não lhe diz nada?
Ocidental: Já te disse que o meu negócio é diversão.
1* Locutor: Vamos colher mais impressões. Fala, Nilo.
2* Repórter: (Cena na rua, com pessoas com pacotes de presentes, garrafões, etc. ...) A senhora aqui, por favor, o que acha do Natal?
Mulher: Uma exploração, sabe? É fila pra comprar tudo. Tudo uma carestia, tem que se dar presentes pra todo mundo, se não reparam. Vou lhe dizer moço, pra mim é uma canseira...em todo o caso, Feliz Natal pra você.
1* Repórter: Obrigado! Pra senhora também...
2* Locutor: Estamos tendo uma visão do nosso Natal. Filas, gente comprando, música por todo lado, gente pobre pedindo, gente rica dando presente pelo menos no dia de hoje, o correio sobrecarregado com cartões e telegramas... Será isto o que agrada a Deus?


CORTINA
Cena II
1* Locutor: Vamos ter hoje um Natal diferente. Vamos procurar fazer a vontade desse Deus que se fez Menino no Natal.
Grupo de Canto: (Um hino alegre de Natal).
Jovem: Poesia.
2* Locutor: Isto é o que Cristo quer, nascer em cada pessoa, reinar durante todo o ano, ser uma realidade durante todo o tempo.
Todos: Canto final!

Reneu e Vera Prediger
Paróquia de Barranco - RS


Natal 08

NATAL - VIDA DA GENTE
CENA I
Ela se desenrola na sala de uma casa normal. Estão todas as pessoas estão sentadas, olhando TV.
Maristela: Que droga! Nem na noite de Natal tem algo melhor pra se fazer. Ficar olhando televisão... Que coisa sem graça.
Pai: Calma, minha filha. É assim mesmo.
Mãe: É Maristela. Natal é festa da paz. Momento em que as pessoas se unem para lembrar o nascimento de Jesus Cristo.
Pai: É tão lindo ver todos juntos, uns irmãos dos outros. Olha lá, até o presidente vai dizer alguma coisa agora... (o pai se levanta e vai dar volume no aparelho de TV).
Voz da TV: Querida gente do Brasil! Hoje é Natal. Data maravilhosa. Festa em todo os lares. Todos somos irmãos neste gigante país. Vivemos em paz. Paz que levou à uma superprodução de grãos novamente neste ano que está chegando ao fim. Paz que podemos sentir no campo, na cidade. Paz que... (apagam-se as luzes!)
Roberto: Ainda bem que a luz se foi. Não agüentava mais escutar isso, aí, estas bobagens todas. Ele diz isto porque não está aqui com a gente, na luta do dia-a-dia.
Estevão: Pai, por que morre tanta gente de fome no Brasil se sempre se tem uma superprodução?
Pai: Que é isto? Hoje, Natal, agora não é momento de se falar disso...
Maristela: E agora. Vamos fazer o que? Já estava tudo um saco antes. Agora piorou. E se a luz não voltar logo, nem vai ter mais o baile...  (neste tempo, a mãe volta com algumas velas). Ei, eu tenho uma idéia: Que tal se a gente encenasse a história do Natal?...
Roberto: De novo aquela história de estrebaria, pastores, anjos?...
Estevão: Não, mano. Eu estava pensando em outra coisa que também aconteceu na época do nascimento de Jesus. Tem na Bíblia, (pega a Bíblia que está em cima da mesa) aqui, é, em Lucas 1.46-55. São palavras muito bonitas que dá pra gente encenar. Eu vou ler elas pra vocês. (todos se juntam em volta de Estevão, que lê o texto - faz-de-conta - apenas pra família).
Mãe: Mas não vai ser muito difícil fazer isto? Eu nem tenho estudado pra essas coisas...
Estevão: Que é isso, mãe! Vai dar, sim. Vamos experimentar?
Todos: Vamos! (saem todos de cena, deixando o cenário vazio).

CENA II
Nesta cena, que acontece num pátio, num jardim, Maristela faz o papel de Maria, a mãe o de Isabel e Roberto é o Anjo. Maria está caminhando entristecida pelo pátio. Ao encontro dela vem o Anjo.
Anjo: Oi! Tu és a Maria?
Maria: Sim, sou eu!
Anjo: Que bom que te encontrei. Mas que cara é esta, Maria? Alegra-te, fica feliz! Tu és favorecida, pois Deus está contigo!
Maria: Mas por que me dizes isto? É alguma brincadeira?
Anjo: Que nada Maria. É que de ti vai nascer uma criança que será chamada Filho de Deus. E ela vai reinar para sempre entre o povo que luta ansiosamente pela vida de paz e justiça.
Maria: Mas como  vai nascer alguém de mim se eu nem estou grávida?
Anjo: Maria, Deus tem poder para que isto possa acontecer.
Maria: Mas porque justamente comigo vai acontecer uma coisa destas? Por que comigo, mulher pobre aqui desta pobre vila de Nazaré?  (o anjo ameaça ir embora. Percebendo isso, Maria prossegue...)
Maria: Aqui está a servidora do Senhor. Que se cumpra em mim conforme a tua palavra. (o anjo sai do cenário. Maria caminha pelo cenário, dando a idéia de uma longa caminhada a fim de se encontrar com Isabel. Isabel entra em cena)
Isabel: Oi, Maria. Que bom que tu veio!
Maria: Oi, Isabel.  Queria ver como tu estás. Já está quase pronto o enxoval de teu nenê? (Maria vai chegando perto de Isabel para ver o que ela tem nas mãos).
Isabel: Quase. Queres ver? (mostra algumas peças para Maria) Nossa, o nenê deu um chute forte...
Maria: Talvez seja pra mostrar que ele também quer conversar com a gente!
Isabel: Maria, faz tempo que eu quero te dizer alguma coisa. E hoje me deu coragem. Sabe, Maria, tu és bendita entre nós, mulheres. E bendito é também o teu filho que vai nascer! (Maria e Isabel se abraçam)  (o grupo canta a “Canção de Maria”).

CENA III
(volta-se para sala onde a família está novamente reunida)
Estevão: (contente) Viu só como a gente conseguiu encenar esta história!
Pai: Pois é. Eu fiquei olhando o tempo todo...
Roberto: Sabe, eu nunca tinha prestado atenção nesta história da Bíblia. Nunca me interessei por esta história destas duas mulheres, a Maria e a Isabel.
Mãe: E como esta história é verdadeira. Quando estava representando a Isabel, me lembrei que, quando eu estava esperando cada um de vocês, eu também me juntava com minhas amigas pra conversar sobre o enxoval, sobre a gravidez, sobre tantas coisas de mulher. Até nas reuniões da comunidade a gente falava disso, das nossas alegrias, dos nossos problemas...
Maristela: O que mais me chamou atenção foi aquela canção de Maria. Como aquilo tudo que ela cantou está perto da nossa realidade. As coisas ruins que ela canta são as mesmas coisas ruins que a gente sente nos dias de hoje.
Estevão: É mesmo: poderosos, ricos, opressores. E a gente fica feliz ao saber que todos eles são derrotados, que Deus está junto com o seu povo que luta para viver a vida verdadeira.
Maristela: E mais bonito é que quem descobre isto é uma mulher. É ela que sente tudo isto, é ela que canta a vida...
Mãe: É mesmo. E ela era pobre, de uma vila pobre. Talvez nem tinha estudo...
Maristela: Que nem a senhora, mãe. Que nem a gente que só tem até a 4o série porque os poderosos de hoje não querem que a gente fique sabendo das coisas...
Pai: Eu estava aqui pensando. Interessante é que a Maria e a Isabel não tiveram vergonha de se juntar e dizer uma para a outra o que estavam sentindo. E me lembrando de outras histórias que aconteceram na época de Jesus, também dá para ver que o pessoal discutia seus problemas, suas dificuldades e Jesus aconselhava e mostrava o que tinha que ser feito na vida aqui na terra. As alegrias também eram festejadas em conjunto. E nós, hoje, somos completamente diferentes. Pensamos cada um por si, ninguém se preocupa com o outro. Até eu fiz isto agorinha mesmo, quando o Estevão perguntou porque morria tanta gente no país de superprodução. Estas duas mulheres, Maria e Isabel, me ensinaram, de novo, qual é a nossa tarefa como comunidade do povo de Deus.
Roberto: (abraçando-se ao pai) Que bom que a gente descobriu tudo isto. Que Natal bonito! Natal da gente mesmo. A gente descobriu de novo que Deus escolhe as pessoas fracas, pobres, para mostrar o seu amor.
Mãe: E não é só isso, filho. Deus está com a gente, nos dando forças para lutar pela vida a fim de que o “rei” possa reinar sempre.
Pai: Natal é vida da gente - vida da gente...
Maristela: Da Maria, mulher e pobre, nasce a vida. Vida verdadeira para o povo de Deus. Vida que é justiça, comida, escola, terra, casa, trabalho, organização, libertação... Vida que é vida. Vida que é... (volta a luz!)
TODOS: A luz voltou!


Natal 40 jogral

TEATRO DE NATAL

Autor: Valdemar Gaede -  Palmeira de Santa Joana, Itaguaçu – ES
Personagens principais (falam):

Papai Noel (fantoche)
Pastor  de ovelhas(fantoche)
Anjo
Maria e José
César Augusto
Herodes
Jesus (adulto)
Pedro
André
Pastor de ovelhas



Personagens secundários(não falam):

4 Pastores de ovelhas
3 Magos
10 Apóstolos
Anjinhos

Jogral final: 6 pessoas
Observações:   a) uma mesma pessoa pode fazer vários personagens;
b) é bom usar músicas, por exemplo, para separar as cenas
c) é bom usar o recurso da iluminação;
d) a cortina é opcional;
e) pode haver pelo menos dois cenários: um onde os fantoches falam e outro onde as demais cenas são apresentadas;
f) os fantoches Papai Noel e Pastor podem ser substituídos por pessoas.

Música

Papai Noel: (Saudando o público) Boa-noite pessoal! Todos vocês já me conhecem! Sempre venho alegrar as festas de Natal. Este que está ao meu lado também é conhecido de vocês(apontando para fantoche pastor de ovelhas)
Ele faz parte da história de Natal que encontramos na Bíblia. Ele é um daqueles pastores de ovelha lá de Belém, que participou bem de perto do nascimento de Jesus. Vamos dar um nome para este pastor? Vamos chamá-lo de Matias? Pois bem, Matias, juntamente com seus companheiros, foram os primeiros a ficar sabendo do nascimento do Salvador, lá no meio do pasto, junto com suas ovelhinhas, numa noite bem escura. Nós dois viemos aqui hoje para ajudar todos vocês a se lembrarem do grande acontecimento do Natal. Mas não vamos apenas nos lembrar. Queremos experimentar também, um pouco da alegria que Maria, José, os pastores, os magos e todas as outras pessoas que conviveram com Jesus experimentaram em suas vidas.
Matias: Boa-noite, gente boa. Sejam todos bem-vindos para esta celebração de Natal. Vamos todos nos alegrar juntos. O nascimento do Salvador é motivo de alegria para todos nós. Boa-noite, Papai Noel! Parece que o Sr. está muito alegre hoje, heem?
Papai Noel: É Matias, estou muito contente! Fico muito feliz vendo tanta gente comemorando o Natal. Fico mais feliz vendo tantas criancinhas querendo ouvir a história do nascimento de Jesus.  Mas... falando em alegria...quero fazer uma pergunta para você Matias. Como é que foi naquela época do nascimento de Jesus. Era tão bonito e tão alegre como nesta véspera de Natal? Ouvi dizer que da história do nascimento de Jesus também faz parte um grande sofrimento. É assim mesmo? O que você me diz, Matias?
Matias: Certo, Papai Noel! Eu vou contar um pouco deste sofrimento para nosso querido público. Precisamos voltar um pouco para trás no tempo. Vamos lembrar um pouquinho da história do povo de Israel. O povo de Deus teve momentos de muito sofrimento. Por exemplo: uma vez foi escravizado pelos faraós lá no Egito.  Quem se lembra desta história bíblica? Mais tarde, este povo foi levado escravo para outras terras estranhas. O povo de Deus sofreu muito por causa da opressão e exploração dos poderosos. A época do nascimento de Jesus era então uma época muito difícil. Os romanos tinham invadido as terras do povo de Israel e maltratavam o povo.  O povo estava cansado de lutar e sofrer.
Papai Noel: Então a situação estava difícil? Mas, me diz uma coisa, a esperança do povo por libertação estava perdida mesmo?
Matias: Não, Papai Noel! No meio do povo havia uma grande esperança. Esperança por libertação. O povo acreditava que, assim como Deus os tinha libertado da escravidão no Egito e de outras escravidões, assim também os livraria do poder dos romanos. E não somente dos romanos. O povo nunca seria mais escravo de ninguém.
Papai Noel: Mas como iria acontecer isso? De que jeito Deus iria libertar o povo  de todas as escravidões e opressões?
Matias: Deus mandaria um  Salvador. O povo esperava a chegada do Messias. O povo esperava a chegada do Cristo. Os profetas anunciavam a chegada do Salvador que iria libertar o povo para sempre. Era a esperança da grande libertação.
Papai Noel: Mas, então, vamos ao que interessa.  Isso aconteceu de verdade? A esperança da chegada do Messias se realizou?  Como esta esperança se concretizou?
Matias: Isso nós vamos assistir agora. Deus realizou a esperança de libertação de uma forma muito humilde. Ninguém esperava que fosse acontecer desse jeito. Quando aconteceu, poucos acreditaram que ali estava acontecendo uma coisa importante. Mas vamos olhar esta história humilde mais de perto.

Música

Matias: Uma pobre e humilde moça, chamada Maria foi escolhida por Deus. Você terá uma criança.  O nome desta criança vai ser Jesus. Jesus vai ser Filho de Deus que vai reinar para sempre. (Maria está dentro de casa. Entra o anjo da anunciação)
Anjo: Alegre-se muito, Maria! Deus está com você! (Maria fica perturbada e pensativa). Não fique assustada Maria. Você, pobre e humilde moça, foi escolhida por Deus. Você terá uma criança. O nome desta criança vai ser Jesus. Jesus é o Filho de Deus que vai reinar para sempre.
Maria: Aqui está a serva do Senhor. Que se cumpra em mim, conforme sua palavra! (O anjo se ausenta. Maria se levanta e diz:). Agradeço a Deus e estou muito alegre. O Senhor olhou para uma humilde moça. Sou muito feliz. Deus agiu com muita bondade. Espantou os orgulhosos, derrubou os poderosos dos seus tronos e valorizou os humildes. Encheu de bem os famintos e despediu vazio os ricos. Ele se lembrou do seu povo sofrido e cumpriu a promessa que fez aos nossos antepassados.

Música

Papai Noel: Puxa vida, o começo da história é bonito mesmo! Mas... continua, quero ouvir mais!
Matias: Calma, Papai Noel, já vem aí uma outra parte da história.  Essa moça, chamada Maria, tinha um companheiro, chamado José.  Vamos conhecer esse José?  (Aparece José, com seus instrumentos de carpinteiro, juntamente com Maria. Ficam trabalhando na carpintaria).  José era um simples carpinteiro. Ganhava o pão de casa dia fabricando mesas e cadeiras. Mas vamos deixar Maria e José trabalhando.

Música

Matias: Aconteceu que Maria e José tiveram que fazer uma viagem. Eles tinham que cumprir uma lei que César Augusto  tinha inventado. Vamos ver quem era este César Augusto e que lei ele tinha inventado.  (aparece César Augusto)
César Augusto: Eu sou o César Augusto. Sou muito forte e poderoso. Já fiz muitas guerras e ganhei todas. Domino sobre muitos povos. Conquistei muita terra com a ajuda do meu poderoso exército. Até esse povinho de Israel eu conquistei. Agora preciso saber quanta gente já faz parte do meu império. Preciso Ter controle sobre todos os povos conquistados. Vou fazer o seguinte: vou ordenar um recenseamento. Quero saber o nome de cada um, onde mora e o que faz,. Todo mundo vai Ter que se alistar na cidade em que nasceu. Pronto. Está decidido. Quem não cumprir vai ser castigado.

Música agressiva

Matias: Pois é! Foi assim. Os governantes tinham medo de o povo se revoltar. Por isso, César Augusto ordenou o recenseamento.  Também José e Maria tiveram que cumprir o decreto. Tiveram que viajar até Belém para fazer o alistamento. (José e Maria entram pela porta da Igreja, pelo corredor. Cansados, conversando)
José: Finalmente chegamos em Belém, Maria!
Maria: Ainda bem que chegamos. Eu não agüento ,mais caminhar. Você sabia que está nos dias da nossa criança nascer?
José: E se for hoje, onde vamos pernoitar! Já pedimos pousadas em rodas as hospedarias que existem aqui em Belém. Estão todas entupidas de gente.  Veio gente de todos os lados para fazer o recenseamento.
Maria: É, José! Não adianta procurarmos vagas nas hospedarias. Precisamos nos ajeitar em qualquer outro lugar. Tem muita gente descansando em grutas., debaixo de árvores e estrebarias.
José: Não tem outro jeito Maria! Vamos fazer o mesmo. Lá na frente eu vi uma estrebaria. Vamos nos abrigar lá.

Música

Papai Noel: Mas... que crueldade! Tanta gente sofrendo por causa do decreto do César Augusto!
Matias: Era realmente uma situação de muito sofrimento para todo o povo. E ninguém poderia deixar de obedecer a lei de César. Senão, já viu, né?
Papai Noel: Mas me conte, como foi a história dos pastores de ovelhas?  Já que você era um desses pastores, estou curioso para saber sobre isso.
Matias: Nós, pastores de ovelhas, passamos a ser uma classe muito desprezada,  quando os romanos tomaram conta da nossa terra. Antes não. Antes era bom ser criador de ovelhas. Mas, quando os romanos conquistaram nossa terra, passamos a ser escravos dos outros.   Nem éramos contados como gente. Os romanos diziam que éramos gente que não prestava. Mas, nesta noite em que Maria e José pernoitaram em Belém,  algo de muito especial aconteceu conosco. Veja só:

Música

(Os pastores estão cuidando do seu rebanho. Aparece um anjo. Os pastores se assustam).
Anjo:  Não tenham medo. Eu trago uma  notícia de grande alegria para vocês e para o povo: hoje, aqui em Belém, nasceu o Salvador, para vocês, que é Cristo o Senhor! Vão por aí e vocês encontrarão uma criança, enrolada em panos e deitada num cocho de animal. (aparecem outros anjinhos cantando. Depois os anjos se retiram).
Pastor: Vamos até a cidade para ver os acontecimentos que Deus deu a conhecer! (Os pastores saem apressadamente).

Música

Papai Noel: Então, se entendi bem, foram vocês, pobres e desprezados pastores, os primeiros a receber a notícia do nascimento do Messias....
Matias: Isso mesmo! Deus escolheu os mais desprezados e oprimidos e lhes trouxe a notícia da libertação. E nós nos encarregamos de espalhas as notícias por todos os cantos.
Papai Noel: E como foi? Vocês realmente encontraram a criança, assim como os anjos tinham anunciado?
Matias: Encontramos sim. Foi justamente como o anjo tinha falado.

Música

(Aparecem Maria e José com a criança na estrebaria. Logo entram os pastores e se aproximam da manjedoura. A música toca por algum tempo.)
Papai Noel: Foram só vocês, pastores, que viram o nascimento do Salvador mais de perto?
Matias: Não. Dizem que vieram também uns sábios, uns estudiosos, de uma terra muito distante, para adorar o menino Jesus.

Música

(Entram os magos e oferecem seus presentes ao menino Jesus) .
Papai Noel: E daí? Acabou a história?
Matias: Não. Tenho muita coisa boa prá contar ainda. Desde muito cedo o nosso libertador começou a ser odiado e perseguido por nossos opressores. Herodes soube da notícia de que tinha nascido o Messias do povo oprimido. Vamos ver como Herodes ficou com raiva. (Entra Herodes).
Herodes: Estão falando por aí que nasceu uma criança que vai libertar o povo que nós conquistamos. Eu não admito isso. Eu sou o rei, e ninguém mais. Preciso acabar com essa notícia boba. Sou capaz de tudo para acabar com essa conversa. Essa notícia do nascimento do Libertador do povo de Israel não pode se espalhar.  Libertação...! Que libertação , que nada! Esse povinho acha o quê?  Quem disse que vão nos derrubar do trono? O trono é meu e de mais ninguém! (Herodes sai de cena).
Matias:  Pois é! Nossos opressores ficaram muito furiosos. Mas Deus salvou o menino das mãos sangrentas deles. Jesus foi crescendo e plantando no meio do povo oprimido A SEMENTE DA LIBERTAÇÃO.

Música

(Jesus adulto, ensinando o povo).
Jesus:  O espírito de Deus está sobre mim. Ele me escolheu para trazer a boa notícia aos pobres. Ele me enviou para trazer a libertação aos cativos, para restaurar a vista aos cegos, para pôr em liberdade os oprimidos e para anunciar a chegada de um novo tempo. Felizes são vocês, os pobres, porque o Reino de Deus é de vocês! Felizes são vocês que agora têm fome, porque a fome de vocês vai acabar! Felizes são vocês que agora choram, porque vocês, novamente, poderão sorrir! Felizes são vocês, que agora são odiados, rejeitados, injustiçados. Alegrem-se muito, porque esse tempo vai passar! Venham a mim, todos que estão cansados e oprimidos! Eu vou ajudar vocês! Coitados de vocês que agora têm tudo! Coitados de vocês que agora tem a barriga cheia! Coitados de vocês, que agora debocham do povo. Coitados de vocês que agora são elogiados!

Música

Papai Noel: Puxa vida! Isso foram palavras pesadas para certas pessoas, hem Matias?
Matias: É, Papai Noel! Mas São palavras de Jesus! Estão registradas no Evangelho de Lucas, capítulos 4 a 6.
Papai Noel: Mas, me diga uma coisa, Matias. A libertação do povo de Deus já aconteceu?
Matias: Já sim e ainda não.
Papai Noel: Como assim, não entendi!
Matias: É o seguinte, Papai Noel: Jesus colocou muitos sinais de libertação, de salvação aqui no mundo. Curou, libertou, chamou ao arrependimento, denunciou e combateu as coisas erradas que acontecem no mundo. Tudo isso ele fez com muita garra durante sua vida inteira. ELE PLANTOU A BOA SEMENTE AQUI NO MUNDO. Essa semente agora vai crescer até se transformar numa árvore de libertação,  que vai tomar conta do mundo inteiro.  Desde muito cedo, Jesus escolheu pessoas para ajudarem essa semente de libertação crescer. Ele chamou discípulos. Ele chamou apóstolos para ajudarem a espalhar a boa semente. Escolheu pessoas simples e desprezadas para se colocarem a serviço da semente do Reino de Deus. Vamos ver.

Música

(Dois pescadores arrumando suas redes de pesca)
Pedro: É, meu irmão André. Hoje a pesca estava fraca! Não pegamos quase nada. Se amanhã for assim, não sei onde vamos parar.
André: Não desanime não, Pedro. Deus vai nos ajudar. Não temos outra profissão. Temos que pelejar até conseguirmos pescar mais peixes.

Música

(Jesus passa e fala)
Jesus: Venham irmãos! Me acompanhem! Larguem suas redes e me acompanhem! Vocês agora vão pescar pessoas para o Reino de Deus!  (Jesus vai caminhando, seguido de Pedro e André. Passa pelo meio da Igreja e vai convidando os outros apóstolos que estão sentados no meio do público). Tiago!... Felipe!... Bartolomeu!   Mateus!... Tomé!... Simão!... Zelote!... Judas, filho de Tiago!... Judas Iscariotes! Venham! Sigam-me! Deus precisa de vocês! Deixem tudo para trás e sigam-me! (Quando todo o grupo está reunido Jesus lhes dá uma grande tarefa:).

Música de fundo

Jesus: Toda autoridade me foi dada no céu e na terra. Vão agora e transformem todos os povos em meus discípulos. Batizem em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Ensinem os outros a seguir tudo o que tenho ensinado a vocês. Vou estar com vocês todos os dias até tudo acontecer. Eu envio vocês como ovelhas para o meio dos lobos. Sejam espertos como uma serpente e simples como uma pomba.  Tenham cuidado com certas pessoas. Elas vão entregar vocês aos tribunais e vão açoitar vocês. Por minha causa vocês serão levados à presença de governadores e reis. Também lá  vocês devem  testemunhar a mensagem do Reino de Deus.  Através do Espírito Santo, vocês receberão poder e serão minhas testemunhas em todos os cantos do mundo.
Matias: Eu ainda teria muita coisa para contar para vocês sobre tudo o que Jesus fez e ensinou. Sobre os seus sofrimentos, sobre sua morte, sobre sua ressurreição e ascensão. Mas o que importa mesmo é que a SEMENTE DO REINO foi lançada por Jesus e já foi cuidada e regata por muitos discípulos e apóstolos no mundo inteiro. Muitos homens e muitas mulheres como vocês já aceitarem e praticaram a tarefa que Jesus deu aos apóstolos. Muitas testemunhas de Jesus já deram sua vida pela mensagem do Reino de Deus. Agora quem está sendo chamado é você. Você também é uma testemunha de Jesus, uma testemunha da boa notícia de libertação. LARGUE SUAS REDES E SIGA JESUS! (Em seguida é apresentado um jogral. Cada participante segura uma vela acesa na mão).
Todos: Senhor!
1 -  Tu que falaste:
Todos: SEREIS MINHAS TESTEMUNHAS!
2 – Nós queremos ser tuas testemunhas!
Todos: Senhor!
3 – Tu falaste:
Todos: VÓS SOIS A LUZ DO MUNDO!
4 – Nós queremos ser a luz do mundo!
Todos: Senhor!
5 – Tu que falaste:
Todos: VÓS SOIS O SAL DA TERRA!
6 -  Nós queremos ser o sal da terra!
Todos: Ajuda-nos Senhor, ensina-nos Senhor, envia-nos Senhor!
1 – Sou testemunha quando quero toda a libertação do teu povo!
2 – Sou sal da terra quando contamino os outros com fé e esperança!
3 – Sou luz do mundo quando faço a tua mensagem de vida brilhar neste mundo de morte!
Todos: Ajuda-nos Senhor, ensina-nos Senhor, envia-nos Senhor!
4 -  Sou testemunha quando não tenho medo de proclamar a tua vontade!
5  - Sou sal da terra quando combato as injustiças e a opressão!
6 – Sou luz do mundo quando oriento aqueles que estão desorientados!
Todos: Ajuda-nos, ensina-nos Senhor, envia-nos Senhor!
1 – Sou testemunha quando falo do teu amor!
2 – Sou sal da terra quando ajudo a transformar a vida do próximo!
3 -  Sou luz do mundo quando consolo os entristecidos!
Todos: Ajuda-nos Senhor, ensina-nos Senhor, envia-nos Senhor!
4 -  Sou testemunha quando me envolvo no trabalho da Igreja!
5 – Sou sal da terra quando luto e trabalho pela preservação do meio ambiente!
6 -  Sou luz do mundo quando ajudo os doentes, os pobres, as crianças, os idosos, os enlutados, os portadores de deficiências, os presos, os desprezados.
Todos: Ajuda-nos Senhor, ensina-nos Senhor, envia-nos Senhor!
Você também é testemunha!
Você também é sal da terra!
Você também é luz do mundo! (Todos estendem os braços para frente com as velas acesas e vão em direção ao público para distribuí-las).

FIM
Copiado por Vitorino Schram.


Natal 39

Teatro de Natal

Autor desconhecido
Personagens: 

uma criança que pretende  fazer um presépio
uma pessoa vestida de estrela
uma pessoa vestida de sino
uma pessoa vestida de galo
uma pessoa vestida de burrinho
uma pessoa vestida de boizinho ou vaquinha
três pessoas vestidas de anjo


Cenário: Uma sala, na qual está sendo arrumado um presépio. Uma pequena mesa, uma manjedoura grande vazia(que seu tamanho combine com o tamanho das figuras do elenco), galhos de pinheiro espalhados, uma cadeira sobre a qual está um avental. Mais móveis para caracterizar uma sala. Num canto, sem se mexer, pessoas trajando as fantasias que representam alguns personagens do presépio.
Abrem-se as cortinas
(Entra uma menina ou jovem  com um casaco, carregando vários pacotes, como se estivesse chegando da rua. Entra apressada, coloca os pacotes sobre a mesinha, tira o casaco , coloca o avental e diz:)
Jovem: Hoje tirei o dia para arrumar meu presépio. O tempo está passando e o Natal está aí. Quero ver se preciso renovar alguma coisa e se os enfeites do ano passado estão em condições de figurarem este ano. Mas... este ano acho que vou colocar menos coisas no presépio. Porei só o necessário. Creio que ficará bem mais bonito. No Natal passado coloquei coisas de mais.
(Enquanto vai abrindo os pacotes e tirando de dentro deles barbante verde para prender a estrela, aproxima-se das figuras no canto da sala. Pega a estrela pela mão fazendo-a dar passos para frente, olha-a como se a estivesse examinando. Diz:)
Jovem: Aqui está a estrela... (Imediatamente, como se tivesse acordado a estrela diz:)
Estrela: Espere lá... eu não sou uma estrela qualquer. Sou a Estrela dos Pastores. Não me diga que você vai me suprimir este ano no presépio. Sou importantíssima. Basta dizer que fui eu quem ensinou o caminho do presépio aos pastores que estavam com seus rebanhos lá nos campos... Se não fosse eu, como é que eles iriam chegar até Jesus? E depois... não foi só isso. .. Quem guiou os Reis Magos lá do Oriente até Belém? E olhe que eles me seguiram direitinho até a gruta onde estava Jesus. Acha que seu presépio pode passar sem mim?
Jovem: Não, Estrela dos Pastores! Você é mesmo importante. E teve um grande papel no Natal. Vou pensar muito no seu caso.(A estrela feliz, passa para o outro lado. O sino sai do seu lugar e se aproxima)
Sino: Eu sou o Sino de Natal. Anunciei festivo o nascimento de Jesus! E até hoje, no Natal, toco alegremente em todas as igrejas, anunciando que Jesus nasceu novamente em todos os corações. A música dos sinos é uma oração que em todos os povos e em todas as raças é a mesma e sobe até o céu., glorificando ao Deus menino que nasce para a salvação do mundo.
Jovem: É mesmo Sino. Você deve agradar muito ao bom Deus, porque sua voz sobe de todas as partes do mundo e é como se os corações de toda a humanidade subissem com você, num cântico de louvor até o céu. Eu admiro, Sino de Belém, a sua contribuição no Natal. (O Sino vai ter com a Estrela, contentíssimo. Vem para o centro o galo).
Galo: E você já viu presépio sem galo? Eu também sou muito importante! Fiquei empoleirado no alto do presépio e à meia-noite, quando Jesus nasceu, cantei com todas as minhas forças. Cantei o meu canto mais bonito para festejar o nascimento do Menino Jesus. A primeira homenagem dos bichos. Muito antes das ovelhas chegarem eu já estava lá.
Jovem: É verdade! Você é mesmo feliz! (O galo vai para o lado e vem o boizinho ou vaquinha e o burrinho).
Os dois: E nós tivemos a honra de acolher e aquecer o Menino Jesus!
Burrinho: A noite estava tão fria e Jesus, tão pequenino, sem Ter agasalhos. Acolhemos aquele menino que tinha acabado de nascer e o aquecemos com nosso calor. Estava tremendo de frio, tão pobrezinho, estava deitado numa simples manjedoura, mas... que no entanto era o rei do céu e da terra.
Boizinho ou vaquinha: Naquela hora nenhuma pessoa podia dar agasalho para ele.  Foi preciso que nós dois, burrinho e vaquinha (ou boizinho) (cada um diz sozinho, apontando para si) viéssemos aquecê-lo.
Jovem: Vocês tem razão. Eu sinto-me envergonhada pelas pessoas que não quiseram reconhecer a Jesus. Vocês fizeram muito bem. Imaginem a alegria de Maria ao ver vocês aquecendo o Menino. Ela devia estar tão aflita e triste por não poder dar-lhe o conforto que ele merecia... Vocês foram muito úteis no presépio.(Voltando-se para os anjos)  E vocês, anjos?
1ª Anjo: Nós somos da côrte celeste. Representamos a alegria que houve no céu quando nasceu o Salvador. Viemos adorar a Jesus, Deus feito gente! Glorificamos ao Senhor! E o nosso cântico é repetido todos os anos, em todas as partes do mundo...
Os três anjos: “Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens por Ele amados.!
Jovem: (triste) Eu não sei o que fazer diante de vocês. Estou vendo em tudo isso que a que menos tem agradado a Jesus sou eu. Vocês fizeram tanta coisa por ele... E eu até faço de vez em quando uma bobagem, que deve entristecer a Jesus... Estou tão triste. E até acho que não mereço preparar o presépio de Jesus...
Todos juntos: Não diga isso...
Burrinho: (Com ar misterioso) Sabe, de todos nós, você é a mais feliz...
Jovem: Por que, burrinho?
Burrinho: Porque você tem uma alma. Tem inteligência, e sua vontade é livre. Você pode escolher entre o bem e o mal. Tudo quanto fizer de  bom, é opção sua. Já pensou nisso?
Jovem: É verdade... Eu sinto que se quisesse de verdade, eu poderia ser bem melhor do que sou. Poderia, com a ajuda de Deus, vencer meus defeitos e ser uma pessoa melhor...
2º Anjo: (Com ar confidencial) E sabe , que até temos um pouco de inveja de você?
Jovem: Anjo, por quê?
3º Anjo: Porque os anjos não podem, como você, unir-se a Jesus, recebendo-o dentro do coração. E nEle, unir-se a todos em comunhão. Você pode desejar felicidade maior?
Burrinho e vaquinha ou boizinho: Pode agasalhar o Menino Jesus dentro do seu coração, e sempre que agasalhar alguém que não tem roupa e está passando frio, você também estará agasalhando a Jesus.
Galo: Por aí você já pode ver como é querida pelo Menino Jesus.
Estrela: Você também pode anunciar o nascimento de Jesus e guiar as pessoas até ele, ensinando-as a amar o Senhor.
Sino: Como eu, você também poderá levar até o céu a sua prece que é ainda mais agradável a Deus do que a voz do Sino.
Um anjo: A sua vida poderá ser inteiramente um cântico de louvor a Deus se fizer tudo que Jesus ensinou e cumprir todos os dias a sua vontade, além de amá-lo, através das pessoas que necessitam da sua palavra, consolo e ação.
Jovem: (Sorrindo) É pensando bem, acho que vocês têm razão. Gostei muito da nossa conversa... ela me fez refletir e compreender uma porção de coisas que nunca havia pensado antes. Agora sei bem como preparar meu presépio...
Todas as figuras: (Se abraçando) Como é, figuras, vamos lá...
Jovem: Sim, colocarei vocês todos no meu presépio e também vou preparar bem o meu coração para o dia do Natal. Assim posso receber com alegria o Menino Jesus, Todos se abraçam.
     
Fim


Natal 38

SE JESUS CRISTO NASCESSE HOJE...
Autor desconhecido.
Observações: A idéia da história é muito boa, contextualizada, mas não há muitas indicações de cenário nem divisões muito claras das cenas. No entanto, vale a pena conhecer o texto e quem sabe, desafiar um grupo a exercitar sua criatividade, inovando, imaginando como aperfeiçoar esta idéia.
Personagens:

Narrador
Arauto
Garotinho e sua mãe
José
Capataz
Taxista
Enfermeira
Policial
Funcionário do INSS
Maria
Anjo
Operário
Zacarias



Arauto: “Mas, quando chegou o tempo certo, Deus enviou o seu próprio Filho. Ele veio como filho de mãe humana e viveu debaixo da Lei dos judeus para libertar os que estavam debaixo da Lei, a fim de podermos nos tornar filhos e filhas de Deus.” Gálatas 4.4-5
Narradora ou narrador: Transcorria o ano de 1997,  violentos acontecimentos se sucediam por todo o mundo, guerras, seqüestros de aviões e pessoas, terrorismo, pessoas que nasciam para morrer de fome, enquanto que eram feitas experiências  nucleares que custavam milhões de dólares, os direitos humanos eram constantemente violados, o rico ficando mais rico e o pobre sempre mais pobre. (Aqui o grupo pode acrescentar  mais aspectos da realidade social atual).
Arauto: “Naquele tempo o imperador Augusto mandou uma ordem para todos os cidadãos do Império se registrarem, a fim de ser feita uma contagem da população. Quando foi feito esse primeiro recenseamento, Cirênio era governador da Síria. Então todos foram se registrar, cada um na sua própria cidade.
Por isso José foi de Nazaré, na Galiléia, para a região da Judéia, a uma cidade chamada Belém, onde tinha nascido o Rei Davi. José foi lá porque era descendente de Davi. Foi registrar-se com Maria, com quem tinha casamento contratado. Ela estava grávida, e aconteceu que, enquanto estavam em Belém, chegou o tempo de a criança nascer. Então Maria deu á luz o seu primeiro filho. Enrolou o menino em panos e o deitou numa manjedoura, pois não havia lugar para eles na pensão.” Lucas 2.1-7
Narradora:  Aproximava-se a época do natal, os Pastores ou Pastoras estavam por demais preocupados em preparar prédicas e programas de Natal, as lojas decoravam seus ambientes com enfeites natalinos, pinheirinhos, cartões de boas-festas e presentes. As crianças esperavam o Papai Noel com seu saco cheio de presentes e fazia parte do “bom tom”, fazer uma ceia de Natal e ir na igreja, cantar hinos de Natal. Era 25 de Dezembro, mas poucos lembravam porque se comemorava este dia.
Garotinho: Mãe, o que é o Natal?
Mãe: Ora, é uma festa de fraternidade humana, onde por tradição trocamos presentes, votos antecipados de Ano Novo e vamos a igreja nesta data significativa.
Garotinho: Ah! Compreendi!
Narradora: José, o pai do menino era carpinteiro em uma construtora que estava erguendo mais um espigão de 45 andares no centro da cidade.  Maria, sua esposa lavava roupa para fora, pois com o salário que José ganhava não dava para viver. Ela estava lavando roupas quando sentiu as primeiras dores que anunciavam que o filho de Deus estava para nascer. José foi chamado as pressas.
José: Mas eu tenho que ir  minha mulher está passando mal, está para ter o bebê, é o filho de Deus que vai nascer...
Capataz: Eu não quero nem saber. Se você sair antes das seis, você perde o dia de serviço e o Domingo. Eu estou aqui para defender o interesse do patrão.
José: Táxi! Táxi! Preciso levar a minha mulher para o hospital, ela está para dar a luz ao filho de Deus!
Taxista: Vê lá se carrego mulher tendo nenê no meu carro, ainda mais negros! Eu hem...
Narradora: José faz sinais e mais sinais para os taxis que passavam e não conseguiu parar nenhum. Finalmente ele conseguiu carona com a polícia, que fazia uma ronda e tocaram direto para o hospital mais próximo.  Não conseguiram, porém, internamento, pois o hospital estava lotado. Foram para o Pronto Socorro, mas lá também já estava lotado e o Menino Jesus nasceu dentro do carro da polícia, onde eram conduzidos diariamente ao presídio as escórias da sociedade, os ladrões, as prostitutas, pivetes, puxadores de fumo, vendedores de drogas (e o grupo pode acrescentar aqui mais tipos de pessoas). Os guardas mesmos fizeram o parto.
José: Como você está, Maria?
Maria: Bem, feliz... (com o bebê nos braços).
Narradora: Lá longe, num bar, onde os operários iam após o serviço tomar uns aperitivos e conversar, aparece um anjo.
Anjo: Eis que vos trago boas novas que será de grande alegria. Hoje vos nasceu, nesta cidade, o Salvador que é Cristo o Senhor. E isto vos servirá de sinal: encontrareis uma criança envolta em panos numa rádio patrulha, onde diariamente são conduzidas as escórias da sociedade. Glória a Deus nas maiores alturas e paz na terra a quem ainda acredita nele sinceramente.
Operário: Vejamos o que o Senhor nos deu a conhecer. O Senhor falou conosco,  isso quer dizer que para Deus pelo menos temos ainda algum valor.
Narradora:  Foram apressadamente e acharam Maria e José na rádio patrulha e nela o Menino Jesus. Todos compreenderam também, que naquele dia não haveriam mais perseguições nem prisões, pois o Filho de Deus tinha nascido.
Maria: Ele será chamado Jesus, como o anjo dissera...
Zacarias: “Bendito seja o Senhor de Israel, porque visitou e redimiu seu povo e suscitou-nos uma força de Salvação. E tu, menino, será chamado de profeta do altíssimo, pois irás á frente do Senho, para preparar-lhes os caminhos para transmitir ao seu povo o conhecimento da salvação, pela remissão dos pecados. Graças ao misericordioso coração de Deus, pelo qual nos visita o astro das alturas, para iluminar os que jazem nas trevas e nas sombras da morte, para guiar os nossos passos nos caminhos da paz.”

FIM



Natal 37

OS HOMENS DO ORIENTE

Autor desconhecido

Personagens:

Gaspar
Melchior
Baltazar
Pastor
Guarda
1º homem
2º homem
Comerciante
Hospedeiro
Felipe
Judite
Aman
Tiago
Simão
Ruth
Senhora
Locutor


Gaspar: Chega! Nem um passo mais!
Melchior:  Jerusalém!
Baltazar: Ali está Jerusalém!
Gaspar: Doem-me os pés Melchior. Vocês, venham cá e sentem-se debaixo desta figueira. Até Jerusalém levaremos ainda uma hora.
Melchior: Atravessando este vale estaremos lá, Gaspar. Sem dúvida a estrela nos trouxe a esta cidade.
Gaspar: Setenta dias e setenta noites de caminhada...
Baltazar: E se a estrela nos enganou, Melchior?
Melchior: Mas tu não ouves o barulho das ruas da cidade?
Baltazar: Tudo isso em honra ao rei que acaba de nascer! Parece música.
Gaspar: Experimenta estes figos, estão gostosíssimos”
Baltazar: Eu gostaria de voltar...
Melchior: Deixa disso. Vamos lá!
Baltazar: Que será ao vermos que não é aqui! Não vamos encontrar a quem procuramos. Esta é uma cidade como tantas outras.  A nossa viagem foi em vão!
Melchior: Ela não foi em vão! (Com ênfase) Uma cidade como esta não se encontra duas vezes no mundo. Os seus sábios, os seus artistas são famosos de Roma até o  Oceano Índico.
Baltazar: Sim, sim. Os seus mercadores vinham até nós e levavam o nosso ouro e nossas pedras preciosas.
Melchior: Isso foi no passado. Eu já conhecia esta terra antes. Grandes guerras a arrasaram. Todos sabiam: Algo de novo virá! Precisa vir! Porque Deus haverá de lavrar a terra para lançar nova semente.
Gaspar: E agora vimos a sua estrela
Melchior: Por isso, deve ser aqui...
Gaspar: Afinal, porque Baltazar veio conosco? Sempre com essa idéia de voltar e não acreditar no que dizem os sinais.
Baltazar: Por favor, me entendam. Procuro e espero o rei com tanta ansiedade quanto vocês! Sim, o rei mudará tudo... e tudo será diferente.  Ninguém mais será afugentado de sua casa por ser de outra cor ou por Ter outros pensamentos. Não haverá mais inimizade. Mas eu tenho medo, medo de que aqui seja como em outras cidades.
Melchior: Nós acharemos o rei recém-nascido, aqui em Jerusalém.
Baltazar: Surgiram tantos reis falsos. Como vamos poder reconhecer se realmente é o verdadeiro’
Melchior: Ora, pelos homens que o seguem. Vem Gaspar, vamos caminhando.
Gaspar: Caminhamos tanto. Será que não poderíamos descansar? Realmente, experimentes estes figos... São gostosos... Vocês não estão com fome’
Melchior: Nós vamos encontrar uma hospedaria...
Gaspar: Bem, então vamos...
Pastor: Para onde os senhores vão?
Melchior: O senhor é desta região?
Pastor: Não senhor. Algumas vezes eu pastoreio minhas ovelhas na região de Belém.
Baltazar: O senhor poderia nos mostrar o caminho de Jerusalém?
Pastor: Por ali há um atalho. Ali está o Getsêmani. É por ali que passa o caminho. É o único.
Baltazar: Obrigado velhinho.
Pastor: Paz seja convosco.
Gaspar: Está escurecendo. Ali, olhem... a nossa estrela, lá!
Melchior: Dentro de pouco tempo estaremos lá. (Ao saírem, apaga-se a luz. O pastor volta ao seu lugar. Quando a luz acende, os três entram pelo mesmo lado pelo qual saíram. O guarda entra pelo lado oposto. O guarda fala militarmente).
Guarda: Quem são vocês? De onde vem? O que querem em Jerusalém?
Baltazar: Nós somos viajantes do Oriente.
Guarda: Que mercadoria vocês estão trazendo?
Baltazar: Apenas presentes para um recém-nascido. Estamos a sua procura.
Melchior: Viemos para adorá-lo.
Gaspar: Mostre-nos o caminho, por favor.
Guarda: Um recém-nascido? Aqui reina o rei Herodes, há mais de trinta anos. Aqui não nasceu rei nenhum...
Baltazar: Não?!
Gaspar: Certamente o guarda ainda não sabe nada...
Baltazar: Não saber que nasceu um rei? Claro que deve saber!
Guarda: Eu tenho ordem de guarnecer o portão de Jerusalém. Além disso, nada mais. Por isso, não me interessa se nasceu ou não um novo rei.
Baltazar: Mas isso é algo extraordinário...
Guarda: O que é importante, nós guardas sabemos. Nada nos foi comunicado. Portanto, não há novidade.
Melchior: Talvez o novo rei não seja da casa de Herodes, mas sim de uma outra. Nós mesmos procuraremos.
Guarda: Vou transmitir a intenção de vocês. Podem entrar. (O guarda volta ao seu lugar).
Gaspar: Esquecemos de perguntar por uma hospedaria.
Melchior: Há muita gente a quem podemos perguntar.
Baltazar: Gaspar, Melchior, não vejo mais a estrela!
Gaspar: Baltazar tem razão...
Baltazar: Ela desapareceu desde que entramos na cidade.
Melchior: Nós já vamos achá-la novamente.
Baltazar: Melchior, vamos voltar ( em tom de lamento)!  Ele não está aqui. (O 1º homem levanta-se do seu lugar e passa apressadamente. Pode estar sentado na platéia e estar no palco).
Gaspar: Aí vem vindo alguém...
Melchior: Com licença, uma palavrinha só...
1º Homem: Que é que há?
Baltazar: Procuramos o rei recém-nascido...
1º Homem: Rei? Céus... Diariamente nasce um rei: reis de futebol, reis do box e muitos outros. Portanto, meu amigo, é só escolher!
Baltazar: Estão vendo, este também não sabe de nada.
Melchior: Não, eu acho...
1º Homem: Ah, eu  não posso esquecer o rei dos velhacos, dos gatunos e patifes. Desculpem-me, lamentavelmente não tenho tempo para conversas fiadas.
Gaspar: Calma, espere um pouco... (1º Homem sai).
Baltazar: Por que estará tão apressado?
2º Homem: (Entra apressado também).
Melchior: Ei, bom amigo...
2º Homem: Não tenho tempo, preciso ir ao templo.
Gaspar: Sim. Sim! Ele certamente deve estar lá.
2º Homem: Exatamente, um famoso pregador falará. Preciso me apressar. O templo está sempre lotado. Desculpem-me, senão não conseguirei mais lugar. (2º Homem sai).
Gaspar: Será que ele é tão religioso quanto aparenta?
Baltazar: Também esse não sabia de nada. Eu não disse?
Melchior: Vamos perguntar adiante. (O comerciante aparece).
Comerciante: Comprem alguns tapetes senhores. Tapetes da pérsia, tecidos da Índia. Ali está a minha loja. Entrem lá e escolham. (O comerciante leva alguns tapetes na mão, como mostra do produto. À medida que vai falando, vai largando alguns tapetes aos pés dos homens do Oriente).
Baltazar: Não procuramos nem tapetes, nem tecidos...
Melchior: Procuramos o novo rei!
Comerciante: Misericórdia! Um novo rei! Já temos trabalho sufocante com os nossos negócios. Não precisamos de um novo rei...  Aproveitem e comprem tecidos da Arábia, tapetes da Pérsia. Estamos contentes porque tudo está calmo novamente. Outros reis tem outras idéias e novas idéias geram conflitos e agitação. Não queremos saber de novos reis... comprem tapetes...
Melchior: Mentiroso. Aqui aconteceu algo. Pois, ao contrário as pessoas que encontramos não teriam tanta pressa. Para onde estão indo? Uns mais apressados do que outros...
Comerciante: Sei lá! Negócios, talvez. Aqui sempre é assim.
Baltazar: Nós pensávamos que a cidade estava em festa. Ao invés disso, encontramos os gritos e berros de comerciantes e propagandistas.
Comerciante: Comprem tapetes, senhores. Da Pérsia, tecido da Índia,  preciosidades da Arábia...
Baltazar: Não queremos comprar!
Comerciante: Gente implicante, essa! (Sai. Enquanto isso, o hospedeiro coloca uma mesa e cadeiras no palco).
Gaspar: Ali... uma hospedaria... o hospedeiro está colocando uma cadeiras... Melchior, Baltazar, caminhamos o suficiente hoje.  Vamos descansar um pouco. Além disso, tenho fome, muita fome...
Melchior: Bem...
Gaspar: Talvez achemos também uma pousada...
Baltazar: Mas somente por essa noite. Amanhã bem cedo voltarei para minha casa. (Vão até a mesa e sentam-se. Colocam suas mochilas no chão).
Hospedeiro: O Senhor seja convosco. Bem-vindos. A minha casa é a vossa casa. Os senhores não querem vir até a cozinha e porão, que estão em condições de servir?
Gaspar: E o que há nesta cozinha e nesse porão?
Hospedeiro: Tenho assado de ovelhas, cuca, vinho do Vale do Jordão... Garanto que vocês vão gostar...
Gaspar: Espero que assim seja. Traga-nos algo para beber.
Baltazar: Acho que a estrela nos enganou...
Melchior: Ela não nos enganou. Nós todos vimos...
Baltazar: Então me diga onde é que ela ficou? Sumiu! Não encontramos nada aqui além do que poderíamos encontrar em outros lugares. Nada, nada, nada...
Melchior: Nem tudo pode estar errado, pois nós só vimos a menos parte da cidade. Há ainda outras vilas, outras ruas e outras pessoas. Vamos procurar adiante. Tenho um amigo aqui em Jerusalém, Felipe.  (O pastor entre, se aproxima da mesa e começa a falar).
Pastor: Então, senhores, encontraram o que estavam procurando?
Baltazar: Sim, o caminho que nos trouxe até a cidade. Além disso, nada!
Pastor: Se eu pudesse ajudá-los... (O hospedeiro se aproxima com a jarra e enche os copos9
Hospedeiro: Este vinho é de primeira. Do Vale do Jordão. Doce como o mel, forte como o sol, fresco como o luar.
Gaspar: Vejamos...
Hospedeiro: (Ao pastor) Não fique aí parado, velhinho!
Pastor: Eu sei!
Hospedeiro: Desapareça daí!
Melchior: Hospedeiro, o senhor conhece um homem chamado Felipe? Ele era auxiliar de um negociante de especiarias...
Hospedeiro: Felipe? Não será o grande Felipe? Oh, este não trabalha mais com ninharias. Ele possui inúmeras caravanas que transportam mercadorias do Egito até a Índia. É dono de um palacete situado á beira da estrada que vai para Damasco.
Gaspar: Ele sem dúvida deve saber se há novidades aqui ou não.
Hospedeiro: Felipe é a pessoa de maior influencia aqui. Metade de Jerusalém lhe pertence. (Ao pastor). Você ainda está aqui? Não ouviu o que lhe disse?
Pastor: Ao menos dê um copo de água para mim senhor.  O dia está muito quente...
Hospedeiro: Peça aos seus anjos! Eles lhe darão água! Suma daqui!  Eu estou lhe avisando pela última vez...
Gaspar: Aqui, tome um copo de vinho...
Pastor: Muito obrigada , senhor...
Hospedeiro: Está bem, mas agora trata de desaparecer da minha frente, senão...
Pastor: Paz seja convosco. (Sai)
Hospedeiro: Vou dar uma olhada no assado de ovelha... Vocês vão se admirar... Deve estar quase pronto! Ah...
Gaspar: Devíamos ter perguntado ao pastor. Quem sabe ele poderia  ter dito alguma coisa...
Baltazar: O que pode saber um simples pastor?
Melchior: Amanhã procuraremos em toda a cidade. Irei à casa de Felipe.  Ele nos ajudará.
Baltazar: Eu não quero mais saber de nada. Eu desisto.
Melchior: Fique Baltazar, ao menos mais um dia... Eu sei que vamos achá-lo
Gaspar: Já que estamos aqui...
Baltazar: Eu sei, eu sei, mas é tudo em vão...
Melchior:  Fique, nós tentaremos...
Baltazar: (Convencido) Bem, mais um dia... (A luz se apaga. Quando se acende novamente, Melchior está de frente para o público. Felipe coloca a mesa no palco,  juntamente a uma cadeira, um pouco afastada da mesa. Felipe senta-se e lida com papéis. Enquanto Felipe troca o cenário, Melchior fala ao público).
Melchior: Continuaremos procurando nesta cidade pelo rei, cuja estrela nós vimos. Irei à casa do mercador Felipe. Vejo a sua casa, rodeada por um rico jardim. Há poucos momentos chegou uma caravana de 40 camelos. Os trabalhadores carrega a mercadoria. Ele está sentado contando os saco trazidos pela caravana. Vou entrar. (Felipe levanta-se da cadeira com  uma bolsa  na mão e está fazendo apontamentos).
Felipe: 30, 31, 32, 33, 34...
Melchior: Felipe!
Felipe: 35, 36, 37... não vês que estou ocupado? 38, 39... se o senhor tiver alguma oferta, não estou interessado,  não tenho necessidade.
Melchior: Meu nome é Melchior, venho do Oriente.
Felipe: Pode ser... 40, 41... Já tivemos alguma correspondência?
Melchior: Há muito tempo éramos amigos...
Felipe: Como é mesmo o seu nome? Melchior?... Sim, eu me lembro.  Faz muito tempo, não? Alegra-me ver-te. Como vai você? Você teve muita sorte em me encontrar. Lamentavelmente logo precisarei sair. 43, 44, 45... o que o traz aqui’
Melchior: Procuro o rei recém-nascido.
Felipe: Sim, sim, 46, 47, 48, 49... Não, você fala sério?  O que você faz aqui em Jerusalém?
Melchior: Procuro o novo rei dos judeus.
Felipe: Não faça brincadeiras...
Melchior: Não, nós vimos a sua estrela e estamos aqui para adorá-lo.
Felipe: Então, eu... 50, 51...
Melchior: Ainda não conseguimos encontrá-lo. Tu conheces Jerusalém.  Não ouviste nada a respeito!
Felipe: Ouvir? De que? Ah, sim, não!  Nada, 52, 53, 54... só sei que há muito movimento  devido ao recenseamento e é só. É uma loucura dos romanos. Todas as ruas estão entupidas. Bom, quem viaja muito sempre gasta alguma coisa e para mim isso já é positivo. 52, 53, 54, 55... Vou abrir três bazares: em Javá, em Belém e Hidron.
Melchior: E não houve nenhum comentário?
Felipe: Nenhum, pode estar certo. Nesta cidade não acontece nada sem que nós comerciantes não soubéssemos. Pois é, console-se, logo entraremos em negociações.
Melchior : Mas Felipe, quem está falando em negócios?  Não são negócios que me trazem a Jerusalém.
Felipe: Isso eu sei. Vocês do Oriente sempre começam dessa maneira: nos contam as mais variadas histórias . 56, 57... e depois nos passam a perna... este arroz é o melhor que há! Nenhum outro comerciante de Belém tem tantas qualidades como eu!
Melchior: Felipe, ouça-me, por favor. Em todos os recantos do mundo sabe-se que algo de novo virá, qualquer coisa, mas o quê? De onde? Por isso nós estamos em Jerusalém.
Felipe: Bem, aqui não se vive mal... 58, 59, 60, 61... muitas coisas mudaram nos últimos tempo, não é? Isso me orgulha! Você viu os meus jardins? Lindos, não?
Melchior: Sem dúvida. Isso é magnífico, mas...
Felipe: É, naturalmente isso não caiu do céu. Preguiçoso aqui não pode viver.  Além disso, faz-se muitas coisas para as pessoas que estão bem de vida.
Melchior: Em outros lugares se faz muito mais! Não é isso! Os nossos corações é que estão vazios e não as nossas mãos! Creia-me, procuramos o rei! Ajude-nos Felipe!
Felipe: 62, 63...
Judite: Felipe, Aman de Hidro está aí.
Felipe: Não estou em casa.
Judite: Mas ele sabe que você está.
Felipe: Não tenho tempo, preciso sair logo, além do que, tenho visitas, como você pode ver.
Judite: (A Melchior). Eu vi quando o senhor chegou. (A Felipe) Mas o que será de Aman? Você não pode mandá-lo embora...
Felipe: (Irritado) Não permito que minha esposa se meta nos meus negócios. Não tenho tempo, diga isso a Aman.
Judite: Bem, se você quer assim...(Sai)
Felipe: Horrível. Todos querem alguma coisa. Pois é, Melchior, gostaria muito de te ajudar. Realmente não faria mal se viesse outro rei. Talvez ele reduziria os impostos. Quanto imposto você acha que eu pago por esses 60 sacos de arroz?
Melchior: Você não me entende, Felipe. Você não recorda mais dos tempos que conhecíamos todos os filósofos gregos e romanos? ... Como falávamos que algo novo deveria vir, logo e que então nunca mais seria como o passado?
Felipe: Mas isso foi há muito tempo...
Aman: (aparece) Felipe...
Felipe: Aman, o que você quer? Você não ouviu que estou ocupado? Hoje não tenho tempo.
Aman: Só um momento. Eu preciso de dois sacos de arroz e um de farinha para esta semana.
Felipe: E isso precisa ser já?
Aman: Eu sempre vinha a esta hora.
Felipe: Eu tenho um hóspede...
Melchior: Eu vou.
Felipe: Fique. Ele deverá ir.
Aman: E aqui outro pedido...
Felipe: Não posso fornecer...
Aman: Não pode fornecer? Mas o depósito está cheio até em cima!
Felipe: Isso não é da sua conta...
Aman: Eu preciso de mercadoria. Do contrário vou perder a minha freguesia.
Felipe: Lamento muito. Além disso, eu mesmo vou abrir um mercado em Hidron.
Aman: Felipe!
Felipe: Venha, Melchior. Vamos ao jardim.
Aman: Isso não pode ser verdade!
Felipe: Você acha que eu minto?
Aman: Então nós estaremos perdidos!
Felipe: Lamento muito. Então você acha que eu vou esperar que outro faça isso em meu lugar?
Aman: Você, Felipe, exatamente você precisa fazer isso?
Felipe: Por que vocês não o fizeram, seus sábios comerciantes de Hidron?
Aman: Ninguém é tão rico como você!
Felipe: Rico? Preguiçosos é que vocês são. Preguiçosos. Pensaram em passar a vida sem fazer nada. Este tempo passou.
Aman: Eu... eu... (a Melchior) Senhor, eu... eu não o conheço, ... mas o senhor ouviu. Eu lhe peço: faça algo por mim. Eu tenho filhos.
Melchior: Se eu pudesse lhe ajudar...
Aman: Felipe, seu negócio já não é grande suficiente? Por que você quer aumentá-lo sempre mais? Sempre mais e mais? Tenha misericórdia, Felipe!
Felipe: E quem tem misericórdia de mim? Por acaso você está vendo estes sacos de arroz? Estes fardos de lã? Você acha que eu consegui isso sem mais nem menos?  Custaram-me muitos denários. De uma maneira ou outra eu preciso progredir antes que os outros acabem comigo.
Aman: Mas por que tudo isso? Por que?
Felipe: Porque é assim e assim que deve ser. Aqui não existe porquê!!!
Judite: (Entra) Felipe eu ouvi tudo...
Felipe: Isso não é da sua conta, portanto, não se meta.
Judite: Há muitos anos que Aman é seu amigo...
Aman: Durante 20 anos eu vinha semanalmente e comprava as mercadorias.
Judite: Vocês brincavam como crianças no pátio do templo. Os pais de vocês eram bons amigos...
Felipe: Nesse caso, não preciso ter amigos.  E nem posso. Amigos, amigos, negócios à parte. Onde se negocia, o sentimento e o coração precisam ficar de fora.
Aman: Não vou ficar quieto. Não! Vou gritar pelas ruas e anunciar que Felipe é assassino!
Felipe: (Sacudindo-o) Isso você não vai fazer. Você conhece o comerciante de Hidron.
Aman: Você também acabou com ele...
Felipe: Comprei a empresa dele. A este negócio pertencem algumas promissórias de Aman de Hidron. Eu seria capaz de rasgá-las.  Mas se você falar muito...
Aman: (Soltando-se) Faça o que você quiser... (Sai)
Judite: Felipe, não deixe que ele vá embora. Aman é seu melhor amigo.
Felipe: Ele é um palhaço. Não conhece os sinais dos tempos. Hoje em dia é preciso trabalhar com muito lucro para não ir à falência.
Judite: Melchior, peça-lhe para chamar Aman de volta.
Felipe: Isso eu não admito. Você também quer se intrometer nos meus negócios Melchior?
Melchior: Eu não disse nada...
Felipe: Eu quero dizer uma coisa, seu santo que fala de tempos passados, novos reis e outras coisas mais. Coma ou você será devorado. Sim, senhor. É assim mesmo. Sim, sim, já sei o que você... vai dizer...
Melchior: Não vou dizer nada.
Felipe: Vocês não precisam me censurar, exatamente vocês...
Melchior: Eu admiro você, Felipe.
Felipe: Por que?
Melchior: Você não tem medo de que alguém lhe apresente um recibo que não pode ser resgatado com arroz ou lã?
Felipe: Eu não fiz nada de ilegal. Ah,  o que estamos dizendo? Nem vale a pena pensar nisso. Felizmente também não há tempo. Bom, preciso ir.
Judite: Fique ,Felipe.
Felipe: Melchior fica. Vocês podem trocar idéias e renovar o mundo com os sonhos de vocês. Enquanto isso vou tratar dos meus negócios, pois precisamos viver.
Judite: Fique Felipe.
Felipe: Não posso, é importante, passem bem. (Sai)
Judite: Oh, é importante... (senta-se na cadeira de Felipe). É sempre tão importante que não resta tempo para conversarmos. Antigamente a casa estava sempre cheia de amigos, mas agora... (Apaga-se a luz. Quando acende, Baltazar encontra-se no palco).
Baltazar: Não deveríamos Ter ido aos comerciantes. Por isso vou tentar com os escribas. Eles são os professores do povo e conservam os livros. Se há realmente um novo rei, então eles devem conhecê-lo.
Tiago: Não, não, Simão, esse Jeobeão tem cada idéia...
Simão: Talvez, Tiago, mas cada um pensa o que quiser, pois é livre.
Tiago: Cá entre nós, Simão: diz-se que ele tem relações secretas com os persas.
Simão: Não ouvi falar nada, será que isso está provado?
Tiago: Simão, eu o admiro. Eu pensava que você fosse um dos nossos.
Simão: Naturalmente, eu só acho...
Tiago: Além de tudo ele quer assumir um posto na administração do nosso município.
Simão: Sim, você tem razão. Talvez seria bom falar com Jeobeão, se pudéssemos convencê-lo...
Tiago: Falar com ele por quê? Ele tem um mercado na estrada que vai para Javá ... deveríamos falar, mas com cuidado...
Simão: Deveríamos convencer nossos amigos a não comprarem mais no mercado dele. Vai ver como ele muda de idéia.
Tiago: Se você acha... (Baltazar entra)
Baltazar: Saúdo-vos irmãos!
Tiago: Seja abençoado.  Em todos os casos esse Jeobeão é um louco, precisamos fazer alguma coisa...
Baltazar: Eu vim procurar um novo rei...
Simão: De onde você vem?
Baltazar: Eu venho das terras do Eufrates e do Tigre. Eu procuro...
Tiago: Parece que há muita desordem por lá. Aqueles povos são dignos de compaixão. Então, satisfeito por estar aqui?
Simão: Há muita gente da terra de vocês aqui em Jerusalém.
Tiago: Tenha paciência, qualquer dia as coisas vão melhorar
Baltazar: Eu estou aqui para...
Simão: Muito justo. Não é uma maravilha a nossa Jerusalém?
Tiago: Uma cidade magnífica, não é? Vivemos felizes!
Baltazar: Isso eu sei... procuro...
Tiago: Você não sabe?
Simão: Que significa isso?
Tiago: Se você não gosta de nossa cidade, então vá morar em outro lugar, do outro lado do Jordão e alimente-se de mel silvestre.
Baltazar: Não é isso que eu procuro...
Simão: Auxílio. Nós compreendemos. Estamos dispostos a ajudar.., não é Tiago?
Tiago: Naturalmente, e com prazer. Exigimos apenas que você se submeta aos nossos conselhos.
Baltazar: Que significa isso? Eu vim porque procuro algo e vocês querem me comprar?
Tiago: Ouça só que ingratidão. A gente se prontifica a colaborar com estes miseráveis... Você deve compreender que nada podemos começar com pessoas que mais tarde seguem seu próprio caminho.
Baltazar: Ouçam-me, por favor. Eu vim procurar o novo rei. Nós vimos a sua estrela.
Tiago: Um novo rei?
Simão: Céus! Não sabemos de nada!
Tiago: E nós seríamos os primeiros a sabê-lo...
Baltazar: Nós lemos os livros de vocês e vocês também falam ali de um novo rei.
Simão: Sim, na escritura. Certamente você não entendeu o que leu.
Tiago: Você tomou tudo ao pé da letra...
Baltazar: Mas, é preciso tomar tudo ao pé da letra. Senão , não teria  nenhum sentido.
Tiago: Um problema interessante. Deveríamos escrever um livro sobre isso. Bem, caro amigo, nosso tempo está esgotado (Simão e Tiago levantam).
Simão: Precisamos ir à reunião.  Será feita uma crítica contra a violência.
Tiago: No outro lado do Jordão. Você compreende?  Mais tarde, talvez.
Baltazar: Nunca mais. Aqui eu não vou procurar o que eu procuro.  Disso eu tenho certeza. (Sai).
Tiago: Você não acha esquisita essa conversa de novo rei?
Simão: Pois é, quem procura novidades aqui em Jerusalém é suspeito. Vamos. (Apaga-se a luz. Quando acende, Gaspar encontra-se só no palco. Enquanto ele fala, Ruth senta-se no chão e brinca com uma bola).
Gaspar: O rico comerciante não sabia de nada. Os escribas muito menos ainda. Agora vou tentar com os miseráveis,  estes ao menos tem o coração no lugar certo. Os grandes não querem saber de muitas coisas, mas os pequenos tem compreensão para tudo.  Amon, o tecelão sabe o que se fala no tear e nas tabernas.  Aqui está a sua casa. Ele não está. Mas aqui está sua filha... está brincando... (Aproxima-se de Ruth e fala calmamente). Eu procuro seu pai, Amon, o tecelão. Sabes onde ele está?
Ruth: (Sem olhar para Gaspar) Não!
Gaspar: E sua mãe?
Ruth: Não!
Gaspar: E quando vão voltar? Sabe?
Ruth: Não. (Gaspar vira-se para ir embora). Eu sei onde estão.
Gaspar: Onde?
Ruth: Trabalhando.
Gaspar: Os dois?
Ruth: Sim, mamãe volta logo.
Gaspar: Vou esperar. Vamos brincar um pouco? (Senta-se no chão, abre os braços esperando a bola).
Ruth: Não!
Gaspar: Eu não vou te morder...
Ruth: Eu não brinco com você.
Gaspar: Por que não?
Ruth: Você não quer me levar?
Gaspar: Eu? Levar? Quem foi que lhe disse isso’
Ruth: Quando não me comporto, mamãe sempre me diz que um negro vai me levar.
Gaspar: Dizem isso na sua casa? Não, eu não quero levar você. Quero só brincar.
Ruth: Você é do circo? (Joga-lhe a bola)
Gaspar: Não, eu não sou do circo.
Ruth: Você não mora na selva com as feras?
Gaspar: Mas quem lhe contou tudo isso?
Ruth: Mamãe!
Gaspar: Moramos em cidades como vocês. Usamos as mesmas roupas.
Ruth: Lá todos são pretos?
Gaspar: Sim, isso sim.
Ruth: Só os maus são pretos?
Gaspar: Eu sou mau?
Ruth: Não! Lá não há feras que comem a gente?
Gaspar: Há sim, mas não nas cidades. Somente longe, fora da cidade.
Ruth: (Aproximando-se de Gaspar) Que animais?
Gaspar: Bem, que animais? Há, por exemplo, o leão. Você conhece?
Ruth: Não.
Gaspar: Ele tem uma juba, como as crianças que não querem cortar o cabelo.
Ruth: Ah...
Gaspar: Quando tem fome ele ruge.
Ruth: E quando não tem fome?
Gaspar: Daí, naturalmente, não.
Ruth: O que tem mais?
Gaspar: A girafa que tem pescoço comprido.
Ruth: Mais, mais...
Gaspar: Tem o elefante que tem uma longa tromba. Tem o crocodilo que mora na água...(Não notam que a mãe de Ruth entra)
Senhora: Ruth!
Ruth: Mãe!
Senhora: Venha imediatamente!
Ruth: Ele está contando histórias!
Senhora: (Toma Ruth pelo braço para levá-la embora. Gaspar levanta). Você não pode Obedecer? (Vira-se para Gaspar). Pelo menos respeite os filhos dos outros...
Gaspar: Estou à espera de Amon, o tecelão e ...
Senhora: Então espera em vão...
Gaspar: Talvez ele pudesse me ajudar. Eu procuro...
Senhora: Ele não está.
Gaspar: Vou esperar...
Senhora: Como quiser. Mas não na minha casa. Além disso, eu não sei o que o senhor tem a ver com meu marido. (A Ruth) E fique sabendo, Ruth, eu não quero que você fale com quem não conhece. Vamos lá, lavar suas mãos!
Ruth: Minha bola... (Gaspar lhe entrega a bola.  Apaga-se a luz. Quando acende, volta a cena da hospedaria).
Melchior: Então, o que mais você encontrou?
Baltazar: Nada.
Pastor: Deus vos abençoe, senhores.
Baltazar: Você chegou em boa hora, velho. Agora mostre a saída, o mais depressa possível, certo?
Pastor: Encontraram o que estavam procurando?
Baltazar: Não!
Gaspar: E não vamos procurar mais...Desistimos.
Pastor: Onde vocês procuraram? Nas ruas iluminadas? Nos palácios? Vocês tem que procurar nos arredores.
Gaspar: Não vamos mais dar nenhum passo, velho.
Melchior: Falsos reis, desses achamos um monte.
Pastor: Pastoreio minhas ovelhas nos campos de Belém...
Baltazar: Chega, esta história você já contou uma vez!
Pastor: Posso mostrar o caminho que estão procurando.
Baltazar: Não dêem atenção ao velho...
Pastor:  Um anjo veio e me levou...
Baltazar: Chega e cala a boca. Não acreditem no que ele está dizendo. Não quero ser enganado pela Segunda vez.
Gaspar: Vem, Melchior, nós achamos a saída sem a ajuda de ninguém.
Melchior: Deixem ele falar. Quero ouvir o que ele tem a dizer. (O guarda aparece)
Guarda: Alto! Vocês são os três do Oriente?
Gaspar: Somos nós, sim, e já estamos voltando para lá.
Guarda: Comuniquei a Herodes o que querem aqui, que estão procurando um recém-nascido.
Baltazar: Foi um engano, realmente um engano.
Guarda: Herodes deseja conhecê-los. Ele quer que comuniquem a ele assim que acharem o recém-nascido.
Baltazar: Pode falar ao seu rei que pode ficar tranqüilo.  Nada de novo aconteceu em Jerusalém.
Gaspar: Vamos.
Melchior: Muito interessante.
Baltazar: O quê?
Melchior: Herodes crê que poderia ser realmente verdade, senão não teria mandado o guarda.
Pastor: Venham comigo senhores.
Melchior: Para onde nos levas?
Pastor: É uma casa pobre. Uma estrebaria. Uma manjedoura.
Baltazar: Que consideração! Aqui mora-se em palácios, um maior que o outro. E o rei numa estrebaria? Nunca, nunca, Melchior. Você não vê que ele está nos enganando?
Pastor: É um caminho penoso...
Gaspar: A estrela... a estrela apareceu  novamente!
Baltazar: Sim!    
Gaspar: Exatamente quando o velho falou da manjedoura, ela apareceu.
Melchior: Este é o sinal. Mostra-nos o caminho!
Gaspar: Vamos tentar mais uma vez.
Melchior: Vamos Baltazar, vamos seguir o Pastor. Eu acho que agora encontramos o caminho certo. (Tiago e Simão aparecem).
Simão: Ouviu? Acharam o que procuravam. Eu acho que deveríamos acompanhá-lo. Um novo rei, quem sabe...
Tiago: Bobagem. Nada disso foi afixado nos muros do palácio real, portanto, nada aconteceu. (Senta-se. Aparecem o comerciante e o hospedeiro)
Hospedeiro: Já querem partir, senhores? Que tal uma merenda? Uma garrafa de vinho? Pão?...
Melchior: Não precisamos.
Comerciante: Comprem lembranças de Jerusalém... tecidos... braceletes...
Gaspar: Era o que faltava...
Baltazar: A cada passo que damos, já vem alguém propondo negócios.
Melchior: Vamos, antes que seja tarde. (Comerciante e hospedeiro ficam parados. Felipe vem.)
Felipe: Melchior, espere, estou à sua procura...
Melchior: Você? À minha procura?
Felipe: Ontem estava irritado. Não podemos nos separar assim.
Melchior: Vamos!
Felipe: Estão me acusando. Dizem que eu matei. Mas, você viu? Ele não queria negociar, você viu?
Melchior: Aman está morto?
Felipe: Ontem, quando ia para casa. Não se sabe como. Eu não sou o culpado. Se eu não tivesse feito, outro faria. Não posso renovar o mundo enquanto outros não...
Melchior:  Então espere até o juízo final.
Felipe: Para onde vocês vão?
Melchior: Estamos a caminho daquele que procurávamos.
Felipe:  Então é verdade aquilo que você disse?
Melchior: Sim!
Felipe: Levem-me junto.
Melchior: Venha.
Felipe: É longe?
Melchior: Provavelmente.
Felipe: Espere um  pouco, tenho que trocar de sapatos.
Baltazar: Vamos indo...
Felipe: Vamos amanhã, já está escurecendo...
Gaspar: Tanto mais brilhará nossa estrela.
Felipe: Esperem. Não posso ir agora. O que farão os meus empregados sem mim? Esperem até amanhã, acharei alguém para assumir os meus negócios...
Melchior: Não, nós vamos agora!
Felipe: Amanhã é outro dia...
Gaspar: Nós vamos agora!
Felipe: Amanhã...
Baltazar: Estamos perdendo tempo... Vamos!
Melchior: Velho, mostre-nos o caminho.
Pastor: O caminho é longo e penoso. ( Os três saem com o Pastor indo à frente. Os outros levantam e olham. O locutor fala enquanto os outros desaparecem pelos fundos:).
Locutor: E a estrela que viram no Oriente novamente os guiou até chegarem à estrebaria onde estava a criança.  Com os corações cheios de júbilo, entraram na estrebaria e encontraram a criança ali, com Maria. E Deus lhes ordenou, através de um sonho, que não mais voltassem à Jerusalém. E, por outro caminho, voltaram à sua terra, anunciando os grandes feitos de Deus. (Apaga-se a luz).








 OS HOMENS DO ORIENTE

Autor desconhecido

Personagens:

Gaspar
Melchior
Baltazar
Pastor
Guarda
1º homem
2º homem
Comerciante
Hospedeiro
Felipe
Judite
Aman
Tiago
Simão
Ruth
Senhora
Locutor


Gaspar: Chega! Nem um passo mais!
Melchior:  Jerusalém!
Baltazar: Ali está Jerusalém!
Gaspar: Doem-me os pés Melchior. Vocês, venham cá e sentem-se debaixo desta figueira. Até Jerusalém levaremos ainda uma hora.
Melchior: Atravessando este vale estaremos lá, Gaspar. Sem dúvida a estrela nos trouxe a esta cidade.
Gaspar: Setenta dias e setenta noites de caminhada...
Baltazar: E se a estrela nos enganou, Melchior?
Melchior: Mas tu não ouves o barulho das ruas da cidade?
Baltazar: Tudo isso em honra ao rei que acaba de nascer! Parece música.
Gaspar: Experimenta estes figos, estão gostosíssimos”
Baltazar: Eu gostaria de voltar...
Melchior: Deixa disso. Vamos lá!
Baltazar: Que será ao vermos que não é aqui! Não vamos encontrar a quem procuramos. Esta é uma cidade como tantas outras.  A nossa viagem foi em vão!
Melchior: Ela não foi em vão! (Com ênfase) Uma cidade como esta não se encontra duas vezes no mundo. Os seus sábios, os seus artistas são famosos de Roma até o  Oceano Índico.
Baltazar: Sim, sim. Os seus mercadores vinham até nós e levavam o nosso ouro e nossas pedras preciosas.
Melchior: Isso foi no passado. Eu já conhecia esta terra antes. Grandes guerras a arrasaram. Todos sabiam: Algo de novo virá! Precisa vir! Porque Deus haverá de lavrar a terra para lançar nova semente.
Gaspar: E agora vimos a sua estrela
Melchior: Por isso, deve ser aqui...
Gaspar: Afinal, porque Baltazar veio conosco? Sempre com essa idéia de voltar e não acreditar no que dizem os sinais.
Baltazar: Por favor, me entendam. Procuro e espero o rei com tanta ansiedade quanto vocês! Sim, o rei mudará tudo... e tudo será diferente.  Ninguém mais será afugentado de sua casa por ser de outra cor ou por Ter outros pensamentos. Não haverá mais inimizade. Mas eu tenho medo, medo de que aqui seja como em outras cidades.
Melchior: Nós acharemos o rei recém-nascido, aqui em Jerusalém.
Baltazar: Surgiram tantos reis falsos. Como vamos poder reconhecer se realmente é o verdadeiro’
Melchior: Ora, pelos homens que o seguem. Vem Gaspar, vamos caminhando.
Gaspar: Caminhamos tanto. Será que não poderíamos descansar? Realmente, experimentes estes figos... São gostosos... Vocês não estão com fome’
Melchior: Nós vamos encontrar uma hospedaria...
Gaspar: Bem, então vamos...
Pastor: Para onde os senhores vão?
Melchior: O senhor é desta região?
Pastor: Não senhor. Algumas vezes eu pastoreio minhas ovelhas na região de Belém.
Baltazar: O senhor poderia nos mostrar o caminho de Jerusalém?
Pastor: Por ali há um atalho. Ali está o Getsêmani. É por ali que passa o caminho. É o único.
Baltazar: Obrigado velhinho.
Pastor: Paz seja convosco.
Gaspar: Está escurecendo. Ali, olhem... a nossa estrela, lá!
Melchior: Dentro de pouco tempo estaremos lá. (Ao saírem, apaga-se a luz. O pastor volta ao seu lugar. Quando a luz acende, os três entram pelo mesmo lado pelo qual saíram. O guarda entra pelo lado oposto. O guarda fala militarmente).
Guarda: Quem são vocês? De onde vem? O que querem em Jerusalém?
Baltazar: Nós somos viajantes do Oriente.
Guarda: Que mercadoria vocês estão trazendo?
Baltazar: Apenas presentes para um recém-nascido. Estamos a sua procura.
Melchior: Viemos para adorá-lo.
Gaspar: Mostre-nos o caminho, por favor.
Guarda: Um recém-nascido? Aqui reina o rei Herodes, há mais de trinta anos. Aqui não nasceu rei nenhum...
Baltazar: Não?!
Gaspar: Certamente o guarda ainda não sabe nada...
Baltazar: Não saber que nasceu um rei? Claro que deve saber!
Guarda: Eu tenho ordem de guarnecer o portão de Jerusalém. Além disso, nada mais. Por isso, não me interessa se nasceu ou não um novo rei.
Baltazar: Mas isso é algo extraordinário...
Guarda: O que é importante, nós guardas sabemos. Nada nos foi comunicado. Portanto, não há novidade.
Melchior: Talvez o novo rei não seja da casa de Herodes, mas sim de uma outra. Nós mesmos procuraremos.
Guarda: Vou transmitir a intenção de vocês. Podem entrar. (O guarda volta ao seu lugar).
Gaspar: Esquecemos de perguntar por uma hospedaria.
Melchior: Há muita gente a quem podemos perguntar.
Baltazar: Gaspar, Melchior, não vejo mais a estrela!
Gaspar: Baltazar tem razão...
Baltazar: Ela desapareceu desde que entramos na cidade.
Melchior: Nós já vamos achá-la novamente.
Baltazar: Melchior, vamos voltar ( em tom de lamento)!  Ele não está aqui. (O 1º homem levanta-se do seu lugar e passa apressadamente. Pode estar sentado na platéia e estar no palco).
Gaspar: Aí vem vindo alguém...
Melchior: Com licença, uma palavrinha só...
1º Homem: Que é que há?
Baltazar: Procuramos o rei recém-nascido...
1º Homem: Rei? Céus... Diariamente nasce um rei: reis de futebol, reis do box e muitos outros. Portanto, meu amigo, é só escolher!
Baltazar: Estão vendo, este também não sabe de nada.
Melchior: Não, eu acho...
1º Homem: Ah, eu  não posso esquecer o rei dos velhacos, dos gatunos e patifes. Desculpem-me, lamentavelmente não tenho tempo para conversas fiadas.
Gaspar: Calma, espere um pouco... (1º Homem sai).
Baltazar: Por que estará tão apressado?
2º Homem: (Entra apressado também).
Melchior: Ei, bom amigo...
2º Homem: Não tenho tempo, preciso ir ao templo.
Gaspar: Sim. Sim! Ele certamente deve estar lá.
2º Homem: Exatamente, um famoso pregador falará. Preciso me apressar. O templo está sempre lotado. Desculpem-me, senão não conseguirei mais lugar. (2º Homem sai).
Gaspar: Será que ele é tão religioso quanto aparenta?
Baltazar: Também esse não sabia de nada. Eu não disse?
Melchior: Vamos perguntar adiante. (O comerciante aparece).
Comerciante: Comprem alguns tapetes senhores. Tapetes da pérsia, tecidos da Índia. Ali está a minha loja. Entrem lá e escolham. (O comerciante leva alguns tapetes na mão, como mostra do produto. À medida que vai falando, vai largando alguns tapetes aos pés dos homens do Oriente).
Baltazar: Não procuramos nem tapetes, nem tecidos...
Melchior: Procuramos o novo rei!
Comerciante: Misericórdia! Um novo rei! Já temos trabalho sufocante com os nossos negócios. Não precisamos de um novo rei...  Aproveitem e comprem tecidos da Arábia, tapetes da Pérsia. Estamos contentes porque tudo está calmo novamente. Outros reis tem outras idéias e novas idéias geram conflitos e agitação. Não queremos saber de novos reis... comprem tapetes...
Melchior: Mentiroso. Aqui aconteceu algo. Pois, ao contrário as pessoas que encontramos não teriam tanta pressa. Para onde estão indo? Uns mais apressados do que outros...
Comerciante: Sei lá! Negócios, talvez. Aqui sempre é assim.
Baltazar: Nós pensávamos que a cidade estava em festa. Ao invés disso, encontramos os gritos e berros de comerciantes e propagandistas.
Comerciante: Comprem tapetes, senhores. Da Pérsia, tecido da Índia,  preciosidades da Arábia...
Baltazar: Não queremos comprar!
Comerciante: Gente implicante, essa! (Sai. Enquanto isso, o hospedeiro coloca uma mesa e cadeiras no palco).
Gaspar: Ali... uma hospedaria... o hospedeiro está colocando uma cadeiras... Melchior, Baltazar, caminhamos o suficiente hoje.  Vamos descansar um pouco. Além disso, tenho fome, muita fome...
Melchior: Bem...
Gaspar: Talvez achemos também uma pousada...
Baltazar: Mas somente por essa noite. Amanhã bem cedo voltarei para minha casa. (Vão até a mesa e sentam-se. Colocam suas mochilas no chão).
Hospedeiro: O Senhor seja convosco. Bem-vindos. A minha casa é a vossa casa. Os senhores não querem vir até a cozinha e porão, que estão em condições de servir?
Gaspar: E o que há nesta cozinha e nesse porão?
Hospedeiro: Tenho assado de ovelhas, cuca, vinho do Vale do Jordão... Garanto que vocês vão gostar...
Gaspar: Espero que assim seja. Traga-nos algo para beber.
Baltazar: Acho que a estrela nos enganou...
Melchior: Ela não nos enganou. Nós todos vimos...
Baltazar: Então me diga onde é que ela ficou? Sumiu! Não encontramos nada aqui além do que poderíamos encontrar em outros lugares. Nada, nada, nada...
Melchior: Nem tudo pode estar errado, pois nós só vimos a menos parte da cidade. Há ainda outras vilas, outras ruas e outras pessoas. Vamos procurar adiante. Tenho um amigo aqui em Jerusalém, Felipe.  (O pastor entre, se aproxima da mesa e começa a falar).
Pastor: Então, senhores, encontraram o que estavam procurando?
Baltazar: Sim, o caminho que nos trouxe até a cidade. Além disso, nada!
Pastor: Se eu pudesse ajudá-los... (O hospedeiro se aproxima com a jarra e enche os copos9
Hospedeiro: Este vinho é de primeira. Do Vale do Jordão. Doce como o mel, forte como o sol, fresco como o luar.
Gaspar: Vejamos...
Hospedeiro: (Ao pastor) Não fique aí parado, velhinho!
Pastor: Eu sei!
Hospedeiro: Desapareça daí!
Melchior: Hospedeiro, o senhor conhece um homem chamado Felipe? Ele era auxiliar de um negociante de especiarias...
Hospedeiro: Felipe? Não será o grande Felipe? Oh, este não trabalha mais com ninharias. Ele possui inúmeras caravanas que transportam mercadorias do Egito até a Índia. É dono de um palacete situado á beira da estrada que vai para Damasco.
Gaspar: Ele sem dúvida deve saber se há novidades aqui ou não.
Hospedeiro: Felipe é a pessoa de maior influencia aqui. Metade de Jerusalém lhe pertence. (Ao pastor). Você ainda está aqui? Não ouviu o que lhe disse?
Pastor: Ao menos dê um copo de água para mim senhor.  O dia está muito quente...
Hospedeiro: Peça aos seus anjos! Eles lhe darão água! Suma daqui!  Eu estou lhe avisando pela última vez...
Gaspar: Aqui, tome um copo de vinho...
Pastor: Muito obrigada , senhor...
Hospedeiro: Está bem, mas agora trata de desaparecer da minha frente, senão...
Pastor: Paz seja convosco. (Sai)
Hospedeiro: Vou dar uma olhada no assado de ovelha... Vocês vão se admirar... Deve estar quase pronto! Ah...
Gaspar: Devíamos ter perguntado ao pastor. Quem sabe ele poderia  ter dito alguma coisa...
Baltazar: O que pode saber um simples pastor?
Melchior: Amanhã procuraremos em toda a cidade. Irei à casa de Felipe.  Ele nos ajudará.
Baltazar: Eu não quero mais saber de nada. Eu desisto.
Melchior: Fique Baltazar, ao menos mais um dia... Eu sei que vamos achá-lo
Gaspar: Já que estamos aqui...
Baltazar: Eu sei, eu sei, mas é tudo em vão...
Melchior:  Fique, nós tentaremos...
Baltazar: (Convencido) Bem, mais um dia... (A luz se apaga. Quando se acende novamente, Melchior está de frente para o público. Felipe coloca a mesa no palco,  juntamente a uma cadeira, um pouco afastada da mesa. Felipe senta-se e lida com papéis. Enquanto Felipe troca o cenário, Melchior fala ao público).
Melchior: Continuaremos procurando nesta cidade pelo rei, cuja estrela nós vimos. Irei à casa do mercador Felipe. Vejo a sua casa, rodeada por um rico jardim. Há poucos momentos chegou uma caravana de 40 camelos. Os trabalhadores carrega a mercadoria. Ele está sentado contando os saco trazidos pela caravana. Vou entrar. (Felipe levanta-se da cadeira com  uma bolsa  na mão e está fazendo apontamentos).
Felipe: 30, 31, 32, 33, 34...
Melchior: Felipe!
Felipe: 35, 36, 37... não vês que estou ocupado? 38, 39... se o senhor tiver alguma oferta, não estou interessado,  não tenho necessidade.
Melchior: Meu nome é Melchior, venho do Oriente.
Felipe: Pode ser... 40, 41... Já tivemos alguma correspondência?
Melchior: Há muito tempo éramos amigos...
Felipe: Como é mesmo o seu nome? Melchior?... Sim, eu me lembro.  Faz muito tempo, não? Alegra-me ver-te. Como vai você? Você teve muita sorte em me encontrar. Lamentavelmente logo precisarei sair. 43, 44, 45... o que o traz aqui’
Melchior: Procuro o rei recém-nascido.
Felipe: Sim, sim, 46, 47, 48, 49... Não, você fala sério?  O que você faz aqui em Jerusalém?
Melchior: Procuro o novo rei dos judeus.
Felipe: Não faça brincadeiras...
Melchior: Não, nós vimos a sua estrela e estamos aqui para adorá-lo.
Felipe: Então, eu... 50, 51...
Melchior: Ainda não conseguimos encontrá-lo. Tu conheces Jerusalém.  Não ouviste nada a respeito!
Felipe: Ouvir? De que? Ah, sim, não!  Nada, 52, 53, 54... só sei que há muito movimento  devido ao recenseamento e é só. É uma loucura dos romanos. Todas as ruas estão entupidas. Bom, quem viaja muito sempre gasta alguma coisa e para mim isso já é positivo. 52, 53, 54, 55... Vou abrir três bazares: em Javá, em Belém e Hidron.
Melchior: E não houve nenhum comentário?
Felipe: Nenhum, pode estar certo. Nesta cidade não acontece nada sem que nós comerciantes não soubéssemos. Pois é, console-se, logo entraremos em negociações.
Melchior : Mas Felipe, quem está falando em negócios?  Não são negócios que me trazem a Jerusalém.
Felipe: Isso eu sei. Vocês do Oriente sempre começam dessa maneira: nos contam as mais variadas histórias . 56, 57... e depois nos passam a perna... este arroz é o melhor que há! Nenhum outro comerciante de Belém tem tantas qualidades como eu!
Melchior: Felipe, ouça-me, por favor. Em todos os recantos do mundo sabe-se que algo de novo virá, qualquer coisa, mas o quê? De onde? Por isso nós estamos em Jerusalém.
Felipe: Bem, aqui não se vive mal... 58, 59, 60, 61... muitas coisas mudaram nos últimos tempo, não é? Isso me orgulha! Você viu os meus jardins? Lindos, não?
Melchior: Sem dúvida. Isso é magnífico, mas...
Felipe: É, naturalmente isso não caiu do céu. Preguiçoso aqui não pode viver.  Além disso, faz-se muitas coisas para as pessoas que estão bem de vida.
Melchior: Em outros lugares se faz muito mais! Não é isso! Os nossos corações é que estão vazios e não as nossas mãos! Creia-me, procuramos o rei! Ajude-nos Felipe!
Felipe: 62, 63...
Judite: Felipe, Aman de Hidro está aí.
Felipe: Não estou em casa.
Judite: Mas ele sabe que você está.
Felipe: Não tenho tempo, preciso sair logo, além do que, tenho visitas, como você pode ver.
Judite: (A Melchior). Eu vi quando o senhor chegou. (A Felipe) Mas o que será de Aman? Você não pode mandá-lo embora...
Felipe: (Irritado) Não permito que minha esposa se meta nos meus negócios. Não tenho tempo, diga isso a Aman.
Judite: Bem, se você quer assim...(Sai)
Felipe: Horrível. Todos querem alguma coisa. Pois é, Melchior, gostaria muito de te ajudar. Realmente não faria mal se viesse outro rei. Talvez ele reduziria os impostos. Quanto imposto você acha que eu pago por esses 60 sacos de arroz?
Melchior: Você não me entende, Felipe. Você não recorda mais dos tempos que conhecíamos todos os filósofos gregos e romanos? ... Como falávamos que algo novo deveria vir, logo e que então nunca mais seria como o passado?
Felipe: Mas isso foi há muito tempo...
Aman: (aparece) Felipe...
Felipe: Aman, o que você quer? Você não ouviu que estou ocupado? Hoje não tenho tempo.
Aman: Só um momento. Eu preciso de dois sacos de arroz e um de farinha para esta semana.
Felipe: E isso precisa ser já?
Aman: Eu sempre vinha a esta hora.
Felipe: Eu tenho um hóspede...
Melchior: Eu vou.
Felipe: Fique. Ele deverá ir.
Aman: E aqui outro pedido...
Felipe: Não posso fornecer...
Aman: Não pode fornecer? Mas o depósito está cheio até em cima!
Felipe: Isso não é da sua conta...
Aman: Eu preciso de mercadoria. Do contrário vou perder a minha freguesia.
Felipe: Lamento muito. Além disso, eu mesmo vou abrir um mercado em Hidron.
Aman: Felipe!
Felipe: Venha, Melchior. Vamos ao jardim.
Aman: Isso não pode ser verdade!
Felipe: Você acha que eu minto?
Aman: Então nós estaremos perdidos!
Felipe: Lamento muito. Então você acha que eu vou esperar que outro faça isso em meu lugar?
Aman: Você, Felipe, exatamente você precisa fazer isso?
Felipe: Por que vocês não o fizeram, seus sábios comerciantes de Hidron?
Aman: Ninguém é tão rico como você!
Felipe: Rico? Preguiçosos é que vocês são. Preguiçosos. Pensaram em passar a vida sem fazer nada. Este tempo passou.
Aman: Eu... eu... (a Melchior) Senhor, eu... eu não o conheço, ... mas o senhor ouviu. Eu lhe peço: faça algo por mim. Eu tenho filhos.
Melchior: Se eu pudesse lhe ajudar...
Aman: Felipe, seu negócio já não é grande suficiente? Por que você quer aumentá-lo sempre mais? Sempre mais e mais? Tenha misericórdia, Felipe!
Felipe: E quem tem misericórdia de mim? Por acaso você está vendo estes sacos de arroz? Estes fardos de lã? Você acha que eu consegui isso sem mais nem menos?  Custaram-me muitos denários. De uma maneira ou outra eu preciso progredir antes que os outros acabem comigo.
Aman: Mas por que tudo isso? Por que?
Felipe: Porque é assim e assim que deve ser. Aqui não existe porquê!!!
Judite: (Entra) Felipe eu ouvi tudo...
Felipe: Isso não é da sua conta, portanto, não se meta.
Judite: Há muitos anos que Aman é seu amigo...
Aman: Durante 20 anos eu vinha semanalmente e comprava as mercadorias.
Judite: Vocês brincavam como crianças no pátio do templo. Os pais de vocês eram bons amigos...
Felipe: Nesse caso, não preciso ter amigos.  E nem posso. Amigos, amigos, negócios à parte. Onde se negocia, o sentimento e o coração precisam ficar de fora.
Aman: Não vou ficar quieto. Não! Vou gritar pelas ruas e anunciar que Felipe é assassino!
Felipe: (Sacudindo-o) Isso você não vai fazer. Você conhece o comerciante de Hidron.
Aman: Você também acabou com ele...
Felipe: Comprei a empresa dele. A este negócio pertencem algumas promissórias de Aman de Hidron. Eu seria capaz de rasgá-las.  Mas se você falar muito...
Aman: (Soltando-se) Faça o que você quiser... (Sai)
Judite: Felipe, não deixe que ele vá embora. Aman é seu melhor amigo.
Felipe: Ele é um palhaço. Não conhece os sinais dos tempos. Hoje em dia é preciso trabalhar com muito lucro para não ir à falência.
Judite: Melchior, peça-lhe para chamar Aman de volta.
Felipe: Isso eu não admito. Você também quer se intrometer nos meus negócios Melchior?
Melchior: Eu não disse nada...
Felipe: Eu quero dizer uma coisa, seu santo que fala de tempos passados, novos reis e outras coisas mais. Coma ou você será devorado. Sim, senhor. É assim mesmo. Sim, sim, já sei o que você... vai dizer...
Melchior: Não vou dizer nada.
Felipe: Vocês não precisam me censurar, exatamente vocês...
Melchior: Eu admiro você, Felipe.
Felipe: Por que?
Melchior: Você não tem medo de que alguém lhe apresente um recibo que não pode ser resgatado com arroz ou lã?
Felipe: Eu não fiz nada de ilegal. Ah,  o que estamos dizendo? Nem vale a pena pensar nisso. Felizmente também não há tempo. Bom, preciso ir.
Judite: Fique ,Felipe.
Felipe: Melchior fica. Vocês podem trocar idéias e renovar o mundo com os sonhos de vocês. Enquanto isso vou tratar dos meus negócios, pois precisamos viver.
Judite: Fique Felipe.
Felipe: Não posso, é importante, passem bem. (Sai)
Judite: Oh, é importante... (senta-se na cadeira de Felipe). É sempre tão importante que não resta tempo para conversarmos. Antigamente a casa estava sempre cheia de amigos, mas agora... (Apaga-se a luz. Quando acende, Baltazar encontra-se no palco).
Baltazar: Não deveríamos Ter ido aos comerciantes. Por isso vou tentar com os escribas. Eles são os professores do povo e conservam os livros. Se há realmente um novo rei, então eles devem conhecê-lo.
Tiago: Não, não, Simão, esse Jeobeão tem cada idéia...
Simão: Talvez, Tiago, mas cada um pensa o que quiser, pois é livre.
Tiago: Cá entre nós, Simão: diz-se que ele tem relações secretas com os persas.
Simão: Não ouvi falar nada, será que isso está provado?
Tiago: Simão, eu o admiro. Eu pensava que você fosse um dos nossos.
Simão: Naturalmente, eu só acho...
Tiago: Além de tudo ele quer assumir um posto na administração do nosso município.
Simão: Sim, você tem razão. Talvez seria bom falar com Jeobeão, se pudéssemos convencê-lo...
Tiago: Falar com ele por quê? Ele tem um mercado na estrada que vai para Javá ... deveríamos falar, mas com cuidado...
Simão: Deveríamos convencer nossos amigos a não comprarem mais no mercado dele. Vai ver como ele muda de idéia.
Tiago: Se você acha... (Baltazar entra)
Baltazar: Saúdo-vos irmãos!
Tiago: Seja abençoado.  Em todos os casos esse Jeobeão é um louco, precisamos fazer alguma coisa...
Baltazar: Eu vim procurar um novo rei...
Simão: De onde você vem?
Baltazar: Eu venho das terras do Eufrates e do Tigre. Eu procuro...
Tiago: Parece que há muita desordem por lá. Aqueles povos são dignos de compaixão. Então, satisfeito por estar aqui?
Simão: Há muita gente da terra de vocês aqui em Jerusalém.
Tiago: Tenha paciência, qualquer dia as coisas vão melhorar
Baltazar: Eu estou aqui para...
Simão: Muito justo. Não é uma maravilha a nossa Jerusalém?
Tiago: Uma cidade magnífica, não é? Vivemos felizes!
Baltazar: Isso eu sei... procuro...
Tiago: Você não sabe?
Simão: Que significa isso?
Tiago: Se você não gosta de nossa cidade, então vá morar em outro lugar, do outro lado do Jordão e alimente-se de mel silvestre.
Baltazar: Não é isso que eu procuro...
Simão: Auxílio. Nós compreendemos. Estamos dispostos a ajudar.., não é Tiago?
Tiago: Naturalmente, e com prazer. Exigimos apenas que você se submeta aos nossos conselhos.
Baltazar: Que significa isso? Eu vim porque procuro algo e vocês querem me comprar?
Tiago: Ouça só que ingratidão. A gente se prontifica a colaborar com estes miseráveis... Você deve compreender que nada podemos começar com pessoas que mais tarde seguem seu próprio caminho.
Baltazar: Ouçam-me, por favor. Eu vim procurar o novo rei. Nós vimos a sua estrela.
Tiago: Um novo rei?
Simão: Céus! Não sabemos de nada!
Tiago: E nós seríamos os primeiros a sabê-lo...
Baltazar: Nós lemos os livros de vocês e vocês também falam ali de um novo rei.
Simão: Sim, na escritura. Certamente você não entendeu o que leu.
Tiago: Você tomou tudo ao pé da letra...
Baltazar: Mas, é preciso tomar tudo ao pé da letra. Senão , não teria  nenhum sentido.
Tiago: Um problema interessante. Deveríamos escrever um livro sobre isso. Bem, caro amigo, nosso tempo está esgotado (Simão e Tiago levantam).
Simão: Precisamos ir à reunião.  Será feita uma crítica contra a violência.
Tiago: No outro lado do Jordão. Você compreende?  Mais tarde, talvez.
Baltazar: Nunca mais. Aqui eu não vou procurar o que eu procuro.  Disso eu tenho certeza. (Sai).
Tiago: Você não acha esquisita essa conversa de novo rei?
Simão: Pois é, quem procura novidades aqui em Jerusalém é suspeito. Vamos. (Apaga-se a luz. Quando acende, Gaspar encontra-se só no palco. Enquanto ele fala, Ruth senta-se no chão e brinca com uma bola).
Gaspar: O rico comerciante não sabia de nada. Os escribas muito menos ainda. Agora vou tentar com os miseráveis,  estes ao menos tem o coração no lugar certo. Os grandes não querem saber de muitas coisas, mas os pequenos tem compreensão para tudo.  Amon, o tecelão sabe o que se fala no tear e nas tabernas.  Aqui está a sua casa. Ele não está. Mas aqui está sua filha... está brincando... (Aproxima-se de Ruth e fala calmamente). Eu procuro seu pai, Amon, o tecelão. Sabes onde ele está?
Ruth: (Sem olhar para Gaspar) Não!
Gaspar: E sua mãe?
Ruth: Não!
Gaspar: E quando vão voltar? Sabe?
Ruth: Não. (Gaspar vira-se para ir embora). Eu sei onde estão.
Gaspar: Onde?
Ruth: Trabalhando.
Gaspar: Os dois?
Ruth: Sim, mamãe volta logo.
Gaspar: Vou esperar. Vamos brincar um pouco? (Senta-se no chão, abre os braços esperando a bola).
Ruth: Não!
Gaspar: Eu não vou te morder...
Ruth: Eu não brinco com você.
Gaspar: Por que não?
Ruth: Você não quer me levar?
Gaspar: Eu? Levar? Quem foi que lhe disse isso’
Ruth: Quando não me comporto, mamãe sempre me diz que um negro vai me levar.
Gaspar: Dizem isso na sua casa? Não, eu não quero levar você. Quero só brincar.
Ruth: Você é do circo? (Joga-lhe a bola)
Gaspar: Não, eu não sou do circo.
Ruth: Você não mora na selva com as feras?
Gaspar: Mas quem lhe contou tudo isso?
Ruth: Mamãe!
Gaspar: Moramos em cidades como vocês. Usamos as mesmas roupas.
Ruth: Lá todos são pretos?
Gaspar: Sim, isso sim.
Ruth: Só os maus são pretos?
Gaspar: Eu sou mau?
Ruth: Não! Lá não há feras que comem a gente?
Gaspar: Há sim, mas não nas cidades. Somente longe, fora da cidade.
Ruth: (Aproximando-se de Gaspar) Que animais?
Gaspar: Bem, que animais? Há, por exemplo, o leão. Você conhece?
Ruth: Não.
Gaspar: Ele tem uma juba, como as crianças que não querem cortar o cabelo.
Ruth: Ah...
Gaspar: Quando tem fome ele ruge.
Ruth: E quando não tem fome?
Gaspar: Daí, naturalmente, não.
Ruth: O que tem mais?
Gaspar: A girafa que tem pescoço comprido.
Ruth: Mais, mais...
Gaspar: Tem o elefante que tem uma longa tromba. Tem o crocodilo que mora na água...(Não notam que a mãe de Ruth entra)
Senhora: Ruth!
Ruth: Mãe!
Senhora: Venha imediatamente!
Ruth: Ele está contando histórias!
Senhora: (Toma Ruth pelo braço para levá-la embora. Gaspar levanta). Você não pode Obedecer? (Vira-se para Gaspar). Pelo menos respeite os filhos dos outros...
Gaspar: Estou à espera de Amon, o tecelão e ...
Senhora: Então espera em vão...
Gaspar: Talvez ele pudesse me ajudar. Eu procuro...
Senhora: Ele não está.
Gaspar: Vou esperar...
Senhora: Como quiser. Mas não na minha casa. Além disso, eu não sei o que o senhor tem a ver com meu marido. (A Ruth) E fique sabendo, Ruth, eu não quero que você fale com quem não conhece. Vamos lá, lavar suas mãos!
Ruth: Minha bola... (Gaspar lhe entrega a bola.  Apaga-se a luz. Quando acende, volta a cena da hospedaria).
Melchior: Então, o que mais você encontrou?
Baltazar: Nada.
Pastor: Deus vos abençoe, senhores.
Baltazar: Você chegou em boa hora, velho. Agora mostre a saída, o mais depressa possível, certo?
Pastor: Encontraram o que estavam procurando?
Baltazar: Não!
Gaspar: E não vamos procurar mais...Desistimos.
Pastor: Onde vocês procuraram? Nas ruas iluminadas? Nos palácios? Vocês tem que procurar nos arredores.
Gaspar: Não vamos mais dar nenhum passo, velho.
Melchior: Falsos reis, desses achamos um monte.
Pastor: Pastoreio minhas ovelhas nos campos de Belém...
Baltazar: Chega, esta história você já contou uma vez!
Pastor: Posso mostrar o caminho que estão procurando.
Baltazar: Não dêem atenção ao velho...
Pastor:  Um anjo veio e me levou...
Baltazar: Chega e cala a boca. Não acreditem no que ele está dizendo. Não quero ser enganado pela Segunda vez.
Gaspar: Vem, Melchior, nós achamos a saída sem a ajuda de ninguém.
Melchior: Deixem ele falar. Quero ouvir o que ele tem a dizer. (O guarda aparece)
Guarda: Alto! Vocês são os três do Oriente?
Gaspar: Somos nós, sim, e já estamos voltando para lá.
Guarda: Comuniquei a Herodes o que querem aqui, que estão procurando um recém-nascido.
Baltazar: Foi um engano, realmente um engano.
Guarda: Herodes deseja conhecê-los. Ele quer que comuniquem a ele assim que acharem o recém-nascido.
Baltazar: Pode falar ao seu rei que pode ficar tranqüilo.  Nada de novo aconteceu em Jerusalém.
Gaspar: Vamos.
Melchior: Muito interessante.
Baltazar: O quê?
Melchior: Herodes crê que poderia ser realmente verdade, senão não teria mandado o guarda.
Pastor: Venham comigo senhores.
Melchior: Para onde nos levas?
Pastor: É uma casa pobre. Uma estrebaria. Uma manjedoura.
Baltazar: Que consideração! Aqui mora-se em palácios, um maior que o outro. E o rei numa estrebaria? Nunca, nunca, Melchior. Você não vê que ele está nos enganando?
Pastor: É um caminho penoso...
Gaspar: A estrela... a estrela apareceu  novamente!
Baltazar: Sim!    
Gaspar: Exatamente quando o velho falou da manjedoura, ela apareceu.
Melchior: Este é o sinal. Mostra-nos o caminho!
Gaspar: Vamos tentar mais uma vez.
Melchior: Vamos Baltazar, vamos seguir o Pastor. Eu acho que agora encontramos o caminho certo. (Tiago e Simão aparecem).
Simão: Ouviu? Acharam o que procuravam. Eu acho que deveríamos acompanhá-lo. Um novo rei, quem sabe...
Tiago: Bobagem. Nada disso foi afixado nos muros do palácio real, portanto, nada aconteceu. (Senta-se. Aparecem o comerciante e o hospedeiro)
Hospedeiro: Já querem partir, senhores? Que tal uma merenda? Uma garrafa de vinho? Pão?...
Melchior: Não precisamos.
Comerciante: Comprem lembranças de Jerusalém... tecidos... braceletes...
Gaspar: Era o que faltava...
Baltazar: A cada passo que damos, já vem alguém propondo negócios.
Melchior: Vamos, antes que seja tarde. (Comerciante e hospedeiro ficam parados. Felipe vem.)
Felipe: Melchior, espere, estou à sua procura...
Melchior: Você? À minha procura?
Felipe: Ontem estava irritado. Não podemos nos separar assim.
Melchior: Vamos!
Felipe: Estão me acusando. Dizem que eu matei. Mas, você viu? Ele não queria negociar, você viu?
Melchior: Aman está morto?
Felipe: Ontem, quando ia para casa. Não se sabe como. Eu não sou o culpado. Se eu não tivesse feito, outro faria. Não posso renovar o mundo enquanto outros não...
Melchior:  Então espere até o juízo final.
Felipe: Para onde vocês vão?
Melchior: Estamos a caminho daquele que procurávamos.
Felipe:  Então é verdade aquilo que você disse?
Melchior: Sim!
Felipe: Levem-me junto.
Melchior: Venha.
Felipe: É longe?
Melchior: Provavelmente.
Felipe: Espere um  pouco, tenho que trocar de sapatos.
Baltazar: Vamos indo...
Felipe: Vamos amanhã, já está escurecendo...
Gaspar: Tanto mais brilhará nossa estrela.
Felipe: Esperem. Não posso ir agora. O que farão os meus empregados sem mim? Esperem até amanhã, acharei alguém para assumir os meus negócios...
Melchior: Não, nós vamos agora!
Felipe: Amanhã é outro dia...
Gaspar: Nós vamos agora!
Felipe: Amanhã...
Baltazar: Estamos perdendo tempo... Vamos!
Melchior: Velho, mostre-nos o caminho.
Pastor: O caminho é longo e penoso. ( Os três saem com o Pastor indo à frente. Os outros levantam e olham. O locutor fala enquanto os outros desaparecem pelos fundos:).
Locutor: E a estrela que viram no Oriente novamente os guiou até chegarem à estrebaria onde estava a criança.  Com os corações cheios de júbilo, entraram na estrebaria e encontraram a criança ali, com Maria. E Deus lhes ordenou, através de um sonho, que não mais voltassem à Jerusalém. E, por outro caminho, voltaram à sua terra, anunciando os grandes feitos de Deus. (Apaga-se a luz).